29/10/2024
Considerada uma das fronteiras agrícolas que mais crescem no Brasil e a área com maior taxa de emissão de gases de efeito estufa no cerrado, a região conhecida como Matopiba corre o risco de enfrentar falta de água já nos próximos anos.
Entre 30% e 40% da demanda por irrigação de terras agricultáveis pode não ser atendida no período de 2025 a 2040 devido à superexploração dos recursos hídricos.
Esse problema, somado às mudanças climáticas, está reduzindo as vazões subterrâneas —provenientes do aquífero Urucuia— e dos corpos d’água superficiais da bacia do rio Grande, afluente do São Francisco.
A redução desse fluxo pode comprometer o atendimento a demandas como o abastecimento urbano, de populações ribeirinhas e o próprio agronegócio, sem contar a diminuição de disponibilidade para toda a bacia.
A conclusão é de um estudo liderado por cientistas do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) que analisou a sustentabilidade de longo prazo da expansão agrícola em meio à crescente escassez de água na região.
O trabalho, idealizado pela cientista do Inpe Ana Paula Aguiar e realizado em parceria com o Centro de Resiliência de Estocolmo (Suécia), aponta que deve haver um aumento de até 40% de energia para irrigação, pressionando ainda mais o sistema.
Acrônimo formado pelas siglas de quatro estados —Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia—, o Matopiba está inserido predominantemente no cerrado (91% da área ou 665 mil km2), tendo apenas 7,3% na amazônia e 1,7% na caatinga. Em sua parte sudeste, é abastecido pela bacia do rio Grande, que cobre cerca de 76 mil km2.
Para fazer a análise, os pesquisadores usaram um modelo de dinâmica de sistemas —uma ferramenta que permite representar as complexas interações e feedbacks entre uso da terra, energia e água, além de simular diferentes cenários, vendo como é a reação ao longo do tempo. Com isso, ajuda na tomada de decisões e na implementação de políticas públicas mais eficazes.
"A dinâmica de sistemas considera uma visão holística, simulando as relações e as várias demandas —irrigação, energia elétrica, consumo— que existem simultaneamente na região. Isso nem sempre é considerado em análises realizadas por órgãos públicos", diz o pesquisador do Inpe Celso von Randow, um dos autores do trabalho.
O artigo foi publicado na Ambio - Journal of Environment and Society e é parte do projeto Nexus -Caminhos para a Sustentabilidade, coordenado por Jean Ometto, pesquisador do Inpe e membro da coordenação do PFPMCG (Programa Fapesp de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais).
O projeto buscou propor estratégias para viabilizar a transição para um futuro sustentável nos biomas cerrado e caatinga por meio de uma abordagem participativa, integrando métodos qualitativos e quantitativos.
O relatório técnico do Nexus, que traz informações da pesquisa do grupo e de outras desenvolvidas na região, foi lançado agora em outubro e apresentado no seminário "Contribuições da comunidade científica brasileira para a temática de combate à desertificação", realizado na Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste).
Pesquisadores do grupo estarão juntamente com a delegação brasileira na Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD), na Arábia Saudita, em dezembro.
"A ideia do estudo nasceu de uma das oficinas do projeto Nexus, realizada no município de Barreiras. Havia uma preocupação com a sustentabilidade do sistema de irrigação. Desenvolvemos um modelo de dinâmica de sistemas para a região, mas ele pode ser aplicado a outras áreas adaptando algumas variáveis de acordo com a necessidade", explica a engenheira agrícola Minella Alves Martins, primeira autora do artigo e orientanda de von Randow no Inpe com o apoio da Fapesp.
Durante a oficina, os principais desafios relatados na bacia do rio Grande estavam relacionados à disponibilidade de água —tanto do ponto de vista quantitativo como qualitativo— e aos conflitos socioambientais motivados por seu uso e pela posse irregular da terra. Mais de 90% das retiradas de água na bacia são destinadas à irrigação, de acordo com dados da ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico).
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