
09/12/2025
A Antártica, o único continente desabitado do planeta, acaba de ganhar o mapeamento mais completo já produzido sobre suas áreas livres de gelo e de vegetação. Segundo o levantamento do MapBiomas, baseado em imagens de satélite coletadas entre 2017 e 2025, o continente possui 2,4 milhões de hectares sem gelo, o que representa menos de 1% de seus 1,366 bilhão de hectares. Dentro dessas áreas, cerca de 107 mil hectares têm cobertura vegetal durante o verão antártico.
Os dados foram disponibilizados gratuitamente no site do MapBiomas na última segunda-feira (1º), Dia da Antártica. A data marca a assinatura, em 1959, do tratado que estabeleceu o continente como área internacional voltada à pesquisa científica com participação de 58 países.
A vegetação se desenvolve apenas nas regiões que ficam temporariamente expostas durante o verão, quando o gelo e a neve derretem. Essas áreas ocorrem principalmente nas ilhas, na costa e na Península Antártica, além de pontos localizados no topo de cadeias montanhosas do interior do continente.
Segundo o estudo, apenas 5% das áreas livres de gelo apresentam atividade vegetal, identificada por meio de índices fotossintéticos derivados das imagens do satélite Sentinel-2.
A coordenadora do mapeamento, professora Eliana Fonseca, destaca a relevância do estudo. “Mapear áreas livres de gelo e cobertas por vegetação é crucial para o monitoramento dos impactos das mudanças do clima no ambiente antártico. O mapa de áreas livres de gelo é essencial para o monitoramento da fauna do continente, pois os ninhos e o nascimento dos filhotes das espécies animais ocorrem nessas áreas durante o verão. O mapa de vegetação, por sua vez, fornece informações essenciais para avaliar a produtividade dos ecossistemas, permitindo monitorar as mudanças ambientais e regiões sensíveis”, afirma.
Ela reforça ainda o papel global da Antártica. “Acompanhar a dinâmica natural do continente antártico também se justifica por sua influência direta sobre o clima do hemisfério sul, atuando como um regulador térmico global e sendo o local de nascimento das frentes frias, que também influenciam a precipitação pluvial no sul do planeta Terra”.
Durante o inverno, a Antártica permanece sem incidência de radiação solar, impedindo a detecção de áreas livres de gelo. Somente no verão, quando há maior radiação e disponibilidade de água líquida, a vegetação surge, e apenas por alguns meses. Com o retorno do frio extremo, toda a biomassa morre, restando apenas estruturas reprodutivas que brotam novamente no ano seguinte.
A professora Eliana Fonseca explica um dos principais desafios técnicos do levantamento:
“A questão da incidência solar foi um dos desafios deste mapeamento”, ressalta. “Além de só podermos identificar áreas livres de gelo no verão, nessa época ocorre também o fenômeno conhecido como ‘sol da meia-noite’, que é quando o sol circunda o continente, causando a projeção de uma grande quantidade de sombras feitas pelas cadeias de montanhas existentes no interior. Por isso não foi possível mostrar a dinâmica ao longo dos anos, como em outros mapeamentos do MapBiomas, mas sim compor um mosaico de imagens livres de nuvens e com pouca influência de sombras com base no que o satélite capturou nos meses de verão ao longo de vários anos.”
O mapeamento só se tornou possível graças à evolução recente dos satélites ambientais, pois os satélites ambientais foram historicamente planejados para cobrir regiões tropicais e temperadas.
O processamento utilizou imagens do Sentinel-2, com resolução de 10 metros, e algoritmos de machine learning executados em computação em nuvem, dada a enorme quantidade de dados necessária para cobrir toda a Antártica.
“Esta é a primeira versão (beta) do mapeamento e esperamos que as próximas coleções envolvam mais cientistas e grupos de pesquisa da Antártica trazendo não só melhorias no mapeamento das áreas sem gelo e cobertas por vegetação, mas também agregando outras variáveis e contribuindo para o monitoramento e a compreensão das mudanças climáticas e ambientais no continente”, afirma Júlia Shimbo, coordenadora científica do MapBiomas.
Fonte: CicloVivo
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