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Com eleição de Trump, pressão e esperança na COP29 se voltam para Pequim

12/11/2024

A China vai enviar à esvaziada cúpula do clima no Azerbaijão, a COP29, que começa nesta segunda (11), o vice-primeiro-ministro Ding Xuexiang. E em entrevista coletiva na quarta (6) o diretor para mudança climática do Ministério da Ecologia e do Ambiente, Xia Yingxian, adiantou a posição de que "os países desenvolvidos devem cumprir suas obrigações e continuar a liderar a mobilização de fundos, encorajando outros países a participar voluntariamente".
Em outras palavras, a China não pretende ceder à pressão europeia para entrar no financiamento climático aos países em desenvolvimento, reservando-se um papel voluntário e autônomo.
O país deve concentrar as atenções no encontro após a eleição de Donald Trump, que promete reduzir o papel dos Estados Unidos no combate à mudança no clima. O atual presidente, Joe Biden, a dois meses de deixar o cargo, decidiu na última semana não ir à COP29.
"Sob Trump, para dizer o mínimo, os EUA não vão se comprometer a aumentar o financiamento climático aos países em desenvolvimento", diz Lauri Myllyvirta, do Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo, na Finlândia, um dos analistas europeus de referência sobre o tema.
Segundo ele, os demais países desenvolvidos terão de intensificar seus esforços de financiamento, mas Trump também pode abrir caminho para maior mobilização de Pequim.
"Nesse cenário, a China vai querer se apresentar como um país que defende o Acordo de Paris, que é um parceiro confiável. Pode ser uma razão para trazer algo para a mesa, uma contribuição positiva para a COP."
Seria uma maneira de se aproximar da União Europeia e outros países ricos, "que gostariam de se distanciar dos EUA de Trump" na questão climática, segundo Myllyvirta. Ele esteve nesta semana em Pequim, para reuniões e um seminário, e descreve chineses e europeus em campos opostos, até o momento.
"A China pressiona os países desenvolvidos a elevar seus compromissos de financiamento e quer manter suas próprias contribuições voluntárias, dizendo que não pode ser considerada um país desenvolvido", diz. "E a visão dos países desenvolvidos é que a China, como maior país industrializado, tem que adotar compromissos formais de financiamento."
Pequim, segundo o serviço noticioso Bloomberg, se vê como uma "superpotência híbrida", devido à renda média ainda no grupo dos países em desenvolvimento.
Por outro lado, sublinha Myllyvirta, a China "já está contribuindo bastante" e quer que isso seja reconhecido. "Eles estão financiando muitos projetos de energia limpa e outros tipos relacionados ao clima no Sul Global. A grande questão é: eles estão dispostos a trazer essas contribuições para o âmbito do Acordo de Paris e começar a rastreá-las mais formalmente?"
Na entrevista coletiva, Xia Yingxian sublinhou também ser necessário "reduzir a distância entre o Sul e o Norte globais, visando promover resultados na COP29". Destacou reuniões preparatórias como o Encontro Ministerial sobre Mudança do Clima do Basic, grupo formado por Brasil, África do Sul, Índia e China para questões climáticas.
A agência de notícias Reuters havia divulgado horas antes uma proposta do Basic, levada por Pequim à UNFCCC (Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, na sigla em inglês), para que sejam incluídas na agenda da COP29 discussões sobre as "medidas restritivas de comércio" adotadas pela União Europeia.
Os quatro países do grupo, também parte do Brics, têm questionado a lei antidesmatamento e o imposto sobre carbono como ações de protecionismo comercial por parte do bloco europeu. O acréscimo do tema à agenda precisa ser aprovado por unanimidade no início da COP29.
A agência ouviu um negociador europeu anônimo, falando que a UE sempre se recusou a discutir questões de comércio nos encontros da ONU —e se dizendo preocupado de que a proposta do Basic tenha o propósito de evitar o avanço das discussões na COP29 sobre redução das emissões e financiamento.

Fonte: Folha de S. Paulo

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