22/10/2024
Um dos momentos mais memoráveis vividos por Kotchakorn Voraakhom quando era criança em Bangkok, na Tailândia, nos anos 1980, foi o dia em que ela brincou nas águas da enchente em frente à sua casa, em um pequeno barco construído pelo seu pai.
"Eu fiquei tão feliz por não precisar ir à escola porque não sabíamos como chegar lá", relembra a arquiteta paisagista, moradora na capital tailandesa.
Mas, cerca de 30 anos depois, as cheias deixaram de ser uma alegre recordação da infância e se tornaram uma experiência devastadora.
Em 2011, Voraakhom e sua família, entre milhões de outras pessoas em Bangkok, foram desalojados, quando fortes chuvas inundaram grande parte da Tailândia e as águas chegaram até a capital.
Foram as maiores enchentes do país em décadas – um desastre nacional que durou mais de três meses e matou mais de 800 pessoas. Os cientistas relacionaram o aumento das chuvas e as enchentes às emissões de gases do efeito estufa, causadas pelas atividades humanas.
O desastre abalou Voraakhom profundamente. Ela acreditou que aquela seria a hora de usar seus conhecimentos para fazer algo pela sua cidade natal.
Ela abriu seu próprio escritório de arquitetura e paisagismo, chamado Landprocess. E, na última década, Voraakhom projetou parques, telhados verdes e espaços públicos na baixa altitude da cidade, para ajudar as pessoas a aumentar sua resistência às enchentes.
Seu projeto mais curioso até agora talvez seja o enorme teto de uma universidade tomada pela natureza, inspirado nos terraços de produção de arroz – uma forma de agricultura tradicional, praticada na Ásia há cerca de 5 mil anos.
A Tailândia, a China e outros países asiáticos são vulneráveis aos impactos climáticos.
Neste ano, o número de enchentes significativas na China foi o mais alto desde o início dos registros. Já os agricultores tailandeses estão expostos ao aumento do calor, das secas e das cheias, causado pelas mudanças climáticas.
O teto da universidade, projetado por Voraakhom, faz parte de uma tendência maior. Os arquitetos asiáticos estão buscando inspiração nos terraços de arroz e em outras tradições agrícolas da região, para ajudar as comunidades urbanas a reduzir enchentes e alagamentos.
Os exemplos incluem parques alagáveis em cidades chinesas até casas no Vietnã com telhados inspirados em campos de arroz.
Para Voraakhom, "muitas das respostas para o futuro das mudanças climáticas, na verdade, estão no passado."
Na Universidade Thammasat, na zona norte de Bangkok, pequenos campos de arroz em diferentes níveis caem em cascata do topo do edifício, ao longo do telhado verde projetado por Voraakhom. A estrutura permite que o campus colete água da chuva e cultive alimentos.
Existem quatro tanques em torno do edifício para capturar e reter o fluxo de água. Nos dias secos, esta água é bombeada de volta para cima, utilizando a energia limpa gerada pelos painéis solares instalados no teto. A água é então usada para irrigar os campos de arroz no telhado.
Construído em 2019, o local formava, na época, a maior fazenda urbana em telhados do continente asiático. Dos seus 22 mil metros quadrados, 7 mil foram dedicados à agricultura orgânica.
Em comparação com um projeto feito de concreto, o telhado verde pode reduzir a velocidade de escoamento da água da chuva em cerca de 20 vezes, segundo as estimativas de Voraakhom. O fluxo excessivo de água da chuva para a terra é um dos grandes problemas de Bangkok.
O telhado verde também pode reduzir a temperatura dentro do edifico em 2 a 4 °C durante os quentes verões que marcam a capital tailandesa, segundo a arquiteta.
Os terraços são formados por campos de arroz em diferentes níveis. Eles são normalmente criados por pequenos agricultores ao longo das encostas de morros e montanhas, para maximizar o uso da terra.
A matéria na íntegra pode ser lida no g1
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