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‘Sinfonia da Sobrevivência’ leva o espectador para as queimadas no Pantanal

22/10/2024

O Pantanal está ardendo em chamas. Ano após ano, recordes de queimadas vêm consumindo parcela significativa da vegetação do bioma e matando milhões de animais. Com experiência no registro de guerras, o cineasta Michel Coeli enfrentou a fumaça e o calor das chamas para mostrar de perto essa tragédia no comovente “Sinfonia da Sobrevivência”, documentário que teve sua première na última quinta-feira (17) na 48ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O filme é a estreia do diretor em longas e está na mostra competitiva Novos Diretores.
Rodado majoritariamente em plano subjetivo (quando a câmera assume a perspectiva do olhar de uma pessoa), o longa transforma o espectador em testemunha dos incêndios e do trabalho incansável de bombeiros, brigadistas, veterinários e voluntários no combate ao fogo e no socorro aos animais no Mato Grosso. Para isso, propõe uma experiência imersiva e sensorial, que se afasta da linguagem documental jornalística.
Além das chamas e da rica biodiversidade do Pantanal, um personagem se destaca em meio aos esforços em Mato Grosso. Bombeiro aposentado, o coronel Barroso lidera com rigor e urgência o trabalho de fornecimento de alimentos e água aos animais sobreviventes e desidratados.
“A gente só tem noção da dimensão e da complexidade da tragédia quando a vê de perto. O assunto sai da grande imprensa e a gente acha que o fogo apagou e o problema está resolvido. Não é bem assim. O impacto da devastação faz com que os animais sigam sofrendo por conta da falta de alimentos e água. O filme mostra a batalha desse bombeiro aposentado para conseguir caminhões pipa e abastecer a fauna da planície mais alagada do planeta. É uma contradição”, explica Coeli, fazendo um paralelo com as zonas de conflito e abrigos de refugiados que visitou: “São situações diferentes de sofrimento, mas todas causadas pela ação do homem e pela inércia dos Estados”.
Sem data marcada para estrear nos cinemas, “Sinfonia da Sobrevivência” terá três exibições durante a Mostra. Além da sessão de quinta-feira (17) que ocorreu na Reserva Cultural, o longa poderá ainda ser visto na segunda-feira (21) às 13h45 no Cinesystem Frei Caneca 5 e na sexta-feira (25) às 15h15 no Cinesystem Frei Caneca 1.
Apenas em 2020, ano das piores queimadas no Pantanal, cerca de 26% da vegetação nativa do bioma foram consumidas pelo fogo, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Em 2020, quase 60% dos focos de incêndios no Pantanal foram provocados por ações humanas, segundo investigação dos ministérios públicos de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.
Os incêndios no bioma afetaram pelo menos 65 milhões de animais vertebrados e 4 bilhões de invertebrados, segundo estudo do Ibama, da Embrapa e da Cenap (Conservação de Mamíferos Carnívoros), e seus impactos sobre a biodiversidade podem ir muito além do que sabemos.
As queimadas também comprometem enormemente a saúde humana e o fornecimento de recursos fundamentais à nossa sobrevivência, como a água. A situação também foi grave neste ano.
Michel Coeli é diretor e fotógrafo formado pela Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Criou e dirigiu a série “Que Mundo É Esse?”, exibida pela GloboNews, e colaborou em projetos com a National Geographic, VICE, HBO e The Times, tendo filmado em mais de 50 países.
Registrou momentos marcantes, como as guerras do Iraque, da Síria e da Ucrânia, e a crise dos refugiados na Europa, além de abordar questões ambientais como as caças de elefantes para extração de marfim no Quênia, de baleias nas Ilhas Faroe, e o projeto GreenWall na África. Dessa forma, busca capturar a essência complexa e angustiante do mundo contemporâneo. Seu curta “No Olho do Furacão”, sobre as manifestações no Brasil em 2013, ganhou destaque na imprensa estrangeira e foi exibido no International Film Festival and Forum on Human Rights, em Genebra. “Sinfonia da Sobrevivência” é seu primeiro longa-metragem autoral.
Em meio às chamas das queimadas que atingem o Pantanal, o diretor Michel Coeli testemunha de forma imersiva a luta dos animais por sobrevivência em busca de água e comida. Bombeiros e voluntários tentam minimizar os impactos do desastre enquanto enfrentam o fogo incontrolável e as burocracias do Estado.

Veja quais serão as próximas sessões no CicloVivo

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