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Trajetória e intensidade explicam estragos maiores do furacão Helene sobre Milton nos EUA

15/10/2024

O Milton, furacão que atingiu o sudeste dos Estados Unidos nesta semana, matou ao menos 14 pessoas e chegou a deixar 3,4 milhões de pontos sem energia na Flórida, em um rastro de destruição que deve equivaler a cerca de US$ 50 bilhões (mais de R$ 281 bilhões), segundo o presidente americano, Joe Biden. Apesar das cifras alarmantes, o saldo foi menos grave do que o esperado.
Antes de o fenômeno tocar o solo, na noite da última quarta-feira (9), meteorologistas alertavam que poderia ser o pior evento climático do tipo em cerca de cem anos, e Biden afirmou que as ordens de retirada eram uma questão "de vida ou morte". As declarações ocorriam na esteira do furacão Helene, que passou por seis estados americanos no fim de setembro e matou mais de 230 pessoas.
O Milton chegou a ser comparado ao Katrina, furacão que atingiu principalmente Nova Orleans em 2005 e matou mais de 1.300 pessoas —a associação era justificada pela força com que o evento mais recente chegava à costa. Em menos de 24 horas, ele saiu da categoria 1, com ventos de até 153 km/h, para a 5, a mais alta, que engloba furacões com ventos acima de 252 km/h.
Antes de tocar a terra, porém, sua intensidade diminuiu mais do que o previsto —chegando à Flórida, já estava na categoria 3, com ventos entre 178 km/h e 208 km/h. À medida que atravessava a Flórida, foi rebaixado novamente para a categoria 2.
Embora suficiente para causar a destruição observada nos últimos dias, o evento foi menos intenso do que o Helene. Ao longo de sua trajetória no golfo do México, o furacão de setembro não chegou à categoria 5, como o Milton, mas tocou a terra no dia 26 do último mês na categoria 4.
O caminho que os dois eventos tomaram também influenciou na dimensão dos danos. "O Milton logo atravessou a Flórida e foi para o oceano, já o Helene seguiu continente adentro até perder força", afirma o meteorologista e professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Wanderson Luiz Silva.
Enquanto o primeiro ficou cerca de 12 horas no solo, o segundo entrou no continente em direção ao centro dos EUA e permaneceu em terra por quatro dias. Atingiu, além da Flórida, o interior da Geórgia e das Carolinas do Sul e Norte, para depois virar tempestade tropical no Tennessee.
Ainda que as mortes em um furacão estejam normalmente mais relacionadas a enchentes do que ao vento em si, a intensidade desse tipo de evento está diretamente ligada ao volume de chuvas, de acordo com Silva —ou seja, quanto mais alta a categoria, maior a possibilidade de precipitações elevadas.
Outro possível fator para um número menor de mortes foi a organização antes da chegada do furacão mais recente. "Eles se prepararam muito mais para receber o Milton do que o Helene, talvez até pelo trauma sofrido anteriormente", afirma o meteorologista Marcio Cataldi, professor da UFF (Universidade Federal Fluminense). "A Flórida tem habitações mais seguras e menos áreas vulneráveis."
Esse cenário, segundo o pesquisador, joga luz sobre a discrepância do impacto do aquecimento global em diferentes classes sociais. Segundo estudos do grupo de pesquisa WWA (World Weather Attribution), as chuvas e os ventos de ambos os furacões foram mais intensos devido à mudança climática. "Um furacão como esses no Brasil ou na África, que emitem muito menos gases de efeito estufa, por exemplo, mataria muito mais gente", diz Cataldi.

Fonte: Folha de S. Paulo

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