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Após 9 anos, metais do desastre de Mariana chegam às baleias no litoral; ´desastre continua acontecendo´, diz pesquisador

12/09/2024

Pela primeira vez, pesquisadores constataram a presença de metais provenientes do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, Minas Gerais, há quase nove anos, em todos os níveis de vida estudados na foz do Rio Doce e na costa marinha do Espírito Santo e Sul da Bahia.
Entre os animais impactados, estão peixes, aves, tartarugas, toninhas e até baleias. Nos estudos anteriores, a contaminação era identificada principalmente em animais microscópicos e da base da cadeia alimentar. Mas agora, ficou provado que os metais também atingiram os grandes animais.
E as consequências são várias, como contaminação da água do rio e da vida marinha no litoral, passando pelo nascimento de espécies com anomalias e deformadas a casos de tumores em animais.
Os dados estão no 5° relatório anual dos ambientes dulcícola, costeiro e marinho, ao qual o g1 teve acesso com exclusividade, e detalham as principais conclusões sobre a saúde dos ecossistemas aquáticos monitorados pelo Programa de Monitoramento da Biodiversidade Aquática (PMBA).
"A gente coleta amostras de água, sedimento, areia e lama dos diversos ambientes: doce, costeiro, praia, manguezais, restingas, plataforma continental, e toda a cadeia trófica, desde o produtor primário, o plâncton, o fitoplâncton, o zooplâncton, larvas de peixes, larvas de caranguejos, bentos (que são os organismos que vivem no fundo), até grandes animais, como cetáceos, aves, tartarugas", pontuou o coordenador técnico do PMBA e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Fabian Sá.
Trinta e sete instituições de ensino de todo o Brasil, entre públicas e particulares, integram o PMBA, desde 2018, e contribuíram para a publicação do relatório anual.
O grupo também analisou contaminantes orgânicos, questões genéticas, comportamentais, contaminantes e seus possíveis efeitos, em níveis celulares, de indivíduos, de população e de comunidade.
Nas baleias, a descoberta foi feita a partir da biópsia de animais que encalharam no Espírito Santo. Nesses animais, foi constatada a presença de metais no sangue.
O relatório revelou que mais de 15 metais, como ferro, níquel, arsênio, cádmio e alumínio, foram encontrados em amostras de organismos marinhos ao longo da cadeia alimentar, desde o fitoplâncton até grandes cetáceos.
Para o biólogo, analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e coordenador da Câmara Técnica de Diversidade (CTBio), Frederico Drummond Martins, depois de cinco anos de estudo, essa é a consolidação do impacto e a relação demonstrada com o rompimento da barragem.
Segundo os pesquisadores, após o desastre, os impactos começaram nos organismos da base da cadeia alimentar. Afetou, em um primeiro momento, a água e os sedimentos, e organismos menores, como fitoplânctons e zooplânctons, passando pelos crustáceos e camarões. Depois, chegou aos peixes, aves e animais maiores, como cetáceos, por exemplo.
O relatório afirma que a acumulação de metal já é vista em organismos superiores na cadeia alimentar.
"A boa notícia, se é que a gente pode dizer assim, é que, no caso de água e sedimentos, as tendências de qualidade parecem que tendem a melhorar. Elas vinham numa crescente de piora e parece que estão invertendo isso discretamente. A má notícia é a acumulação de metais, principalmente nos organismos superiores, como em aves. O dado de contaminação de aves neste último relatório é bem grave, chama a atenção. Então, parece que está havendo aí uma bioacumulação e uma biomagnificação de metais, passando dos organismos da base da cadeia alimentar para os superiores", pontuou Frederico.
O oceanógrafo do ICMBio, João Carlos Tomé, reforçou o entendimento de que os metais estão começando a ser observados em animais maiores.
"O nível de contaminação foi se acumulando, é o que a gente chama de bioacumulação. Os animais de vida curta morrem rapidamente, vão para o fundo, e o sedimento depois se redisponibiliza para a cadeia. É um processo já conhecido que a gente só está constatando. Os animais de vida longa, a cada ano que passa, vão reacumulando e aumentando a absorção desses metais", explicou.

Esta reportagem na íntegra pode ser lida no g1

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