
15/05/2025
A jiboia-do-ribeira é mistério que pesquisadores do Museu de Zoologia da USP (MZUSP) e Instituto Butantan estão desvendando através de um projeto de educação ambiental no Vale do Ribeira. A serpente não peçonhenta de ventre amarelo, que pode atingir 1,8 m de comprimento, é uma das mais raras do mundo e está em risco de extinção por causa das mudanças climáticas e da ação humana.
Por mais de 60 anos, desde o primeiro contato com o animal, os poucos registros na natureza se resumiam a fotografias antigas e partes de indivíduos encontrados mortos. A situação começou a mudar quando o Projeto Jiboia-do-Ribeira iniciou o trabalho, em 2016, para encontrar novos exemplares e protegê-los através da conscientização das comunidades locais.
Coordenada pelos herpetólogos Bruno Rocha e Daniela Gennari, a iniciativa independente desmistifica o preconceito contra o animal e capacita moradores da região como guardiões da espécie. Os moradores do Vale do Ribeira compartilham suas vivências e em contrapartida aprendem sobre a jiboia. A ideia é que registrem as aparições e ajudem no monitoramento da espécie em seu habitat natural.
A Corallus cropanii é considerada a jiboia mais rara do mundo. Foi descrita em 1953 pelo herpetólogo Alphonse Richard Hoge, quando um morador de Miracatu (SP) enviou para o Instituto Butantan uma cobra com características desconhecidas até ali. A serpente possui manchas marrons, intensa coloração amarela e "furinhos" na lateral da boca. É calma, mas costuma ser confundida com a agressiva jararacuçu, o que pode levar a casos de violência contra o animal.
O monitoramento do projeto realizado com três indivíduos vivos já constatou alguns padrões de comportamento: ela é arborícola, ou seja, vive entre as copas das árvores mais frondosas e se alimenta de pequenos mamíferos, como roedores. No inverno, sobe para os galhos onde há maior incidência solar e desce durante o verão.
"Ela obedece muito aos ciclos. E coloca também um alerta por causa das mudanças climáticas", diz Gennari.
Quando precisa atravessar uma estrada, desce para o solo, cruza lentamente e sobe para outro local. "É nesse tempo que ela está vulnerável aos encontros com pessoas e carros", explica Gennari. Ela e Rocha constataram que as cobras mortas são mais comuns próximas das vias de acesso.
Em outubro de 2016, Rocha distribuiu folhetos e cartazes sobre o animal para os moradores do Guapiruvu, bairro afastado da área urbana de Sete Barras (SP).
Naquele ano, os moradores capturaram uma fêmea de 1,75 metro e cerca de 1,5 kg. A serpente foi batizada de Dona Crô por uma criança e monitorada em um período de sete meses em cativeiro e quatro em vida livre.
Os herpetólogos a acompanharam através de um equipamento de radiofrequência até 2017. "Acabou a bateria [do rastreador], acabou o monitoramento", diz Rocha.
O Projeto Jiboia-do-Ribeira não tem recursos próprios e desenvolve o trabalho com o apoio técnico de parceiros como biólogos e veterinários. "O que podemos oferecer é a nossa sabedoria técnica, a nossa experiência prévia e muito amor, porque a gente acredita neste projeto desde o início", diz Gennari.
A iniciativa também recebe respaldo técnico de entidades como o MZUSP, Instituto Butantan, ICMBio (Instituto Chico Mendes de Biodiversidade), RAN (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios) e Fundação Florestal. Já as viagens desde São Paulo até o Vale do Ribeira, os materiais educativos e as atividades ambientais são custeados pelos próprios pesquisadores.
Os coordenadores do projeto avaliam que a restrição de verba e a falta de infraestrutura impedem que a iniciativa chegue a outras comunidades da região. "Se houvesse financiamento para as ações de educação ambiental, a gente teria um cronograma mais organizado, mais frequente e abrangente", diz Gennari.
Por exemplo, o sistema de monitoramento via radiofrequência implantado na Dona Crô foi a alternativa que o grupo encontrou, já que o equipamento ideal é um rastreador de GPS subcutâneo que custa cerca de R$ 10 mil. Já Esperança, outra cobra achada durante a pandemia, recebeu um radiotransmissor implantado de forma cirúrgica, doado pelo veterinário parceiro Vinicius Gasparotto, do Instituto Tamanduá-ICAS.
Além de Dona Crô e Esperança, os biólogos já monitoram um macho. Ribeiro foi resgatado em uma casa pela equipe de vigilantes do Parque Estadual de Intervales. "Para trabalhar com a conservação desta emblemática espécie, a gente precisa trabalhar com a conservação desses remanescentes [de mata atlântica] e em parceria com as comunidades locais", diz Gennari.
No final de março, a equipe recebeu a notícia de que a espécie foi encontrada em Juquiá (SP). O morador Evandro de Ponte Santos avistou o animal em uma estrada, filmou sua travessia e o fotografou, mas não sabia que se tratava de uma cobra tão rara.
"Fizemos um agradecimento especial pelo respeito e cuidado com o bicho, entregamos o folheto do projeto e trocamos contato. Vai que ele dá a sorte de encontrar outra?", brinca Gennari.
Fonte: Folha de S. Paulo

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