28/05/2020
O ritmo de destruição da Mata Atlântica voltou a subir após ter sido registrada a menor taxa de desmatamento das últimas três décadas. Entre 2018 e 2019, o bioma perdeu 145 quilômetros quadrados, um aumento de quase 30% em comparação com o período anterior, segundo levantamento divulgado pela Fundação SOS Mata Atlântica nesta terça-feira (27/05).
Os números de desmatamento do bioma vinham caindo desde 2016, e entre 2017 e 2018, 113 quilômetros quadrados foram devastados, a menor área registrada desde 1985, quando começaram os registros da SOS Mata Atlântica.
O bioma é considerado o mais ameaçado do país. De sua área original de 1,3 milhão de quilômetros quadrados, espalhados por 17 estados e que cobria grande parte da costa, restam apenas 12%.
O levantamento foi divulgado na data em que se celebra o dia nacional da Mata Atlântica. O decreto de 1999 que instituiu a comemoração é uma referência à Carta de São Vicente de 1560, documento assinado pelo padre José de Anchieta que detalhou, pela primeira vez, a biodiversidade dessa floresta.
Em 2020, motivos para comemorar são praticamente inexistentes, lamenta Mauro Mantovani, diretor de Políticas Públicas da SOS Mata Atlântica. "O desmatamento aumentou nos mesmos lugares, infelizmente, onde já havia atividades ilegais que já foram levadas à Justiça", diz.
O monitoramento, feito há 30 anos pela Fundação SOS Mata Atlântica com dados de satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), aponta que os estados de Minas Gerais, Bahia e Paraná têm as maiores áreas de destruição florestal.
Embora as equipes que participam do levantamento não tenham visitado as regiões mais afetadas devido às medidas de isolamento social para conter a pandemia do novo coronavírus, as motivações para o desmatamento são conhecidas.
Em Minas Gerais, a floresta nativa tem sido substituída por plantações de eucalipto, que, mais tarde, serão convertidas em carvão, segundo a ONG que monitora o bioma. Na Bahia, a expansão do cultivo de soja seria a principal causa.
"No Paraná, a destruição é sobre as florestas de araucária, o que que é pior, pois sobrou menos de 1% da área original", alerta Mantovani. Trata-se de um tipo de formação florestal do bioma da Mata Atlântica, chamada cientificamente de Floresta Ombrófila Mista, e que ocorre em regiões do Sul e Sudeste do país.
"É um processo de desmonte da legislação"
Em Brasília, um despacho recente expedido pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, é visto como mais uma ameaça ao que resta do bioma. O ato, que legaliza propriedades rurais instaladas em áreas de proteção ambiental até julho de 2008, pede ainda o cancelamento de mais de 1.400 multas por desmatamento e incêndios em áreas onde a Mata Atlântica, por lei, deveria ser preservada.
A tentativa de Salles provocou uma reação imediata no Ministério Público Federal, que entrou com uma ação pedindo que os órgãos ambientais nos estados ignorem o despacho do ministro.
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