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Peixe "fantasma" gigante que não é avistado há 19 anos reaparece no Camboja

24/10/2024

Exemplares de um peixe gigante conhecido como o “fantasma do Mekong” (ou carpa-salmão-gigante, Aaptosyax grypus) voltaram a ser avistados no Camboja quase duas décadas após a espécie ser considerada extinta.
Segundo pesquisadores, a identificação reacende a esperança pela sobrevivência da espécie e gera apelos por esforços urgentes de conservação de seu ecossistema no rio Mekong, fortemente impactado pela pesca.
Desde a classificação formal da carpa-salmão-gigante em 1991, menos de 30 indivíduos desse grupo foram registrados, sendo o último deles em 2005. Isso posicionou a espécie como criticamente ameaçada de extinção pela lista da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
No entanto, em comunicado divulgado nessa terça-feira (22), a equipe de investigadores internacionais confirmou a captura de três carpas-salmão-gigantes entre 2020 e 2023, o que sugere uma recuperação dessa população. Os achados renderam um artigo publicado no início deste mês na revista científica Biological Conservation.
As três recentes capturas dos peixes foram feitas fora da zona de distribuição central da espécie, no Rio Sesan, no Camboja, e na Província de Stung Treng, no Mekong. Isso indica que o alcance geográfico da carpa-salmão-gigante pode ser mais extenso do que se acreditava anteriormente.
“Redescobrir este animal é um motivo de esperança, não apenas para esta espécie, mas para todo o ecossistema do Mekong”, explica Bunyeth Chan, pesquisador-chefe da Universidade Svay Rieng, no Camboja. “O ecossistema do Mekong é o rio mais produtivo da Terra, produzindo mais de 2 milhões de toneladas de peixes por ano, no valor de mais de US$ 10 bilhões”.
Com cerca de 1,3 metros de comprimento e 30 kg, o peixe A. grypus tem uma protuberância notável na ponta da sua mandíbula inferior, que lembra um gancho, e uma mancha amarela marcante circundante em seus olhos. Trata-se de um animal nativo do rio Mekong.
A formação fluvial é considerada uma "superestrada de espécies" e abriga alguns dos maiores peixes de água doce da Terra. Como tantos outros gigantes aquáticos na região, a carpa-salmão-gigante enfrenta inúmeras ameaças e, apesar dos novos avistamentos, o seu futuro permanece incerto.
“Os números de Aaptosyax sp. são muito baixos, e não sabemos quantas populações permanecem, ou se elas estão conectadas”, afirma Zeb Hogan, coautor do estudo. “Mas nossa redescoberta significa que, com uma ação internacional coordenada, ainda pode ser possível salvar a espécie do esquecimento”.
Para entender melhor os comportamentos desses animais, os investigadores têm empregado técnicas não invasivas, incluindo a análise de DNA ambiental, que detecta a presença dos peixes através de material genético na água.
Outras iniciativas incluem pesquisas contínuas com envolvimento da comunidade residente ao longo do Mekong e seus afluentes. A equipe espera que isso ajude a reunir informações críticas sobre o habitat e os comportamentos da carpa-salmão-gigante.
Além desse peixe, o ecossistema amplo do rio Mekong abriga várias outras espécies ameaçadas de extinção. O peixe-gato-gigante (Pangasianodon gigas) e a arraia gigante de água doce (Urogymnus polylepis) são exemplos disso.
Para os especialistas, a captura do peixe A. grypus serve como um lembrete da rica biodiversidade presente no rio, a qual segue ameaçada. As mudanças climáticas, a degradação do habitat, a pesca excessiva e a construção de barragens causaram danos generalizados à região.
Estima-se que cerca de 25% das 1.100 espécies de peixes encontradas no rio Mekong (275) sejam endêmicas e, portanto, não existam em nenhum outro lugar. Ao mesmo tempo, a área sustenta a maior pesca interior do mundo, alimentando pelo menos 40 milhões de pessoas.
“A biodiversidade do Mekong é realmente única, e precisamos intensificar nossos esforços para estudá-la e protegê-la”, salienta Heng Kong, coautor do estudo. “Espécies como a carpa-salmão-gigante são insubstituíveis e, sem uma ação consertada, podem desaparecer para sempre”.

Fonte: Revista Galileu

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