10/09/2024
Fortes ressacas do mar e inundações de praias estão entre eventos climáticos extremos que passarão a ser detectados com até quatro dias de antecedência no litoral de São Paulo. Para isso, e após período de testes e ajustes, uma plataforma já está em operação para monitorar os 15 municípios litorâneos paulistas.
Na prática, significa que desastres climáticos previstos para uma área superior a 600 quilômetros de extensão agora podem ser antecipados para a tomada de ações que protejam moradores e turistas. O sistema também prevê a possibilidade de erosão costeira intensa e enchente.
Na fase experimental do recém-implantado Saric (Sistema de Alerta de Ressacas e Inundações Costeiras para o Litoral de São Paulo), em 2022 —e gradualmente efetivado nos últimos seis meses—, o sistema foi desenvolvido pelo IPA (Instituto de Pesquisas Ambientais) da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística.
"O boletim Saric é emitido toda vez que uma praia, ou mais de uma praia, entra em estado de atenção e/ou alerta", explica a pesquisadora científica do IPA Celia Regina de Gouveia Souza. Os avisos, então, chegam por email aos centros de gerenciamento de emergências da Defesa Civil estadual. "E eles emitem os alertas às Defesas Civis municipais".
São monitorados velocidade dos ventos, nível máximo das marés e altura das ondas de toda a costa paulista. Conforme a avaliação das condições, as praias são classificadas em estado de "observação", "atenção" ou "alerta". Também são gerados mapas que permitem a visibilidade de cada praia da costa e seus riscos.
Os mapas permitem prever inundações e erosões causadas por eventos meteorológicos (ciclones tropicais, tornados, vendavais) e oceanográficos (oscilações do nível do mar, correntes marítimas e outros) mais fortes.
A plataforma cataloga as praias do estado em relação ao sistema de alerta. "Cada uma das praias, dependendo de suas características de onda, de maré e meteorológica, será classificada. E, a partir desses status, o sistema gera o boletim de alerta toda vez que a gente tiver alguma praia em atenção ou alerta com relação a esses parâmetros", diz a pesquisadora.
O sistema contou com financiamento de R$ 393 mil da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). São parceiros da iniciativa o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisa Espacial), o Instituto Oceanográfico da USP (Universidade de São Paulo) e a Unisanta (Universidade Santa Cecília) de Santos.
No momento, o Seric atende Cananeia, Ilha Comprida, Iguape, Peruíbe, Itanhaém, Mongaguá, Praia Grande, São Vicente, Santos, Guarujá, Bertioga, São Sebastião, Ilhabela, Caraguatatuba e Ubatuba.
"Para o futuro, pretende-se ampliar para os riscos de inundações nas planícies costeiras e de movimentos de massa nas encostas da Serra do Mar", diz a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), em nota.
Conforme a Folha mostrou em agosto, os fenômenos climáticos mais desequilibrados nos últimos anos, com tempestades e ressacas mais frequentes, têm afetado diretamente o litoral paulista. Um exemplo é a reserva Barra do Una, em Peruíbe, onde o avanço do mar vem provocando perda de áreas de praia.
Essa vulnerabilidade costeira ligou o alerta da Secretaria do Meio Ambiente que, até o fim do ano, pretende implantar sacos de areia contra o avanço do mar naquela localidade onde vivem 150 pessoas. A realocação de alguns deles também já é discutida entre autoridades.
Um retrato local sobre como as mudanças do clima influencia as políticas públicas está em Santos. Desde 2017 a cidade implementou um Plano Municipal de Contingência para Ressacas e Inundações.
A prefeitura afirma que o plano, sob coordenação do Sistema de Defesa Civil, integra e padroniza procedimentos a serem adotados pelos diversos órgãos públicos envolvidos na previsão, no acompanhamento e na resposta a emergências e desastres —o que inclui ações de socorro, ajuda humanitária, reabilitação de cenários e redução de danos.
Fortes: Folha de S. Paulo
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