24/09/2024
Os problemas gerados pelas queimadas recordes no Brasil não acabam com o fim do fogo em áreas florestais. Impactos permanecerão por longo período, como a perda de biodiversidade e a degradação do solo. Por isso, projetos de reflorestamento associados a novas tecnologias serão ainda mais essenciais: de hormônios para crescimento de plantas a drones, a agenda do restauro traz soluções após as cinzas.
De acordo com o MapBiomas, entre 1986 e 2021 (dado mais atualizado), de 11% a 25% da vegetação nativa do Brasil foi degradada, uma área entre 60,3 e 135 milhões de hectares, incluindo de 5% a 10% da Amazônia. Em 2012, o governo brasileiro assinou o compromisso, no Acordo de Paris, de recuperar 12 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030, mas não há estatísticas de resultados. Na semana passada, o Ministério do Meio Ambiente pôs em consulta pública a nova versão do Plano Nacional de Vegetação Nativa (Planaveg), com diretrizes para cumprir a meta.
Estudos já demonstraram que o combate ao desmatamento não é mais suficiente para deter as mudanças climáticas, e o reflorestamento se tornou uma agenda irmã. Segundo o Monitor do Fogo, do MapBiomas, 11,39 milhões de hectares foram queimados no país de janeiro a agosto. São campos, florestas ou fazendas que podem ter sido inteiramente devastados ou que deixarão de ser férteis.
Na Amazônia, um projeto da Universidade Federal do Pará (UFPA) promete encurtar em até 20 anos o tempo de crescimento de árvores. O estudo coordenado pelo biólogo Emil Hernandez começou em outubro de 2022 e testou a aplicação de hormônios de crescimento em 20 espécies em Volta Grande do Xingu (PA), como o jatobá, seringueira e jenipapo. O trabalho é uma parceria com a Norte Energia na área de Belo Monte, uma das ações de compensação pela instalação da hidrelétrica.
O plantio acontece em pequenos núcleos adensados, com uma espécie amazônica no centro, de crescimento lento, rodeada por outras espécies menores, que crescem mais rapidamente. Essas menores recebem um hormônio que eleva as taxas de sobrevivência a 90%, quando o normal é 60% em replantios de mudas. Assim, evitam a propagação do capim, combustível para o fogo. No centro do núcleo, as maiores recebem outro hormônio, que encurta o ciclo de floreamento, e começam a dar frutos em poucos anos.
— Uma castanheira começa a dar frutos de 15 a 20 anos, mas, com esse processo, a gente reduz para três. Isso atrai a fauna, que vai dispersar as sementes, e reduz o tempo para restauração e devolução dos serviços ecológicos de uma terra degradada. A solução pode ser usada em qualquer solo — explica Hernandez, que tenta expandir o trabalho. — Ainda conseguimos controlar o capim sem uso de agrotóxico. Os núcleos funcionam como barreiras ao fogo, pois evitam a propagação do capim, que é muito inflamável.
Aumento da eficiência do solo também é a premissa da InPlanet, que atua no Brasil há dois anos. A startup leva pó de rocha excedente da mineração a campos agrícolas. Resultado do intemperismo acelerado de rochas, um processo de decomposição natural turbinado, o pó remineraliza o solo, tornando-o mais fértil e com maior retenção de água.
— A aplicação produz um novo solo. Além de tornar mais fértil, sequestra mais CO2 da atmosfera — resume Niklas Kluger, cofundador da InPlanet, cujo projeto piloto no Brasil foi em 20 hectares de agrofloresta. — Essa restauração se aplica a praticamente todas as condições agrícolas, mas especialmente no solo tropical, por isso atuamos no Brasil. Há um potencial muito grande de usar o pó em terras degradadas. A Amazônia tem florestas muito antigas, precisa remineralizar esse solo para que a vegetação nativa tenha chance de crescer de novo.
Criada neste ano, a startup nacional AutoAgroMachines está na fase final dos testes do Forest.Bot, um robô que utiliza inteligência artificial para o plantio automatizado de mudas em grandes áreas de silvicultura. Projetada para terrenos difíceis, incluindo de reflorestamento, a instalação pode plantar até 1.800 mudas por hora em uma área equivalente a mais de um Maracanã.
A franco-brasileira Morfo busca dar escala à restauração de florestas com drones, que fazem a dispersão de sementes — não só otimizando o trabalho como facilitando o acesso a áreas remotas — e o monitoramento das terras. Além disso, desenvolveu uma cápsula orgânica, onde a semente é colocada, o que aumenta sua taxa de sobrevivência a 80%. A dispersão é feita com drones de três metros, que carregam até 40 quilos de sementes.
CEO da Morfo Brasil, Gregory Maitre explica que o reflorestamento se desenvolve em quatro etapas, começando com diagnóstico da área e coleta de amostras de solo para inventário da biodiversidade:
— Depois, as condições são reproduzidas em laboratório. Com o banco de sementes, testamos qual vai melhor em cada parcela de área degradada e finalizamos o plano de restauração. Em seguida, usamos drones de grande porte, que conseguem semear até 50 hectares por dia. A última etapa é de monitoramento, com levantamento do solo e inventário florestal.
Drones também são usados na restauração de uma antiga fazenda madeireira no Parque Nacional Guaricana, no Paraná. A comunidade indígena Tupã Nhe’é Kretã, que vive no território, recebeu capacitação em restauração florestal pelo projeto do Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento (Lactec), com gestão do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), através do Projeto Mata Atlântica. Além de trabalharem na produção e plantio de mudas, os indígenas fazem o monitoramento com drones. Coordenado essencialmente por mulheres da aldeia, o trabalho já recuperou 100 hectares degradados.
Outro projeto apoiado pelo Funbio que também tem cooperação indígena foi desenvolvido pela bióloga Letícia Koutchin Reis, da UFMS. O seu estudo experimentou o transplante de plântulas (estágio inicial da planta) para novos ambientes em processo de restauração, no Pantanal.
— Essa técnica pode ser priorizada em áreas afetadas pelos incêndios, fornecendo um conjunto de ferramentas e estratégias para mitigar os danos e promover a recuperação do bioma — explica Letícia Koutchin Reis, que é apoiada pelo programa Bolsas FUNBIO - Conservando o Futuro.
Agregar valor comercial é uma necessidade para que projetos de reflorestamento ganhem escala. No trabalho da Inocas, o foco é a cadeia da macaúba, uma palmeira que produz um coco de onde se extraem óleos e farinhas. A empresa prevê recuperar de 47 a 55 mil hectares de terra degradada através de sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF).
Nesse processo, a macaúba é plantada junto a outras plantas de crescimento rápido em terras quase sempre de agropecuária familiar. Assim, a terra se regenera, a antiga produção é otimizada, e a macaúba oferece novas oportunidades de negócio. A Inocas, que é apoiada pela Aceleradora de Impacto da Amazônia (Amaz) do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam), já atua em 90 fazendas em Minas, São Paulo e Pará.
— Estamos em três biomas: Cerrado, Mata Atlântica e Amazônia. O foco são os pastos degradados, onde a macaúba pode fazer muita diferença, facilitando mourões de cerca, conforto térmico e proteína para o gado. Assim é possível aumentar o rebanho, sem precisar abrir novas áreas para pasto — explica Johannes Zimpel, diretor executivo da Inocas.
Fonte: O Globo
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