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O que a arte pode fazer pela COP e pela urgência climática?

18/11/2025

Até parece que são dois mundos diferentes: aquele, na COP30, onde as pessoas discutem o destino de um planeta em colapso e este, aqui em volta, onde as pessoas caminham maquinalmente para o trabalho como se não vivessem sob as mesmas ameaças.
Como é possível fazer a conexão entre esses dois mundos? Um dos caminhos: pela arte. Num contexto climático complexo, que envolve uma vastidão de biomas, desdobramentos distintos e milhares de estudos e planilhas, a arte tem o poder de traduzir, em poucas imagens, o indizível.
Mais do que isso: ao contrário de outras abordagens, maçantes por natureza, a arte tem a capacidade de emocionar e, com sorte, até transformar a comoção na ação necessária para conter o que vem por aí, seja através da mudança de postura, de voto ou até da presença nas ruas.
Nesta COP, não vi nada que tenha fisgado mais rapidamente a minha atenção do que a obra "Mayday Mayday Mayday", de Berna Reale. Numa videoperformance, a artista, vestida de palhaço, cruza rios amazônicos com um barco carregado de garrafas PET, que invadem as águas como um tapete de lixo. O palhaço "dá braçadas" no plástico, ao som de uma música de alerta, nos lembrando que o planeta está se afogando em polímeros, derivados do petróleo —um dos maiores responsáveis pelo aquecimento, especialmente quando ligado ao transporte.
De tudo ao que assisti presencialmente nos últimos anos, nada me impactou tanto para a crise do clima quanto um balé em que não foi usada uma única fala. Em "Totentanz", a companhia La Veronal simula uma espécie de dança da morte num mundo apocalíptico, em que bailarinos combalidos carregam uns aos outros contra um fundo que combina imagens frenéticas de Trump, poluição, frangos e pintinhos em produção industrial, aterros cheios roupas, guerras —conflitos são grandes emissores de carbono—, entre outros ícones do Capitaloceno.
Mas nem só de distopia vive a arte. Numa crise que também é uma crise de linguagem e de imaginação, a arte pode conceber utopias, imaginando mundos possíveis para evitar o provável. Além disso, pode conceber novas estéticas e também narrativas que aproximem essa questão do cotidiano das pessoas.
Em "Pulmões", um ecodrama encenado em Lisboa, um casal confinado em um apartamento discute se vale a pena ou não ter um filho com todas essas perspectivas, e acaba por tê-lo.
No romance "Orbital", vencedor do Booker Prize, temos a chance de ver o planeta sob a ótica de astronautas durante uma missão. O que eles enxergam lá de cima não é agradável: florescimento de algas vermelhas e neon no Atlântico poluído, calotas polares encolhidas, rios distorcidos pelas cheias, geometrias de lagos que evaporaram, contornos litorâneos alterados. "Como estamos escrevendo o futuro da humanidade?", um astronauta indaga a outro. "Com as canetas douradas dos bilionários."
E esta COP, com que caneta estamos escrevendo? Espero que não seja com a dos lobistas do petróleo. A instalação "Políticos Debatendo a Crise do Clima", de Isaac Cordal, exibida na França, em 2015, mostra um grupo de engravatados discutindo com água até o pescoço. Que nesta COP a arte seja um alerta e não um prenúncio daquilo que, de novo e estupidamente, os governos podem deixar de fazer.

Fonte: Folha de S. Paulo

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