
01/07/2025
Plantas exóticas se espalham nas margens do rio Taquari, no Rio Grande do Sul, pouco mais de um ano após o desastre com as chuvas de maio de 2024. A presença das espécies gera a falsa impressão de recuperação da mata ciliar, aumenta os custos para recompor a vegetação nativa e reduz a biodiversidade dos ecossistemas.
Com grande capacidade de reprodução, plantas como o capim-annoni e a uva-japonesa, originárias da África e da Ásia, têm comportamento invasor e crescem em poucos meses nas áreas degradadas. Elas se beneficiam das mudanças climáticas, porque toleram grandes variações de temperatura, e são resistentes a condições ambientais que outras espécies não suportariam.
"Quem vê a margem tomada por vegetação pensa que está tudo recuperado e que a mata ciliar voltou. Mas as plantas exóticas invasoras não cumprem a função da verdadeira mata ciliar, que é proteger o solo", diz Elisete Freitas, doutora em botânica pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e professora na Universidade do Vale do Taquari.
As espécies invasoras não têm raízes profundas e firmes o suficiente para estabilizar a terra, ao contrário das nativas, capazes de exercer esse papel. Ou seja, as margens do rio estariam desprotegidas caso novas inundações ocorram no estado.
"Qualquer chuva forte arranca as plantas invasoras, derruba tudo. As espécies de matas ciliares têm flexibilidade, com muitos troncos que ajudam a barrar a força da água, enquanto as exóticas são pequenas e finas", explica Freitas.
De acordo com a pesquisadora, as cheias registradas na última semana não causaram danos nas margens do rio Taquari nas cidades de Lajeado e Estrela, onde foi detectada a presença das plantas invasoras.
A dispersão das exóticas é tão eficiente que elas competem com a vegetação nativa e reduzem a biodiversidade. Segundo Freitas, as plantas invasoras podem causar a chamada homogeneização dos ecossistemas, ocupando todo o espaço disponível.
"As espécies exóticas invasoras podem produzir compostos químicos com potencial de inibir o crescimento e a germinação de outras plantas. Nas margens tomadas pela uva-japonesa, o solo embaixo delas é completamente limpo, não tem nenhuma outra planta", exemplifica.
O desastre de 2024 é um dos fatores por trás do alastramento das plantas invasoras na beira do Taquari. Com a inundação, a vegetação nativa foi danificada e o solo ficou exposto. As exóticas se multiplicaram e dominaram as áreas degradadas antes que a mata original pudesse crescer de novo.
Um levantamento anterior às enchentes do ano passado identificou 18 espécies de plantas invasoras nas margens do rio Taquari, como a amora-preta, o capim-elefante, o capim-estrela, a mamona e as braquiárias. "Antes, as exóticas estavam em alguns pontos. Hoje, elas estão em quase tudo, porque não foi dada a atenção para recuperar as matas ciliares", afirma Freitas.
Para Gerhard Overbeck, professor de botânica na UFRGS, a proliferação de plantas exóticas invasoras está ligada à baixa valorização da flora nativa e à degradação ambiental.
"Podemos esperar um aumento das invasões biológicas no sul do Brasil, não só devido às mudanças de clima e do uso da terra, mas também em função da falta de políticas efetivas de conservação e restauração na região", afirma o pesquisador.
Animais também contribuem para espalhar as espécies exóticas. O graxaim-do-mato, mamífero que vive no pampa, passou a se alimentar do fruto da uva-japonesa. Biólogos identificaram fezes do animal com sementes da planta invasora nas margens do Taquari.
Em nota, a Secretaria de Meio Ambiente e Infraestrutura do governo do Rio Grande do Sul diz que atua na prevenção e no monitoramento de plantas invasoras por meio do Programa Estadual de Controle de Espécies Exóticas, composto por analistas ambientais da pasta e da Fundação Estadual de Proteção Ambiental.
A secretaria também diz ter realizado o lançamento de mais de 5 milhões de sementes de espécies nativas a partir de aeronaves em áreas onde ocorreram movimentos de massa no vale do Taquari. A ação foi realizada em parceria com o Exército e o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
A pesquisadora Elisete Freitas estima o valor de R$ 1,5 milhão para recuperar um quilômetro de uma margem de um rio como o Taquari. A cifra inclui a preparação do terreno, o transporte de rochas, a instalação de estruturas de engenharia natural, a compra de mudas e o monitoramento após a intervenção.
"No momento em que as margens estão tomadas por plantas invasoras, principalmente as gramíneas, o custo para recuperar a mata ciliar e controlar as espécies exóticas é altíssimo", diz ela.
Fonte: Folha de S. Paulo

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