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Bioeletricidade ganha força como aliada do Brasil na seca

25/11/2025

A bioeletricidade produzida a partir do bagaço de cana-de-açúcar vem ganhando espaço como alternativa para diversificar a matriz elétrica brasileira e reduzir a dependência das hidrelétricas, altamente sensíveis à variação do regime de chuvas. Na estação seca, quando os reservatórios caem a níveis críticos e a geração hidrelétrica diminui, a energia da cana passa a suprir o sistema nacional, garantindo estabilidade. A fonte também tem a vantagem de concentrar sua produção no período noturno, complementando a energia solar fotovoltaica, cujo pico ocorre de dia e que, em alguns casos, enfrenta restrições de injeção na rede.
Um estudo publicado na revista Renewable Energy aponta que a bioeletricidade da cana apresenta uma pegada de carbono de cerca de 0,227 kg de CO₂ equivalente por kWh — valor muito inferior ao das termelétricas a diesel, que podem chegar a 1,06 kg de CO₂ equivalente por kWh. Embora essas emissões possam ser mensuradas, elas não acrescentam carbono novo à atmosfera. Isso porque a cana funciona como um “filtro natural”: absorve CO₂ na fotossíntese, transforma-o em biomassa e, na queima do bagaço, libera apenas uma pequena fração do carbono previamente capturado. Enquanto isso, novas plantações já crescem e reiniciam o ciclo de absorção.
Com isso, a bioeletricidade do bagaço se consolida como uma fonte renovável de baixíssimo impacto e baseada em um resíduo já disponível da produção de açúcar e etanol. “Tudo isso lhe dá um seu papel estratégico para a segurança energética e para a transição rumo a um sistema mais sustentável e equilibrado”, afirma Vinicius Bufon, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente (SP).
Mas o novo estudo internacional, conduzido pela organização em parceria com a Universidade das Nações Unidas e a Universidade de Bonn, alerta que essa fonte estratégica enfrenta riscos importantes. A pesquisa analisou como secas severas influenciam a geração de bioeletricidade e mostrou que seu desempenho depende da interação complexa entre fatores agrícolas, industriais e climáticos.

O estudo destaca que, apesar do potencial, a bioeletricidade da cana ainda é vulnerável a gargalos estruturais que podem comprometer seu papel justamente quando é mais necessária. Entre os principais entraves estão:

* escassez de barragens para captar e armazenar água da chuva, resultado da falta de linhas de crédito e das dificuldades de licenciamento ambiental;
* baixo investimento em irrigação nos canaviais, aumentando a dependência das chuvas em regiões sujeitas à variabilidade climática;
* fragilidade dos seguros agrícolas contra seca, que não refletem os riscos reais dos produtores;
* ausência de sistemas robustos de alerta precoce para antecipar cenários críticos.

Essas fragilidades reforçam, segundo Bufon, a importância de políticas públicas mais fortes e de investimentos articulados entre as dimensões tecnológica, ecológica e social do setor. “A bioeletricidade da cana tem um papel único porque a sua produção coincide exatamente com o período de estiagem, quando a geração hidrelétrica cai. Mas, para mantermos essa contribuição estável, precisamos enfrentar as fragilidades estruturais e institucionais que ainda limitam o setor”, afirma.
A pesquisa também apresenta caminhos para reforçar a resiliência do setor sucroenergético, como ampliar a irrigação em áreas estratégicas, modernizar e digitalizar sistemas já existentes, aprimorar o manejo hídrico integrado e fortalecer incentivos públicos que apoiem produtores e indústrias. Bufon destaca que muitas dessas soluções já estão em desenvolvimento na Embrapa. “Nosso foco é contribuir para uma agricultura climaticamente inteligente, que não apenas aumente a produtividade, mas também fortaleça a capacidade de adaptação às mudanças climáticas e contribua para a redução das emissões de gases de efeito estufa”, diz.
As soluções propostas se alinham ao conceito de Agricultura Climaticamente Inteligente, que busca elevar a produtividade agrícola de maneira sustentável, fortalecer a resiliência dos sistemas produtivos e reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Nesse sentido, a bioeletricidade da cana conecta energia, sustentabilidade e segurança alimentar ao utilizar resíduos agrícolas como matéria-prima, contribuindo para a economia circular e fortalecendo a bioeconomia.
O estudo mostra que, embora os desafios sejam expressivos, as oportunidades são ainda maiores. Como um dos maiores produtores de cana do mundo, o Brasil tem vantagens únicas para transformar a bioeletricidade em um pilar da matriz energética. O avanço dependerá de investimentos contínuos em tecnologia, infraestrutura e políticas integradas de longo prazo.
Para Bufon, o setor sucroenergético pode desempenhar papel central não apenas na oferta de energia, mas na transição para uma economia de baixo carbono. “Se conseguirmos fortalecer a resiliência da bioeletricidade, estaremos dando um passo importante para garantir a segurança energética do País e para cumprir os compromissos internacionais de mitigação climática”, conclui.
A pesquisa integrou o doutorado de Jasmim Zevallos e contou com a participação de Zita Sebesvari, da Universidade das Nações Unidas (Alemanha), e Jakob Rhyner, da Universidade de Bonn. Os resultados foram publicados na revista Environmental Advances (Elsevier).

Fonte: CicloVivo

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