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Crédito de carbono chega às cidades pelas mãos de catadores

18/11/2025

Nos últimos anos, o crédito de carbono se tornou o principal instrumento de financiamento climático do planeta. Bilhões de dólares estão sendo movimentados para compensar emissões e apoiar projetos ambientais em todo o mundo. Mas, à medida que o mercado amadurece, cresce também a desconfiança: afinal, todos os créditos de carbono são realmente iguais?
Durante décadas, os créditos florestais dominaram o debate. Eles prometem capturar o carbono atmosférico por meio do reflorestamento e da conservação de áreas nativas. A ideia é poderosa, mas a execução está longe de ser simples. Uma floresta leva anos para crescer e capturar o CO₂ prometido — e, nesse meio tempo, o crédito já foi emitido, vendido e contabilizado. Se vier uma queimada, uma seca ou a simples mudança de uso do solo, tudo pode se perder. O crédito deixa de representar uma compensação real e vira uma promessa frustrada.
Estudos recentes mostram que esse problema não é exceção. Pesquisas publicadas em revistas como Nature Climate Change e Carbon Balance and Management revelam que boa parte dos projetos florestais superestima o carbono efetivamente removido. Muitos não conseguem comprovar adicionalidade — ou seja, a garantia de que o benefício climático só ocorreu porque o projeto existiu. Em outras palavras, parte significativa dos créditos florestais pode não representar reduções reais de emissões.
Enquanto isso, um novo tipo de crédito começa a ganhar espaço — e ele nasce não das florestas, mas das cidades. Trata-se do crédito de carbono da reciclagem, um instrumento baseado em ações concretas de economia circular. Aqui, não há promessa futura: o impacto é imediato. Cada quilo de vidro, alumínio ou plástico coletado e reinserido na cadeia produtiva evita a extração de matéria-prima virgem, reduz o consumo de energia e impede a emissão de gases de efeito estufa.
Diferente das árvores, o vidro não pega fogo. O material reciclado não “desaparece” nem depende de ciclos naturais para cumprir seu papel. O resultado é permanente, verificável e rastreável. Com tecnologias de blockchain, balanças digitais e QR codes, é possível acompanhar cada etapa — do catador à indústria — e garantir a integridade do dado. Essa rastreabilidade total reduz incertezas e eleva o padrão de confiança.
Além disso, a reciclagem gera impacto social direto. Ao remunerar catadores de forma justa, eliminar intermediários e formalizar a cadeia, o crédito da reciclagem transforma o que antes era invisível em valor mensurável. O resultado é duplo: ambiental e humano. É o carbono que se mede em toneladas, mas também em dignidade.
Essa combinação de impacto imediato, rastreabilidade e inclusão está redefinindo a forma como o mercado enxerga o valor de um crédito.
Plataformas internacionais como o Integrity Council for the Voluntary Carbon Market e o Gold Standard já reconhecem que projetos baseados em resultados físicos e verificáveis tendem a valer mais — tanto pelo menor risco climático quanto pela reputação mais sólida.
Enquanto créditos florestais de baixa integridade ainda são negociados a US$ 5 ou US$ 10 por tonelada, os créditos derivados de ações comprováveis, como reciclagem e energia limpa, já alcançam valores entre US$ 30 e US$ 60. E essa diferença tende a crescer à medida que empresas e fundos buscam ativos de maior transparência e credibilidade.
O mercado de carbono está migrando da promessa para a prova. E, nesse novo cenário, a reciclagem se destaca como uma solução concreta e escalável. Cada estação de coleta, cada catador formalizado e cada tonelada de material desviada de um aterro representam um dado real, um impacto imediato e uma redução que pode ser verificada e precificada.
Em um mundo que clama por soluções tangíveis e mensuráveis, o crédito da reciclagem surge não apenas como uma inovação, mas como uma correção de rumo. Ele devolve integridade a um mercado que, por muito tempo, apostou mais em estimativas do que em evidências. E mostra que a verdadeira revolução climática pode começar justamente com aquilo que jogamos fora — quando cada resíduo passa a ser enxergado como oportunidade de impacto positivo e transformação social.
Talvez, no futuro próximo, olhemos para trás e percebamos que o crédito mais valioso não veio das copas das árvores, mas das mãos dos catadores.

Fonte: CicloVivo

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