
01/07/2025
Nos últimos 50 anos, a amazônia sofreu uma perda de áreas nativas de quase 17%, sendo 14% destas decorrentes da conversão em terras agrícolas. Essa perda ameaça a biodiversidade e a resiliência dos ecossistemas naturais, diminuindo a qualidade dos habitats para as espécies, alterando as interações ecológicas e, consequentemente, impactando negativamente nos serviços ecossistêmicos.
As alterações do clima e a perda de habitat podem influenciar a estrutura, a dinâmica e o funcionamento dos ecossistemas, alterando a distribuição das espécies. Esses riscos são ainda mais intensos para grupos mais sensíveis, como as aves e os primatas, que são reconhecidos com excelentes modelos biológicos e bioindicadores da qualidade de habitats.
Além de sua importância na realização de serviços ecossistêmicos (tais como a dispersão de sementes e polinização), esses animais possuem uma elevada diversidade de espécies. Essa diversidade engloba tanto espécies generalistas e tolerantes às atividades humanas quanto espécies com especificidades de nicho e limitadas a determinadas condições do ambiente (geralmente relacionadas a áreas mais florestadas e com poucas alterações antrópicas).
Em virtude desse conjunto de características, estas espécies mais sensíveis aos impactos vêm sofrendo com diminuições em suas áreas de distribuição devido à fragmentação, perda de habitat e a exposição às anomalias climáticas que, na maioria das vezes, resultam em um clima mais quente e com menor precipitação.
Com o desaparecimento dessas espécies, os serviços ecossistêmicos realizados por elas irão desaparecer, colocando em risco muito mais espécies e até mesmo a sobrevivência humana.
Para entender como as mudanças climáticas podem afetar as aves e primatas da amazônia, nossos estudos preveem onde essas espécies podem viver no futuro. Utilizamos uma metodologia chamada modelagem de distribuição de espécies, que funciona como um mapa inteligente que combina informações sobre onde essas espécies vivem hoje com dados sobre o clima presente, utilizando métricas como temperatura e intensidade das chuvas. Com essas informações, são identificadas quais áreas são adequadas para sua sobrevivência.
A partir dos dados, criamos cenários para a situação presente e para um cenário futuro, considerando duas condições para as mudanças no clima previstas para as próximas décadas. Utilizamos os cenários futuros criados no Sexto Relatório de Avaliação do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas).
O primeiro cenário é o mais otimista e considera uma emissão mais controlada de gases do efeito estufa, pressupondo um desenvolvimento sustentável equilibrado, com a implementação gradual de políticas de redução de emissões. É o cenário SSP245 do IPCC. O segundo cenário (SSP585) é mais pessimista e considera uma emissão descontrolada de gases do efeito estufa, com a temperatura global atingindo níveis críticos até o final do século.
Utilizamos informações biológicas da distribuição de 43 táxons (grupos de organismos com características comuns) de aves endêmicas e ameaçadas da Amazônia e 35 táxons de primatas brasileiros ameaçados de extinção. Infelizmente, os padrões e predições que encontramos são extremamente preocupantes e a sobrevivência e persistência dessas espécies estão muito ameaçadas.
No cenário mais otimista, 29 espécies de aves podem perder mais de 80% de suas áreas adequadas, e 20 delas ficarão sem local adequado no futuro. No cenário mais pessimista, a situação se agrava: 40 espécies perderiam mais de 80% de suas áreas, e 36 não teriam ambiente propício para viver.
Espécies já ameaçadas, como o Jacamim-de-costas-escuras (Psophia obscura) e o Mutum-de-penacho (Crax fasciolata pinima), cujas populações já são pequenas e com distribuições geográficas restritas, são as mais vulneráveis. Se as previsões sobre as mudanças climáticas se confirmarem, essas aves podem sofrer perdas dramáticas em suas áreas adequadas, chegando a perder quase todo o seu habitat.
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