
25/11/2025
Milhares de peixes apareceram mortos na Lagoa de Piratininga semana passada, cobrindo a beira da bacia e gerando um forte mau odor capaz de ser sentido já na saída do Túnel Charitas-Cafubá. A equipe do GLOBO-Niterói esteve no local na última quarta-feira (19) e flagrou o problema, que, segundo moradores, é recorrente.
— Já senti cheiro ruim de esgoto outras vezes, mas com a morte dos peixes está insuportável, 24 horas do dia sentindo esse odor extremamente forte que invade as nossas casas — relatou Vagner Mariano, que mora bem próximo à lagoa.
Um morador do Cafubá, que não quis se identificar, contou que o cheiro ruim começou no último fim de semana:
— O fedor estava muito forte, hoje (quarta-feira) ainda tem mau cheiro, dá para sentir na minha casa. Eu moro bem perto da lagoa, então na segunda-feira já vi os peixes mortos. Não é a primeira vez que vejo uma cena como esta.
Arthur Rodrigues e Renata Valério, que moram no Cafubá desde 2005, lamentaram o processo de degradação que a lagoa vem sofrendo nos últimos anos.
— Antigamente ali era um canal aberto, e não tinha tanto despejo de esgoto. Aí fizeram obras que só prejudicaram mais a região, e a qualidade da água está ficando cada vez pior. Dá para perceber isso por conta do assoreamento. Antes você mergulhava na lagoa; hoje, a água não passa do joelho — disse Rodrigues.
O oceanógrafo e professor da UFF Júlio César Wasserman, que estuda a Lagoa de Piratininga desde 1990, explica que a mortandade dos peixes e o mau odor são sinais de uma péssima qualidade da água.
— A eutroficação é um desequilíbrio ecológico que provoca florações de microalgas descontroladas, muitas das quais tóxicas. Embora eu não tenha feito qualquer análise, este processo parece ser o responsável pelas mortandades. Já o odor ruim pode ser o apodrecimento dos peixes ou a geração de gás sulfídrico, o qual provoca uma forte anoxia (ausência de oxigênio) na água — explica o professor.
Segundo Wasserman, há no sedimento da lagoa um depósito de elementos que são responsáveis pela eutroficação.
— Esta contaminação do sedimento é o resultado de muitos anos de ocupação do entorno da lagoa e de despejo de esgoto. No cenário atual, mesmo que o esgoto seja drasticamente reduzido, o que não está sendo feito também, o sedimento continuaria agindo na água — pontua.
A prefeitura de Niterói afirma que a gestão de lagoas é responsabilidade do governo estadual e diz que a obra do túnel do Tibau, iniciada em 2005 e que desmoronou parcialmente em 2019, foi mal executada pelo estado.
“A prefeitura decidiu planejar e contratar a obra de reparo que resolveria o problema de forma definitiva através da renovação e circulação eficientes das águas do sistema lagunar. Contudo, após a contratação da obra, que já poderia ter sido iniciada, a Secretaria Estadual do Ambiente e o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) não concluíram a concessão de uma licença para execução”, disse a prefeitura, em nota.
Com relação ao despejo de esgoto na lagoa, o município afirma que identifica vazamentos e despejos irregulares de esgoto, evitando que resíduos sejam despejados nos rios, nas lagoas e no mar.
Já o Inea informou que equipes técnicas realizaram a coleta e a análise de água na lagoa, constatando uma grande mortandade de peixes. Disse ainda que já notificou a empresa contratada pelo município (para a obra de reparo) solicitando que desse continuidade ao processo de licenciamento e que aguarda o envio de documentos, assim como o projeto executivo atualizado e o Plano Básico Ambiental.
No entanto, o especialista da UFF indica que somente a circulação hídrica não bastaria para resolver o problema;
— Fala-se muito em conexão com o mar, mas fazer uma conexão aberta não é possível nesta lagoa, pois se isto ocorresse quase toda a água vazaria para o mar na maré baixa, e a lagoa acabaria. Já propus plantios de macroalgas na lagoa, que promoveriam uma rápida purificação do ecossistema local. Junto com alunos realizamos simulações, mas sem recursos é difícil avançar.
Fonte: O Globo
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