
26/03/2020
À medida que o novo coronavírus se alastra pelo Brasil, crescem os temores de que comunidades indígenas sejam dizimadas pela Covid-19, a doença causada pelo patógeno.
Doenças respiratórias já são a principal causa de morte entre as populações nativas brasileiras, o que torna a pandemia atual especialmente perigosa para esses grupos.
Há ainda preocupações quanto ao desabastecimento de muitas comunidades indígenas que compram alimentos em cidades e dependem de programas sociais como o Bolsa Família, mas estão sendo orientadas a evitar os deslocamentos para impedir o contágio.
Apesar da gravidade do cenário, associações indígenas e entidades que os apoiam afirmam que órgãos federais não têm adotado providências para proteger as comunidades - e que há falta de materiais básicos, como máscaras, para lidar com eventuais casos nas aldeias.
"Há um risco incrível de o vírus se alastrar pelas comunidades e provocar um genocídio", diz a médica sanitarista Sofia Mendonça, pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Mendonça é a atual coordenadora do Projeto Xingu da Unifesp, pelo qual a universidade atua na promoção da saúde de povos indígenas da bacia do rio Xingu (no Mato Grosso e no Pará) há meio século.
Ela afirma que o novo coronavírus pode ter para povos indígenas brasileiros impacto comparável ao de grandes epidemias do passado, como as causadas pelo sarampo.
"Todos adoecem, e você perde todos os velhos, sua sabedoria e organização social. Fica um buraco nas aldeias", afirma.
Mendonça diz, por outro lado, que a memória de epidemias passadas pode estimular comunidades que vivem em territórios extensos a se dividir em grupos menores e buscar refúgio no interior da mata.
"Provavelmente alguns vão se munir de materiais que precisam para caçar e pescar e vão fazer acampamentos, esperando lá até a poeira baixar", afirma.
Mendonça diz que métodos usados em áreas urbanas para reduzir o contágio - como higienizar as mãos com álcool gel - são impráticaveis em muitas aldeias. Por isso ela defende concentrar os esforços em impedir que o vírus chegue às comunidades e isolar eventuais infectados.
Mendonça, assim como várias organizações indígenas brasileiras, tem difundido mensagens no WhatsApp e por rádio orientando as comunidades a suspender as idas às cidades e impedir a entrada de visitantes.
Nas últimas semanas, vários grupos cancelaram reuniões e rituais abertos a turistas. O Acampamento Terra Livre - principal evento do movimento indígena brasileiro, que ocorre em Brasília a cada mês de abril - foi suspenso.
Mesmo assim, Mendonça diz que há chances consideráveis de que o vírus chegue às aldeias - e que será preciso isolar os doentes antes que eles infectem os parentes.
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