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Por que terras férteis estão se tornando desertos

17/12/2024

Quase metade da superfície sólida do planeta está prestes a se tornar um deserto não arável, de acordo com a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD, na sigla em inglês).
Essas terras são marcadas há muito tempo pela baixa pluviosidade, e mesmo assim sustentam 45% da agricultura mundial. Agora, a seca extrema ligada ao aquecimento global causado pelo homem está ajudando a transformar essa área em um terreno baldio infértil.
Com uma em cada três pessoas do mundo vivendo nessas regiões áridas, especialistas alertam que a insegurança alimentar, a pobreza e o deslocamento em massa acompanharão a desertificação.
O problema é tão grave que uma conferência das Nações Unidas sobre desertificação (COP16), a ser realizada na Arábia Saudita em dezembro, exige que 1,5 bilhão de hectares de terras desertificadas do mundo sejam restaurados até 2030. Pelos cálculos da ONU, essa é a porção que poderia ser reabilitada.
A desertificação é uma forma de degradação pela qual a terra fértil perde grande parte de sua produtividade biológica – e econômica – e se torna um deserto.
Atualmente, até 40% das terras do mundo já estão degradadas, de acordo com a UNCCD.
Embora as mudanças climáticas, o desmatamento, o uso excessivo de pastagem para pecuária, práticas agrícolas insustentáveis e a expansão urbana sejam os principais fatores da desertificação, uma crise global de estiagem está exacerbando o problema.
A seca e o calor extremos provocam escassez de água e levam à degradação do solo e à perda de culturas e vegetação.
Com a previsão de que 2024 será o ano mais quente já registrado, a seca poderá afetar 75% da população mundial até 2050, de acordo com relatório da ONU divulgado nesta semana.
A escassez de água agrava ainda mais os impactos do desmatamento. Menos árvores significa menos raízes para prender o solo e evitar erosão.
Enquanto isso, questões sociais, como maior dificuldade para mulheres de possuir terras, também podem afetar a saúde da terra e do solo. A ONU observa que as mulheres investem com mais frequência em sistemas alimentares biodiversos, ao contrário dos homens, que se concentram principalmente em monoculturas de alta produtividade que podem degradar a terra rapidamente.
A grave degradação da terra e a desertificação estão afetando a capacidade do planeta de "apoiar o bem-estar ambiental e humano", disse um relatório da UNCCD de 2024.
A terra degradada não pode mais sustentar diversos ecossistemas ou ajudar a regular o clima, os fluxos de água e a produção de nutrientes vitais para toda a vida.
A terra saudável também proporciona segurança alimentar e um sistema agrícola sustentável, aponta o estudo.
Porém, com tanta terra fértil e produtiva degradada a cada ano, a desertificação contínua está acelerando a perda de biodiversidade, a fome e a pobreza.
Migração forçada e conflitos sobre recursos em declínio serão algumas das consequências futuras.
"São a terra e o solo sob nossos pés que cultivam o algodão para as roupas que vestimos, garantem a comida em nossos pratos e ancoram as economias das quais dependemos", observou Ibrahim Thiaw, secretário executivo da UNCCD.
Um tema fundamental dos esforços para combater a desertificação é a restauração do solo e a promoção de uma agricultura e de um manejo de pastagens mais sustentáveis e "positivos para a natureza", de acordo com Susan Gardner, diretora da divisão de ecossistemas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
Isso anda de mãos dadas com a conservação de "bacias hidrográficas" que armazenam água.
O Programa Mundial de Alimentos da ONU, por exemplo, tem trabalhado para melhorar a resiliência da água na Mauritânia e no Níger, no oeste da África, construindo "meias-luas" que retêm a água da chuva.
Os lagos semicirculares ajudam solos degradados a reter a água por mais tempo e a sustentar a vegetação. Além disso, eles são práticos e econômicos para a população local construir.
Mas medidas mais drásticas também estão sendo tomadas para impedir a expansão dos desertos.
Em 2007, as nações da região do Sahel, na África, decidiram impedir a expansão do deserto do Saara para o norte, alimentada pela seca e pela mudança climática, cultivando árvores, pastagens e vegetação para criar a Grande Muralha Verde.
Bilhões de árvores seriam plantadas ao longo de quase 8.000 km, do litoral oeste ao leste da África, para criar zonas de amortecimento e evitar mais desertificação.
De acordo com os números mais atualizados da ONU, um quinto da restauração desejada foi alcançado, com o progresso paralisado devido à falta de financiamento. No entanto, novas iniciativas estão avançando com o objetivo de tornar mais verdes 100 milhões de hectares de terras degradadas em toda a África.
Uma iniciativa semelhante de replantio na China e no deserto de Gobi, na Mongólia, também conhecida como a "Grande Muralha Verde", inclui esforços para reduzir o o uso excessivo de pasto entre os pastores da Mongólia.
Quase 80% das terras da Mongólia foram afetadas pela degradação até 2020, e uma iniciativa da ONU buscou combater a desertificação por meio do gerenciamento sustentável da terra, incluindo a proteção de quase 850 mil hectares na região sul de Gobi como corredores de biodiversidade.

Fonte: g1

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