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Recuperar de 30% da vegetação destruída no planeta salvaria 70% das espécies ameaçadas

15/10/2020

Um novo estudo indica que 30% das áreas de vegetação natural convertidas em fazendas no mundo todo poderiam ser restauradas sem afetar a produtividade agropecuária e salvar da extinção 72% das espécies ameaçadas. Feito a pedido da Convenção da Diversidade Biológica (CBD) da Oraganização das Nações Unidas (ONU), o trabalho definiu as áreas prioritárias para que esses números se concretizem.
O custo-benefício de regeneração dessas áreas, porém, varia conforme a região, e a pesquisa apontou onde estão as terras em que a recuperação de vegetação natural custa menos e traz mais benefícios. Os números mostram que o Brasil, conforme esperado, poderia se tornar uma potência da restauração de ecossistemas.
A meta proposta, além de proteger a natureza e salvar potencialmente quase 400 mil espécies terrestres, ajudaria a capturar cerca de metade de todo o carbono jogado na atmosfera nos últimos dois séculos, responsável pelo aquecimento global.
Liderado pelo ecólogo brasileiro Bernardo Strassburg, da PUC-Rio, o trabalho que calculou esses números juntou 27 cientistas de 12 países diferentes e deve subsidiar as negociações no encontro da CBD em 2021 para a adoção de metas de médio prazo, para 2030, e de longo prazo, para 2050. Um artigo descrevendo as conclusões do estudo sai na edição desta semana da revista científica "Nature".
Para chegar a essa conclusão, os cientistas cruzaram mapas mundiais da agropecuária com dados de espécies ameaçadas compiladas pela IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza). E depois compararam o resultado com o custo de restauração em cada bioma.
A definição de áreas prioritárias globais foi importante, porque elas se concentram sobretudo em países de clima tropical. Os pesquisadores compararam a diferença entre escolher 30% de áreas prioritárias no mundo todo, (independentemente do país em que ficam) e escolher 30% de áreas prioritárias dentro de cada país (como se cada nação fosse restaurar 30% de suas áreas convertidas). O custo-benefício da segunda solução, porém, não é tão bom quanto o da primeira, e isso inspira uma negociação diplomática para que os países tropicais sejam compensados pelo trabalho de recompor vegetação natural.
Recompor uma extensão tão grande de biomas seria uma tarefa hercúlea, mas factível na escala de tempo até 2050. Em números absolutos isso significaria a restauração de 860 milhões de hectares, uma área similar a de todo o território do Brasil, mas distribuída entre vários países do mundo. Para que isso seja possível, será preciso criar mecanismos internacionais de compensação às nações que investirem mais em programas de restauração. Para isso as tratativas na CBD de 2021 em Kunming, na China, serão cruciais, bem como as negociações climáticas para redução da emissão de gases do efeito estufa.
Segundo Strassuburg, o Brasil pode aproveitar o peso diplomático que possui na área ambiental para fazer o acordo avançar. O agronegócio nacional, diz o cientista, não só não perderia dinheiro, como poderia lucrar, caso mecanismos de pagamentos por serviços ambientais compensem produtores que investirem em restauração de vegetação natural. Área para isso não falta, explica o cientista:
— A pecuária no Brasil tem baixa produtividade, tem em média um boi por hectare enquanto poderia ter três bois. Isso significa que caberia toda a produção em um terço da área que a gente usa. Como a pecuária é 75% daquilo que se desmatou no país, você pode expandir bastante a agricultura (soja cana etc.) para dentro das áreas de pastagem ao longo das próximas décadas e liberar bastante área para restauração, sem desmatar nenhum hectare.
No país, a maior parte das áreas com vocação para recuperação estão na Mata Atlântica, o bioma mais biodiverso do país e com maior proporção de área devastada. A Amazônia, porém, também tem grandes áreas candidatas a restauração, e pode ajudar muito na captura de carbono. E mesmo o Pantanal, um ecossistema com pouca massa de vegetação, tem sua importância, porque ajuda a reter muito carbono no solo, explica Strassburg.
A depender do resultado das negociações na CBD e na cúpula do clima, há oportunidades importantes para o agronegócio do Brasil na restauração de ecossistemas.
— Não haverá conflito se houver um planejamento espacial inteligente. O potencial comércio internacional de serviços ecossistêmicos é um dos mais atraentes possíveis para o Brasil, e isso pode chegar na ponta para o fazendeiro como renda complementar — diz Strasssburg — O Brasil não participar do comércio internacional de serviços ecossistêmicos seria igual à Alemanha se retirar do comercio internacional de automóveis.
Segundo o economista Carlos Eduardo Young, professor da UFRJ, um dos principais méritos do trabalho que Stassburg liderou na "Nature" é mostrar que não necessariamente as oportunidades de restauração mais baratas são aquelas que mais beneficiam a biodiversidade e o clima. É um lembrete de que uma análise de custo-benefício não pode enfocar apenas o custo, esquecendo dos benefícios.
— Seguindo apenas o critério da terra mais barata para estabelecer prioridades, você concentraria o esforço de restauração nos biomas com menor aptidão agrícola — explica o pesquisador. — No caso do Brasil, seria beneficiada a Caatinga, ela têm pouca capacidade de restauração de carbono, porque a densidade de carbono do bioma é baixa, e menos biodiversidade.
Isso não significa, porém, que outros biomas não devam ser incluídos. O cerrado, por exemplo, é extremamente importante no país para a conservação de recursos hídricos, que não entraram no cálculo do estudo.
Young lembra, também, que toda a discussão sobre restauração só faz sentido quando inserida num contexto de preservação das áreas naturais, porque preservar um hectare de floresta sai muito mais barato do que recompô-lo depois que as árvores já foram derrubadas.
— A premissa é que você vai parar de desmatar para começar a recuperar, mas o que a gente vê hoje no Brasil está indo no sentido oposto — diz Young.

Fonte: O Globo

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