17/09/2024
Na Austrália, ele foi caçar plantas de helicóptero e atravessou águas infestadas de crocodilos para ver um nenúfar florescer. Nas Ilhas Maurício, coletou um espécime na beira de um penhasco. No mês passado, procurando lírios em um afluente do rio Orinoco, na Colômbia, repleto de piranhas, pulou de prancha em prancha na escuridão completa, às quatro da manhã, para chegar a um flutuante.
"Não é que eu seja tão ousado assim. Essas situações simplesmente surgem, e não são extremas como as do Superman. Às vezes, é mais Peter Sellers do que Indiana Jones", disse Carlos Magdalena, pesquisador de horticultura do Jardim Botânico Real de Kew, em Londres.
Sua responsabilidade principal nesse complexo de jardins e instituições de pesquisa é cuidar das plantas tropicais. Mas ele também é conhecido como "o messias das plantas", título concedido por um jornal espanhol, em 2010, por seu resgate de várias espécies vegetais à beira da extinção.
Sua fama se ampliou quando David Attenborough, decano britânico dos documentários sobre a natureza, repetiu o slogan de "messias das plantas" na estreia de um de seus filmes, em 2012, que incluía uma cena de Magdalena propagando o lírio pigmeu.
A atenção, sobretudo de uma figura tão venerada como Attenborough, de início o assustou. "Imagine como é quando um Deus chama você de messias", contou.
É apropriado que o momento estelar de Magdalena no documentário o mostre trabalhando com lírios, ordem de plantas pela qual é apaixonado e a primeira que ele cultivou quando tinha oito anos na propriedade de seus pais, um pedaço de terra na região das Astúrias, no norte da Espanha. O lírio pigmeu foi o que ajudou Magdalena, agora com 51 anos, a ganhar a atenção do público.
O menor nenúfar do mundo, Nymphaea thermarum, cuja flor tem o tamanho de uma unha, era uma das estrelas do Jardim de Kew. Em 2014 foi roubado. O ladrão nunca foi pego, mas Magdalena, que cuidara da pequena planta, deu entrevistas à imprensa, explicando a raridade da flor, nativa de Ruanda. Desde então, assumiu o papel de porta-voz do silencioso reino vegetal. "As plantas não falam, não choram e não sangram. Por isso, decidi falar por elas", afirmou.
Caçula de cinco irmãos, ele era um estudante mediano, mas devorava a enciclopédia de jardinagem de seus pais; já a havia lido 12 vezes quando completou oito anos. "Eu preferia viver com as formigas", disse sobre sua infância.
A mãe cultivava flores e o pai se dedicava à agricultura como hobby, de modo que a natureza se tornou central na visão de mundo de Magdalena. O avô o levava em passeios de burro, apontando o nome das plantas e dos animais, hábito que ele herdou. "Nunca superei aquela fase em que as crianças apontam para tudo na natureza."
Com poucas oportunidades de trabalho nas Astúrias, onde administrava um bar, se mudou para Londres em 2001. Em muitos aspectos, o Reino Unido era diferente do lugar onde ele nasceu, mas ambos tinham algo em comum: paisagens úmidas e verdes. No começo, ele trabalhou no setor de hotelaria. Até que, em um dia de 2002, foi ao Jardim de Kew.
Observando através da condensação que nublava as janelas de uma estufa tropical, ele sonhou que "todas aquelas plantas poderiam estar à minha disposição". Enviou um e-mail à Escola de Horticultura de Kew, e o diretor o convidou para uma visita. Os dois se deram bem, e, apesar da falta de qualificações profissionais ou acadêmicas, Magdalena conseguiu um estágio não remunerado.
Quatro meses depois, começou um trabalho temporário como assistente de propagação na estufa dos seus sonhos. "Era a hora de eu me destacar."
A primeira planta que salvou da extinção foi o café-marrom, ou Ramosmania rodriguesii, árvore que atinge a altura de um homem e tem flores brancas características em forma de estrela. Endêmica da ilha mauriciana de Rodrigues, nenhum exemplar vivo havia sido visto desde 1877 —até que uma criança de uma escola encontrou outro espécime, há cerca de 45 anos.
Um corte da planta foi enviado para o Jardim de Kew e, embora o clone tenha florescido, a planta não produziu sementes —até a chegada de Magdalena. No que se tornou parte da tradição botânica, ele passou cinco meses estudando intensamente a planta. Depois de muitos experimentos e 200 tentativas de polinização, conseguiu obter sementes, e cerca de 20 delas foram enviadas para Maurício, onde a bela flor agora pode ser vista novamente.
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