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Comunidade remota gera própria energia solar no Amazonas

22/10/2024

A transição energética justa, inclusiva e popular já é realidade na Vila Limeira, comunidade de 90 pessoas, localizada à margem do Rio Purus, a 853 km de Manaus, no Amazonas. Com a instalação da minirrede de energia solar fotovoltaica, Vila Limeira ficou conhecida na região como um modelo que deu certo e carrega o título de a primeira comunidade do sul do Amazonas com energia 100% solar. Mais do que isso: a comunidade se tornou testemunha do impacto positivo que a energia tem sobre o desenvolvimento econômico e social das pessoas.
Se antes a comunidade tinha apenas três horas diárias de energia a gerador de diesel, atualmente são 24 horas de fornecimento em casa e nas ruas da vila. E muita coisa mudou, a começar pela iluminação noturna constante. A energia trouxe também melhora para a saúde e o estilo de vida no local, com o uso de geladeiras para conservar alimentos nos quais antes se adicionava grandes quantidade de sal (para que durassem mais), e oportunidades de desenvolvimento, como estudar mais e poder cursar faculdade à distância.
“Hoje temos oito pessoas da nossa comunidade cursando faculdade, quatro mulheres e quatro homens. Esses estudantes saíram da nossa escola comunitária”, comemora o professor Aldo Junior Oliveira de Godoy. “Temos água na torneira e podemos tomar banho nas nossas casas. Os mais jovens estão acessando a universidade. Energia é o meio de desenvolvimento”, conta o pastor Gilase Oliveira. Ele lembra que antes, “a gente gastava 10 litros de diesel para ter eletricidade três horas por noite. Custava R$ 100 cada hora. Por ano, cada família pagava R$ 5 mil, hoje paga R$ 720 por ano, dinheiro que vai para um fundo da comunidade”. Como não há mais custo para gerar a energia, os moradores verificam mensalmente o consumo de suas casas e depositam o valor em um fundo comunitário, que planejam aplicar na manutenção e expansão da própria rede.
O projeto Vila Limeira 100% Solar surgiu de uma iniciativa conjunta da Apavil – Associação dos Moradores da Vila Limeira e do WWF-Brasil, com apoio da Fundação Charles Stewart Mott e autorização do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). Em agosto de 2021 a usina solar foi inaugurada.
Na Vila Limeira, todas as casas, a escola, o centro comunitário e a maioria das atividades produtivas acontecem muito próximas. Por isso, optou-se por projetar e implantar uma minirrede off grid, conhecida no Brasil como Microssistema Isolado de Geração e Distribuição de Energia Elétrica (MIGDI). Somando todas as demandas energéticas locais, concluiu-se que uma usina solar de 30kWp seria suficiente para as expectativas comunitárias. O sistema foi projetado com equipamentos e uso de tecnologia no estado da arte, incluindo banco de baterias de lítio, com durabilidade de 15 anos e medidores individuais digitais em todas as unidades consumidoras.
Aurélio Souza, engenheiro da UsinAzul que desenhou a minirrede da Vila Limeira, conta que o sistema foi projetado considerando a demanda daquela época, mas já prevendo uma folga por conta da projeção de crescimento, em função da demanda reprimida de quem não tinha energia.
“A gente sabe que existe um desejo muito grande por ter aparelhos eletrodomésticos. Quando começamos a planejar o tamanho e a capacidade do sistema de Vila Limeira, fizemos o levantamento de carga que existia naquela época e uma projeção de crescimento. Três anos depois, o sistema ainda dá conta do que é demandado de energia e todo mundo tem eletrodomésticos em casa”, explica Souza.
Isso evidencia que a experiência da usina solar na Vila Limeira tem potencial para se tornar política pública para pessoas que vivem na floresta e estão desconectadas do sistema elétrico brasileiro. Segundo estudo do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), estima-se ser necessário um investimento entre R$ 7,2 e 38 bilhões para atender ao objetivo proposto no Programa Luz para Todos (LpT) de levar energia elétrica para quase um milhão de pessoas que ainda vivem sem energia na Amazônia Legal.
Para Alessandra Mathyas, analista de conservação do WWF-Brasil, o caso da Vila Limeira traz uma solução para os povos distribuídos na floresta, e que seguem isolados dos sistemas elétricos brasileiros. “Pode ser escalável, desde que sejam observadas as diversidades dos territórios, sem a necessidade de mudança na estrutura física de cada construção de uma comunidade, principalmente daquelas onde a vida comunitária acontece muito próxima e mantendo a usina a uma distância segura, com moradores treinados para a manutenção e leitura de medidores.”

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