15/10/2024
O tamanho médio das populações de vida selvagem monitoradas sofreu uma catastrófica redução de 73% em apenas 50 anos (1970-2020). É o que revela a mais recente edição do Relatório Planeta Vivo 2024 do WWF, que está sendo lançado a poucos dias da Conferência de Biodiversidade da ONU, que será realizada em Cali, na Colômbia. O documento alerta que a Terra se aproxima de pontos de não retorno perigosos, que representam graves ameaças para a humanidade. De acordo com os autores, um grande esforço coletivo será necessário nos próximos cinco anos para enfrentar as crises climática e de biodiversidade.
O relatório se baseia no Índice Planeta Vivo, fornecido pela SZL (Sociedade Zoológica de Londres) e que inclui quase 35 mil tendências populacionais de 5.495 espécies monitoradas entre 1970-2020. Esse conjunto de dados indica que o maior declínio foi nos ecossistemas de água doce (-85%), seguido pelos terrestres (-69%) e pelos marinhos (-56%).
A perda e degradação de habitat, impulsionada principalmente por nossos sistemas alimentares, são as ameaças mais reportadas para as populações de vida selvagem em todo o mundo, seguidas por superexploração, espécies invasoras e doenças. As mudanças climáticas representam uma ameaça adicional, especialmente para as populações de vida selvagem na América Latina e no Caribe, que registraram uma impressionante queda média de 95%.
O declínio nas populações de vida selvagem constitui um alerta precoce do risco crescente de extinção e da possível perda de ecossistemas saudáveis. Quando os ecossistemas são danificados, eles deixam de fornecer à humanidade os benefícios dos quais dependemos – ar limpo, água e solos saudáveis para a produção de alimentos – e tornam-se mais vulneráveis a pontos de inflexão.
Um ponto de não retorno ocorre quando um ecossistema é empurrado além de um limite crítico, resultando em mudanças substanciais e potencialmente irreversíveis. Pontos de não retorno globais, como o colapso da Floresta Amazônica e a morte em massa de recifes de corais, criaram ondas de choque além da área imediata, afetando a segurança alimentar e os meios de subsistência. Esse alerta do Relatório Planeta Vivo é dado no mesmo momento em que vemos os incêndios na Amazônia atingirem seu nível mais alto em 14 anos. No início deste ano, foi confirmado um quarto evento global de branqueamento em massa de corais.
“A natureza está emitindo um pedido de socorro. As crises interligadas de perda da natureza e mudanças climáticas estão empurrando a vida selvagem e os ecossistemas além de seus limites, com pontos de não retorno globais que ameaçam danificar os sistemas de apoio à vida na Terra e desestabilizar as sociedades. As consequências catastróficas de perder alguns dos nossos ecossistemas mais preciosos, como a Floresta Amazônica e os recifes de corais, seriam sentidas por pessoas e pela natureza ao redor do mundo”, alerta Kirsten Schuijt, Diretora Geral do WWF Internacional.
Por outro lado, o índice revela algumas populações que se estabilizaram ou cresceram graças a esforços eficazes de conservação, como o aumento de cerca de 3% ao ano entre 2010 e 2016 da subpopulação de gorilas-das-montanhas nas montanhas Virunga (foto da capa), na África Oriental, e a recuperação das populações de bisão-europeu na Europa Central. No entanto, sucessos isolados não são suficientes.
Os países já concordaram com metas globais ambiciosas para interromper e reverter a perda da natureza (o Marco Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal), limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC (o Acordo de Paris) e erradicar a pobreza (os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU). Contudo, o Relatório Planeta Vivo indica que os compromissos nacionais e as ações concretas estão muito aquém do necessário para cumprir as metas para 2030 e evitar pontos de não retorno perigosos.
As cúpulas internacionais de biodiversidade e clima que acontecerão este ano – COP16 e COP29 – são uma oportunidade para que os países elevem seus compromissos e sua ação à escala do desafio. O WWF pede que os países produzam e implementem planos nacionais mais ambiciosos para a natureza e o clima (NBSAPs e NDCs) que incluam medidas para reduzir o consumo excessivo global, interromper e reverter tanto a perda de biodiversidade doméstica quanto importada e reduzir as emissões – tudo de forma equitativa.
O WWF insta os governos a desbloquearem mais financiamento público e privado para permitir ações em grande escala e alinhar melhor suas políticas e ações de clima, natureza e desenvolvimento sustentável. Tanto governos quanto empresas devem agir rapidamente para eliminar atividades com impactos negativos na biodiversidade e no clima, redirecionando o financiamento de práticas prejudiciais para atividades que cumpram as metas globais.
“Embora a situação seja desesperadora, ainda não ultrapassamos o ponto de não retorno. Temos acordos globais e soluções para colocar a natureza no caminho da recuperação até 2030, mas até agora houve pouco progresso e falta de urgência. As decisões tomadas e as ações realizadas nos próximos cinco anos serão cruciais para o futuro da vida na Terra. O poder − e a oportunidade − estão em nossas mãos para mudar o rumo. Podemos restaurar nosso planeta vivo se agirmos agora”, acrescenta Kirsten Schuijt.
Andrew Terry, Diretor de Conservação e Política da ZSL, afirma que o Índice Planeta Vivo destaca a perda contínua de populações de vida selvagem globalmente, mas que há caminhos. “Não estamos condenados a sofrer essa perda. Sabemos o que fazer e sabemos que, se dada a chance, a natureza pode se recuperar − o que precisamos agora é de um aumento na ação e na ambição. Temos cinco anos para cumprir os compromissos internacionais de restaurar a natureza até 2030. Os líderes mundiais se reunirão em breve para a COP16 e precisamos ver respostas fortes deles e uma urgente ampliação dos recursos para alcançar esses compromissos e nos colocar de volta no caminho da recuperação.”
Já Helga Correa, especialista em Conservação do WWF-Brasil, ressalta que a solução é coletiva e que os países precisam arcar com suas responsabilidades proporcionalmente.
“Sabemos que a contribuição de cada nação para as crises climáticas e ambientais é distinta, um grupo pequeno de nações é responsável pela maior parte do consumo que gera o desmatamento e a degradação ambiental e a emissão de gases efeito estufa. Ao mesmo tempo, as populações humanas que menos contribuem para a crise climática e de biodiversidade, são as mais afetadas pelos impactos das mudanças que já se pronunciam”, afirma. “É um equívoco imaginarmos que existe solução individual para esses problemas. Somente ecossistemas bem manejados, garantirão a existência de biodiversidade, água, polinizadores e estabilidade climática, por exemplo, e essa é uma realidade possível e que beneficiará de cidades a produtores rurais e os diversos setores econômicos da atividade humana”, completa.
Para a especialista, o Brasil, pelas suas dimensões, biodiversidade e diversidade de povos e comunidades tradicionais, tem a responsabilidade e oportunidade de ser um líder nessas transformações necessárias “que barrem as emissões e perda de biodiversidade e faça florescer as soluções baseadas na natureza”, finaliza.
Fonte: CicloVivo
Parque da Tijuca lança pista de mountain bike para crianças
21/11/2024
Desmatamento na Mata Atlântica cai 55% no primeiro semestre
21/11/2024
Maior peixe do mundo é flagrado por pesquisadores pela 1ª vez no mar do ES
21/11/2024
Recorde de queimadas no pantanal nos últimos anos ameaça espécie de cobra exclusiva do bioma
21/11/2024
Área queimada no Brasil de janeiro a outubro equivale ao território de Tocantins
21/11/2024
Máquina de ´dessalinização´ das águas é instalada no Arquipélago do Bailique, no AP
21/11/2024