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Tons de verde cobrem lago da Quinta da Boa Vista; frequentadores cobram manutenção

29/10/2024

O passeio pelo parque, que remonta aos tempos do Império, é um clássico das famílias cariocas. No último fim de semana, no entanto, quem visitou a Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, na Zona Norte do Rio, encontrou as águas dos lagos que enfeitam seus jardins históricos esverdeadas, tomadas em parte por lodo e troncos caídos.
Alguns frequentadores e ambulantes que trabalham no parque dizem que o problema não é recente, e questionam até que ponto o tom esverdeado do lago influi na qualidade de vida dos patos e pássaros, principalmente as garças, que frequentam o ambiente. Segundo eles, apesar de ter sido completamente reformado em 2022, o espaço de cerca de 155 mil metros quadrados carece de manutenção. Atualmente, a administração da Quinta da Boa Vista está sob responsabilidade da Fundação Parques e Jardins, da prefeitura do Rio.
— Vemos a forma em que estão deixando os lagos, e o sofrimento dos patinhos. Eles estão soltos, andando pela calçada. Passamos por cinco patos caminhando pela rua, que costumavam ficar naquele lago — conta a funcionária pública aposentada Glicelia dos Santos, de 64 anos, que costuma caminhar diariamente com a irmã, a agente auxiliar de creche, Gisele dos Santos, de 44, pelo local. — Está literalmente abandonado. É só sujeira. Antes, o lago era mais limpo. Havia mais bichinhos. Os patinhos perderam o habitat deles.
Morador de um prédio em frente à Quinta da Boa Vista, o servidor público Luiz Renato Junqueira, de 55 anos, acompanha a condição do ambiente há anos. Ele afirma ver frequentemente crianças mergulhando no lago, apesar da sujeira, colocando em risco a saúde. O funcionário público diz se preocupar com a situação, mas também culpa os frequentadores.
— A maior parte do lixo é deixada por visitantes. Realmente tem poucas lixeiras espalhadas para o volume de lixo gerado. Com o vento, tudo vai para dentro do lago que, assim como os canais, não é bem tratado. Eles deveriam ser dragados, mas não são — afirma. — Não tem água no canal onde os patos ficam. Só lama. Daqui a pouco, os filhotes podem morrer por não ter condições de sobreviver. Sinto que o parque é um pouco largado nesse sentido.
Assíduo da Quinta nos fins de semana e feriados, o pipoqueiro Flávio de Oliveira, de 62 anos, concorda. Após a morte da mãe, ele virou o titular da carroça e de um dos quiosques do parque, que comanda com a filha. Sua família acompanha as transformações do local há três gerações.
— Praticamente nasci e fui criado aqui. Lembro, durante a adolescência, que o lago era limpo a cada dois anos. A gente não vê mais isso hoje. Ele está bem sujo e cheio de lodo. A lama já tomou conta do lago em si — lamenta o pipoqueiro.

Leia o pronunciamento da prefeitura sobre o lago e os lixos na Quinta da Boa Vista:

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente informa que o cenário é causado por temperaturas elevadas em um determinado período, volume de chuva reduzido e baixo nível do lago, resultante na proliferação de micro algas que dão aspecto esverdeado. Dia ainda que a Fundação Rio-Águas aproveita o período para fazer a limpeza do fundo do lago.

Sobre o lixo, a Comlurb afirma que realiza diariamente a limpeza e remoção de lixo no Parque da Quinta da Boa Vista, incluindo o espelho d`água do lago. A companhia de limpeza apela para que os frequentadores descartem seus resíduos nas papeleiras.


Na comemoração do bicentenário da Independência do Brasil, há pouco mais de dois anos, a Quinta da Boa Vista foi revitalizada. As obras consumiram R$ 14,6 milhões, conforme a prefeitura.
— A Quinta da Boa Vista é a mais simbólica de todas as intervenções que vamos fazer para o bicentenário da Independência. Tem muito tempo que esse parque não passa por uma reforma completa de seus equipamentos históricos, como esculturas e portões — disse, na época, o prefeito Eduardo Paes.
No entanto, diz o servidor público Luiz Renato Junqueira, para a preservação e conservação da área, são necessárias fiscalização e reformas constantes.
— A reforma focou na parte de alvenaria e pavimentação. Fizeram calçadas e asfalto, mas deixaram de lado o meio ambiente. As árvores não foram cuidadas. Não teve o tratamento do ambiente em si. Não há manutenção. Os bancos foram trocados em 2022, mas já precisam ser de novo — alerta.

Fonte: O Globo

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