08/10/2024
Do furacão Helene nos Estados Unidos ao tufão Yagi, no sudeste asiático, as supertempestades continuam atingindo o planeta e os cientistas alertam que o aquecimento global está amplificando sua força destrutiva a níveis sem precedentes.
Uma pesquisa recente revelou que a mudança climática está intensificando os ciclones tropicais.
É assim que essas descobertas são explicadas:
Tempestades potencializadas
As superfícies oceânicas mais quentes liberam mais vapor d´água, o que dá mais energia às tempestades e, consequentemente, intensificando seus ventos. Além disso, uma atmosfera mais quente permite reter mais água e, portanto, as chuvas são mais fortes.
"Em média, o potencial destrutivo dos furacões aumentou cerca de 40% devido ao aquecimento de 1ºC que já ocorreu", explicou à AFP Michael Mann, climatologista da Universidade da Pensilvânia.
Em um artigo recente publicado na revista acadêmica americana Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), Mann juntou-se aos que defendem a ampliação da escala Saffir-Simpson e a inclusão da categoria 6 para classificar uma "nova classe de tempestades monstruosas" com ventos sustentados acima de 308 km/h.
Segundo especialistas, a mudança climática abriu caminho para a formação de Helene, tempestade que atingiu o seu ápice como furacão de categoria 4.
"O conteúdo de calor do oceano estava em um nível recorde, o que deu muito combustível e potencial para que uma tempestade como esta ganhasse força e se tornasse muito grande e prejudicial", declarou à AFP David Zierden, climatologista do estado da Flórida.
Rápida intensificação
A "rápida intensificação", que ocorre quando um furacão acelera 30 nós em um período de 24 horas, também se tornou mais comum.
"Se a intensificação ocorrer muito perto da costa antes de tocar o solo, pode ter um efeito enorme, como foi visto na semana passada no caso de Helene", disse à AFP Karthik Balaguru, cientista climático do Laboratório Nacional do Noroeste do Pacífico no Departamento de Energia.
Há uma dupla explicação para o fenômeno, segundo Balaguru.
O aquecimento deixa padrões climáticos que reduzem o cisalhamento do vento (mudanças em sua velocidade e direção conforme a altura) ao longo da costa atlântica da América do Norte e da costa do Pacífico na Ásia.
Este fenômeno tende a destruir o núcleo da tempestade e, por outro lado, a mudança climática provoca maior umidade ao longo da costa em comparação ao mar aberto.
Já o aumento do nível do mar (cerca de 30 centímetros no século passado) faz com que os ciclones operem a partir de uma base mais elevada, o que amplifica as formações de tempestades, segundo Zierden.
Com que frequência?
Embora o impacto da mudança climática na frequência com que ocorrem os ciclones continue sendo investigado, estudos sugerem que pode aumentá-la ou diminui-la, dependendo da região.
Paradoxalmente, as partículas poluentes geradas pela indústria, veículos e o setor energético bloqueiam a luz solar e compensam parcialmente os efeitos de aquecimento dos gases de efeito estufa.
Em um artigo da Science Advances, o cientista da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA, na sigla em inglês) descobriu que as emissões de partículas dos Estados Unidos e Europa atingiram o pico por volta de 1980, e que o seu declínio subsequente provocou um aumento na frequência dos furacões no Atlântico.
Do outro lado do mundo, na Ásia, os elevados níveis de poluição na China e Índia podem estar suprimindo a formação mais frequente de tempestades no Pacífico ocidental, disse Murakami.
Outro estudo do mesmo especialista descobriu que a atividade humana aumentou a atividade dos ciclones tropicais na costa do Japão.
Em meio a um "aumento dramático" de furacões na última semana, Mann alerta que a temporada destes fenômenos estende-se até 30 de novembro.
Fonte: Folha de S. Paulo
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