
12/06/2025
Uma ONG fundada por um ex-segurança de casas noturnas na Alemanha que faz transações com ararinhas-azuis —em pelo menos um caso, em valores estimados em € 75 mil (R$ 470 mil) por espécime— continua funcionando no Brasil um ano depois do fim do contrato que tinha com o governo federal.
Uma investigação de dez meses realizada pela Folha em conjunto com o jornal alemão Süddeutsche Zeitung (SZ) constatou a falta de transparência com a qual a ONG alemã ACTP (Associação para a Conservação de Papagaios Ameaçados) e seus funcionários operam no Brasil.
A ACTP, uma organização alemã fundada em 2006, chegou a ter posse de 90% das ararinhas-azuis (Cyanopsitta spixii) no planeta —uma das aves mais ameaçadas do mundo, cujo único habitat natural é a caatinga brasileira e que já foi considerada extinta na natureza. Hoje, 75% dos pássaros de que se tem registro ainda estão sob controle da ONG alemã.
A ACTP e seu fundador, o alemão Martin Guth, são conhecidos pela reputação controversa. Em 2018, uma reportagem do jornal britânico The Guardian já levantava suspeitas sobre a forma como Guth adquiriu tantos espécimes —incluindo aves raras australianas e caribenhas, além da ararinha-azul.
Em longa carta ao SZ, os advogados de Martin Guth e da ACTP dizem que tanto o fundador quanto a associação "sempre obedeceram as leis em vigor" e que não há "qualquer indício concreto de irregularidade".
Afirmam ainda que todas as movimentações de ararinhas-azuis realizadas pela ACTP tiveram como único objetivo a conservação da espécie. Sobre seu trabalho no Brasil, a ACTP disse que sempre obedeceu acordos com as autoridades brasileiras.
Em maio de 2024, depois de anos de problemas, o governo federal tomou a decisão de encerrar o acordo de cooperação que mantinha com a ACTP. A responsabilidade pelo trabalho de reintrodução em Curaçá (BA) foi então assumida pela Blue Sky, empresa brasileira parceira da ONG alemã.
O motivo para o fim do acordo foi a constatação, segundo o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, órgão do Ministério do Meio Ambiente), de que a ACTP havia realizado uma "transação comercial fora do escopo do trabalho de conservação" ao enviar 26 ararinhas-azuis para um zoológico na Índia de propriedade de um bilionário do setor petroquímico.
Mas já havia registros de transações com ararinhas realizadas pela ONG antes disso. Em um processo controverso, as autoridades ambientais da Alemanha autorizaram, de 2021 a 2023, que a ACTP vendesse 57 espécimes da ave a criadores privados na Europa. A ONG afirma que se tratavam de aves não adequadas para o programa de reprodução.
Não se sabe quantas dessas aves de fato foram vendidas, mas, em pelo menos uma transação, quatro foram enviadas à Bélgica —e a ACTP emitiu uma fatura cobrando € 75 mil por ararinha, ou seja, € 300 mil (R$ 1,9 milhão), de acordo com o governo alemão. O Brasil não foi consultado.
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