
22/08/2019
Uma frente fria apresentou ao paulistano o céu de chumbo produzido pelo calor das queimadas que ardem no Centro-Oeste e no Norte do Brasil. Agosto marca o auge das queimadas, favorecidas pelo clima seco desta época do ano, mas resultado quase sempre da ação humana.
O climatologista Carlos Nobre, um dos maiores especialistas do mundo na Amazônia , observa que o céu negro que transformou o dia em noite na segunda-feira em São Paulo é fruto de um fenômeno ótico criado pelo encontro da pluma de fuligem, ou particulados das queimadas, com uma frente fria.
— Excepcional foi a combinação com a frente fria. Ela gerou um fenômeno ótico, que escureceu o céu. Mas a fuligem dos particulados das queimadas do Cerrado e de certas partes da Amazônia passa com frequência pela capital e praticamente o mês todo pelo oeste do estado nesta época do ano. O entardecer particularmente avermelhado, comum nesta época, é criado pelos particulados na atmosfera — explica Nobre.
A fuligem é formada por particulados gerados pela queima da vegetação. Em áreas já desmatadas, cobertas por gramíneas, como muitas nas frentes de desmatamento do Cerrado e da Amazônia, há geração particularmente mais alta de particulados. Eles entram em suspensão, formam uma gigantesca pluma na atmosfera observável pelo satélite GOES, da Nasa, e iniciam uma longa viagem.
A chamada pluma de particulados que costuma alcançar São Paulo, em escala muito menor até mesmo o Rio de Janeiro, vem de queimadas no Noroeste do Mato Grosso, do Acre, de Rondônia e da Bolívia. Empurrada pelos ventos, ela segue para oeste até se chocar com os Andes. Lá é levada para o Sul do continente por ventos chamados jatos de baixos níveis.
Nobre explica que a frente fria passou por baixo do ar quente carregado de particulados — não custa lembrar que o ar frio é mais pesado. Ela criou uma espécie de bolha, que aprisionou temporariamente os particulados. Ao concentrá-los, não só os tornou mais visíveis quanto produziu o céu de chumbo que suspreendeu a São Paulo.
— Neste ano, com o aumento das queimadas registrado pelo Inpe, há ainda mais particulados chegando — destaca ele.
As queimadas, mesmo quando não transformam o dia em noite, afetam a vida de quem vive nas cidades do Sudeste. Um estudo da Universidade de São Paulo (USP), liderado por Paulo Artaxo, já comprovou a relação entre as queimadas amazônicas e o aumento da poluição nas grandes cidades do Sudeste.
A poluição das queimadas viaja pela atmosfera por milhares de quilômetros e se despeja por toda a América do Sul, o Sudeste do Brasil sofre mais porque tem mais gente. O pior componente é material particulado, a fuligem ou carbono negro. Ele penetra alvéolos do pulmão e segue seu caminho corpo adentro pelo sangue. Leva as cinzas da floresta ao morador do Rio e de São Paulo.
Fonte: O Globo

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