
04/12/2025
Quando uma forte tempestade atingiu a região, em outubro de 2022, os moradores da comunidade flutuante de Schoonschip, na capital holandesa, Amsterdã, estavam certos de que poderiam resistir.
Eles amarraram suas bicicletas e bancos, asseguraram que todos tivessem água e comida suficiente e se refugiaram. Enquanto isso, o bairro subia e descia pelos seus pilares de aço, se elevando com a água e descendo até a sua posição original, quando a chuva diminuiu.
"Nós nos sentimos mais seguros durante a tempestade porque flutuamos", conta a produtora de TV holandesa Siti Boelen, que se mudou para Schoonschip há dois anos. "Para mim, é estranho que construir sobre a água não seja uma prioridade mundial."
À medida que o nível do mar aumenta e tempestades mais intensas causam inundações, os bairros flutuantes oferecem um experimento de defesa contra cheias que poderia permitir às comunidades litorâneas resistir melhor às mudanças climáticas.
Na Holanda, com sua escassez de terras e grande densidade populacional, a demanda por este tipo de moradia está aumentando.
E, à medida que cada vez mais pessoas procuram construir sobre a água, as autoridades trabalham para atualizar as leis de zoneamento e facilitar a construção de moradias flutuantes.
"O município quer ampliar o conceito de moradias flutuantes, por se tratar de uso multifuncional do espaço para habitação e porque a sustentabilidade é o caminho a seguir", afirma a vereadora de Amsterdã Nienke van Renssen, do partido Verde-Esquerda.
As comunidades flutuantes que surgiram na Holanda na última década serviram de teste para projetos em escala maior que, agora, os engenheiros holandeses estão espalhando pelo mundo.
Estes projetos não se limitam a países europeus, como o Reino Unido, a França e a Noruega. Eles também estão presentes na Polinésia Francesa e nas ilhas Maldivas, uma nação do oceano Índico onde o aumento do nível do mar representa uma ameaça à sua própria existência.
Existe até mesmo uma proposta de construção de ilhas flutuantes no mar Báltico, onde seriam erguidas pequenas cidades.
Uma casa flutuante pode ser construída em qualquer região litorânea. Ela é capaz de resistir ao aumento do nível do mar ou às inundações provocadas pela chuva, permanecendo sobre a superfície da água.
Diferentemente das casas-barco, que podem ser facilmente desamarradas e reposicionadas, as casas flutuantes são fixadas à orla, frequentemente sobre postes de aço, e costumam ser conectadas ao sistema de saneamento e à rede elétrica local.
Sua estrutura é similar às casas construídas em terra, mas, em vez de porão, elas têm um casco de concreto que atua como contrapeso, permitindo que elas permaneçam estáveis na água.
Na Holanda, as casas costumam ter formato quadrado e três andares. Elas são pré-fabricadas, ou seja, construídas em outro lugar com materiais convencionais, como madeira, aço e vidro.
Para as cidades que enfrentam o agravamento das inundações e a escassez de terrenos para construção, as casas flutuantes oferecem a possibilidade de expandir as moradias urbanas, na era das mudanças climáticas.
Koen Olthuis fundou, em 2003, o escritório de arquitetura holandês Waterstudio, dedicado exclusivamente às construções flutuantes. Ele afirma que a natureza relativamente simples das casas flutuantes pode ser sua maior vantagem.
As casas projetadas pelo seu escritório ficam estáveis devido aos postes que são enterrados até cerca de 65 metros de profundidade. Eles são equipados com materiais que absorvem os impactos, para reduzir a sensação de movimento das ondas próximas.
As casas sobem quando aumenta o nível da água e descem quando ela baixa. Mas, apesar da sua aparente simplicidade, Olthuis defende que o sistema tem o potencial de transformar as cidades de forma nunca vista desde a invenção do elevador, que impulsionou os horizontes para cima.
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