
09/12/2025
Um novo mural na Vila Madalena, bairro da zona oeste da capital paulista, convida a cidade a abrir seus rios confinados sob o asfalto. Usando tinta capaz de purificar o ar, a obra dos artistas Yara Amaral Gurgel e Cauê Freitas busca devolver visibilidade às águas e à vida que ainda correm escondidos.
A intervenção pode ser vista no muro da Escola Municipal Olavo Pezzotti, localizada na Vila Madalena — bairro símbolo da arte de rua paulistana e que também abarca a bacia hidrográfica do córrego das Corujas.
Intitulado “Abram os Rios”, o mural integra o Museu de Arte de Rua (MAR), da Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa.
Yara e Cauê acumulam mais de duas décadas dedicadas ao muralismo, reconhecidos por transformar a paisagem paulistana em território de diálogo entre arte, natureza e resistência. Yara é artista visual, muralista, mestra em Novo Muralismo pelo MAC-USP e artivista ambiental, cuja pesquisa cruza memória, território e ecologia. Cauê, grafiteiro desde 2003, tem obras em pontos emblemáticos de São Paulo e trajetória marcada pela cultura de rua que redefiniu a estética urbana da capital. Juntos, integram a geração que consolidou o muralismo paulistano, atuando em projetos, mutirões, instituições culturais e espaços públicos que influenciaram e formaram novas gerações de artistas.
“O objetivo maior do projeto é que realmente se abra os rios. Que São Paulo venha a ser uma cidade esponja, com seus cursos d’água, encostas, matas ciliares e parques lineares. A cidade foi construída sobre os rios — e sofre por ter virado as costas para eles. ‘Abram os Rios’ é uma oração visual, um pedido para que São Paulo volte a respirar”, diz Yara Amaral Gurgel, artista e idealizadora do projeto.
Além do mural, os artistas conduzem palestras e oficinas com estudantes em parceria com o MDV do Grande ABC (Movimento em Defesa da Vida), organização com mais de 40 anos de atuação em educação ambiental. As atividades integram o projeto Travessia das Águas, desenvolvido pelo MDV e patrocinado em parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica, que promove vivências sobre os rios da região — o das Corujas e o Verde. A ação busca unir arte, educação ambiental e consciência coletiva em torno do território.
No mural, a figura da sereia Yara, da mitologia tupi-guarani, se une ao dragão oriental, símbolo de sabedoria e guardião das águas. Juntos, formam um encontro de forças opostas e complementares — o feminino e o masculino, o mito e a cidade, o imaginário ancestral e a urgência contemporânea.
A composição é acompanhada por plantas nativas da Mata Atlântica e espécies tropicais, que emergem em torno da sereia Yara, simbolizando regeneração e vida. Ao lado do dragão, flores de cerejeira (sakuras) representam a passagem do tempo e a renovação. A paleta de cores é inspirada no yin e yang, com tons branco e preto que expressam o equilíbrio entre opostos, e detalhes em dourado que destacam a água e as plantas, evocando o fluxo e a energia vital.
“Quando penso no dragão, lembro do Shiryu, dos Cavaleiros do Zodíaco — aquele personagem que tinha o dragão tatuado nas costas, símbolo de força e sabedoria. Esse desenho sempre me acompanhou. No projeto, ele representa a energia que protege e desperta o rio”, conta Cauê Freitas.
Além do mural, o projeto também conta com bonecos interativos — os chamados “brinquedões” — inspirados nas figuras da sereia Yara e do dragão, confeccionados pelos aprendizes da escola. Os bonecos, nos quais os jovens poderão entrar e brincar, permanecerão na escola como parte do espaço lúdico dos intervalos. A confecção será guiada pela artista Célia Regina, mãe de Cauê, que fará a contação das histórias das mitologias que inspiram os personagens, aproximando os estudantes do imaginário simbólico do projeto.
A criação de Yara e Cauê tem origem também na ideia de “terrorismo poético” — conceito de Hakim Bey para ações simbólicas que abalam o imaginário e reencantam o mundo. O mural é um ato de radicalização poética: pintar é respirar, insurgir, devolver vida ao que foi confinado.
O mural utiliza a tinta fotocatalítica AmbientPro+, da Graphenstone, formulada à base de cal e capaz de purificar o ar. Seu mecanismo é duplo: primeiro, realiza o sequestro de dióxido de carbono (CO₂) por meio da reação de carbonatação, transformando o CO₂ atmosférico em carbonato de cálcio (CaCO₃) e água (H₂O). Depois, por meio da fotocatálise ativada pela luz, oxida poluentes como óxidos de nitrogênio (NOx) e compostos orgânicos voláteis (VOCs), convertendo-os em substâncias menos nocivas. Cada metro quadrado pintado pode equivaler à purificação feita por até vinte árvores, transformando a parede em agente ativo de descontaminação.
“Quando um mural nasce, o entorno se transforma junto. Acreditamos que a arte, quando se mistura com a natureza, tem força de transformação — ela desperta um pertencimento que a cidade precisa reencontrar”, conclui Cauê.
Fonte: CicloVivo
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