
06/11/2025
Três anos depois da tragédia no Morro da Oficina, Petrópolis ainda convive com as marcas da lama — e com os alertas da crise climática.
Às vésperas da COP30, que será realizada a partir da próxima segunda (10), em Belém (PA), as histórias dos sobreviventes da Região Serrana do Rio voltam a expor um dos maiores desafios do planeta: como preparar as cidades para eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes.
A enxurrada que desceu o morro em 15 de fevereiro de 2022 arrastou casas inteiras, deixou bairros soterrados e destruiu famílias — nove pessoas da casa de Cristiane Gross da Silva morreram naquela tarde.
“Eu vi um cenário de guerra. Eu nunca na minha vida imaginei passar por isso. Você acompanhava pela televisão. Eu nunca pensei em viver na pele”, lembra, chorando.
Foram 54 casas destruídas e 93 moradores mortos só no Morro da Oficina. Cristiane estava no trabalho quando soube o que aconteceu e fez tudo o que pode para chegar em casa. “Eu agarrava nos postes, não sei como cheguei aqui. Porque a fiação estava solta, a lama até o pescoço. Meus vizinhos passavam e falavam assim: ‘Cristiane, não vai não. Não tem mais nada lá’”.
Rosilene Fontes dos Anjos, de 43 anos, também teve a vida virada do avesso. O filho dela, Thiago, de 22, estava dentro de um dos ônibus arrastados pela correnteza.
As buscas por Thiago duraram dias, e o corpo só foi encontrado quase uma semana depois.
“Para você ver como as coisas são. Ele foi encontrado em frente ao prédio onde eu trabalho. “É uma dor inexplicável. Parece que um pedaço da gente foi arrancado, sabe? E esse pedaço fica fazendo falta todo o tempo”, lamenta.
A Região Serrana do Rio de Janeiro sempre sofreu com temporais. Mas, segundo o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), eventos como o de Petrópolis têm se tornado mais comuns com as mudanças climáticas.
“Não é coincidência que nos últimos anos nós tivemos realmente um aumento da frequência. O que antes acontecia a cada cinco ou dez anos, agora ocorre anualmente”, explica o meteorologista Marcelo Seluchi.
Desde 2022, cerca de 3 mil famílias ainda recebem o chamado aluguel social no município. Muitas não conseguem pagar um novo lar e acabaram voltando para áreas de risco. A prefeitura afirma ter feito mais de 200 obras de contenção, mas, no Morro da Oficina, as intervenções ainda não foram concluídas.
"Quando a gente tem o crescimento habitacional, as pessoas são empurradas para o que hoje são chamados de locais de risco", destaca Pâmela Mércia, fundadora da ONG TJNS.
Enquanto Petrópolis ainda tenta se reerguer, outras cidades do Rio mostram que é possível agir para evitar novas tragédias.
Em Niterói, o Morro da Boa Vista virou símbolo de recuperação ambiental. Cem mil mudas foram plantadas na encosta — as raízes ajudam a conter o solo e reduzem o risco de deslizamentos. O local também abriga a primeira usina solar do Brasil dentro de uma favela, onde o reflorestamento e a energia limpa caminham lado a lado.
“Evita a possibilidade de tragédias com deslizamento de terras. Ao mesmo tempo, desperta consciência ambiental sobre a necessidade de preservar para as atuais e a futuras gerações, as nossas áreas verdes”, explica o prefeito Rodrigo Neves.
Na capital, um outro projeto virou referência internacional: o reservatório subterrâneo da Praça da Bandeira, conhecido como “piscinão”. A estrutura de 20 metros de profundidade, criada há 12 anos, é capaz de armazenar até 18 milhões de litros de água da chuva, evitando enchentes históricas na região.
“Quando a gente tem chuva mais intensa, toda essa água excedente é recolhida aqui pra dentro do reservatório, onde ela é acumulada. Eliminamos aquele histórico. Aquelas imagens que eram constantes em todas as chuvas”, explica o secretário municipal de Infraestrutura, Wanderson dos Santos.
A reportagem completa pode ser lida no g1
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