29/10/2024
A concentração de gases de efeito estufa —principais responsáveis pela intensificação do aquecimento global— chegou a um novo recorde global em 2023, indica relatório da OMM (Organização Meteorológica Mundial), vinculada à ONU (Organização das Nações Unidas).
O documento, publicado nesta segunda-feira (28), revela que o planeta atingiu valores máximos nas concentrações de dióxido de carbono (CO₂), metano (CH₄) e óxido nitroso (N₂O).
Segundo a OMM, o acúmulo de dióxido de carbono tem sido mais rápido "do que em qualquer outra época da existência humana", com um aumento de 11,4% em duas décadas.
A concentração de CO₂ na atmosfera atingiu média global de 420 partes por milhão (ppm) em 2023, um crescimento de 2,3 ppm em relação ao ano anterior.
Além de representar um aumento de 151% em relação aos níveis pré-industriais (anteriores ao ano de 1750), o resultado marca também o 12º ano consecutivo em que a concentração de dióxido de carbono cresceu acima de 2 ppm.
Principal gás-estufa relacionado às atividades atividades humanas, o CO₂ representa cerca de 64% do efeito do aquecimento no clima. Ainda que a maior fatia seja oriunda da queima de combustíveis fósseis —carvão, gás e petróleo—, as emissões também têm alguma variabilidade sazonal.
Na segunda metade do ano passado, o retorno do fenômeno climático El Niño, após três anos de La Niña, contribuiu para uma maior liberação de carbono, especialmente em regiões onde houve incêndios florestais intensos, como o Canadá e a Austrália.
"O boletim alerta que enfrentamos um possível ciclo vicioso. A variabilidade climática natural desempenha um grande papel no ciclo do carbono. Mas, no futuro próximo, as mudanças climáticas podem fazer com que os ecossistemas se tornem maiores fontes de gases de efeito estufa", disse Ko Barrett, vice-secretária-geral da OMM.
"Incêndios florestais podem liberar mais carbono na atmosfera, enquanto o oceano aquecido consegue absorver menos CO₂. Consequentemente, mais CO₂ poderia permanecer na atmosfera, acelerando o aquecimento global. Esses ´feedbacks´ climáticos são preocupações críticas para a sociedade humana", completou.
O chamado forçamento radiativo, que é o efeito do aquecimento no clima, dos gases de efeito estufa de longa duração aumentou 51,5% de 1990 a 2023, com o dióxido de carbono representando cerca de 81% desse salto.
Os gases-estufa têm efeito acumulativo. Devido à longa vida do CO₂ na atmosfera, o nível de temperatura já registrado persistirá por décadas, mesmo que as emissões sejam sejam rapidamente reduzidas.
"A última vez que a Terra experimentou uma concentração de CO₂ comparável foi há 3 [milhões] a 5 milhões de anos, quando a temperatura era de 2°C a 3°C mais quente e o nível do mar era 10 a 20 metros mais alto do que agora", disse a OMM no comunicado em que apresentou o levantamento.
O boletim da Organização Meteorológica Mundial contabiliza a concentração de gases de efeito estufa, e não os níveis de emissão. O documento complementa o relatório anual de emissões do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), cuja última edição foi lançada na semana passada, também na reta final para a COP29, a conferência do clima da ONU, que acontece de 11 a 22 de novembro em Baku, no Azerbaijão.
O levantamento mostrou que 2023 bateu um novo recorde de emissões: 57,1 gigatoneladas de CO₂ equivalente, o que representa um aumento de 1,3% em relação a 2022.
O resultado mostra que, embora ainda seja tecnicamente possível limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C —considerado pelos cientistas o teto para impedir os efeitos mais devastadores das mudanças climáticas—, esse cenário é cada dia mais difícil.
Para chegar a essa meta, que é o valor preferencial indicado no Acordo de Paris, de 2015, a comunidade internacional precisa se comprometer coletivamente com uma queda drástica das emissões no futuro próximo.
Pelos cálculos do Pnuma, para atingir esse resultado, a atualização das contribuições nacionalmente determinadas (as chamadas NDCs, que são as metas voluntárias de redução de emissões dos países) precisa trazer uma redução de 42% das emissões anuais até 2030 e de 57% até 2035.
Fonte: Folha de S. Paulo
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