05/09/2024
Em um acampamento próximo a Manaus, numa área de mata fechada, 18 jovens pesquisadores aprendem a unir conhecimentos da biologia e da matemática em projetos que analisam fenômenos ecológicos.
Nos nove dias de estadia na floresta amazônica, os estudantes coletam plantas e insetos, observam fungos e analisam o comportamento de animais para construir modelos computacionais para quantificar as interações entre esses seres. As aulas fazem parte do programa de formação em ecologia quantitativa do Instituto Serrapilheira e acontecem na Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie) do Km 41, conhecida como Acampamento 41.
Estudantes de biologia, física e engenharia computacional de diferentes estados brasileiros fizeram parte da turma mais recente da formação, encerrada em julho deste ano. Para alguns, a experiência da pesquisa em campo foi inédita. Caso de Yan Barbosa Werneck, 24, mestrando em modelagem computacional na UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora).
O engenheiro nunca havia estado em mata fechada, mas diz ter tido sempre muito interesse pela natureza. "Queria usar o que eu aprendi de modelagem computacional na coisa mais importante que nossa geração vai viver, que é o desafio da mudança climática", afirma.
O coordenador científico do curso de campo na amazônia, Paulo Enrique Peixoto, afirma que o investimento em formações deste tipo é essencial para capacitar pesquisadores para o desenvolvimento de estudos com maior rigor e profundidade em meio à crise climática.
"Uma expectativa do curso é que eles entendam, como é que a gente une esses mundos diferentes para fazer um projeto de estudo ecológico."
A ecologia quantitativa, explica, pode ser usada, por exemplo, em modelos matemáticos para entender ou prever fenômenos ecológicos ou em análises estatísticas.
A formação é dividida em duas etapas, uma teórica e outra prática. Na primeira parte, nas férias de verão das universidades, um grupo de 30 alunos participou de aulas presenciais durante dois meses, no Rio de Janeiro, para aprender a utilizar ferramentas matemáticas e computacionais no estudo da ecologia.
No segundo módulo, 18 alunos foram selecionados para a etapa prática, em julho, nas férias de inverno. A parte prática dura um mês e acontece em duas florestas tropicais diferentes, na mata atlântica, em Peruíbe, no litoral paulista, e na amazônia, no Acampamento 41.
O curso acontece em um acampamento de pesquisa tradicional na floresta amazônica, criado na década de 1980 e conhecido internacionalmente por ter sido berço de projetos como o Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais, que estuda a conservação do bioma. O local foi idealizado pelo biólogo americano Thomas Lovejoy (1941-2021) e hoje é cogerido pelo Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
O espaço é uma pequena clareira envolta por uma área de mata contínua. Quem passa uma temporada no local sente-se imerso na floresta: a estadia é atravessada pela passagem de grandes grupos de insetos ou pela visita de grandes aves, como o filhote de gavião-real que tem um ninho próximo ao acampamento.
Três estruturas cobertas, feitas de madeira, são equipadas com redes e mosquiteiros para servir de dormitórios. Há também uma cozinha e um laboratório com tomadas, balanças de precisão e microscópio.
Experiente em pesquisas de campo no mar, Myrna Elis, 27, foi pela primeira vez estudar em uma área de floresta e conta ter se deparado com um outro universo, pela metodologia adotada. A bióloga participou da formação apenas algumas semanas após defender sua dissertação de mestrado na Universidade Federal de Alagoas, onde estudou biodiversidade e conservação de comunidades de peixes.
O paulista Giovanni Correia, 25, mestrando em ecologia na Universidade de São Paulo, onde pesquisa o efeito da urbanização em riachos, diz ter tido contato com modelos matemáticos pela primeira vez na formação.
"Na primeira parte, em Peruíbe, meu grupo trabalhou com insetos aquáticos. A gente mediu a movimentação deles em diferentes correntezas e criamos um simulador no laboratório." O modelo matemático foi feito com base nesses dados para prever os movimentos dos insetos de acordo com a velocidade do rio.
Após se instalar no acampamento, a turma sai em incursões pela mata acompanhada pelo coordenador científico do curso. Simultaneamente, o grupo de oito professores explora outras trilhas da região para formular possíveis projetos.
A construção dos projetos não é linear. Envolve discussões, diversas idas à mata, análises em laboratório e uma apresentação final, com os resultados.
Nesta etapa, afirma Peixoto, "é quando eles começam a entender porque eles fizeram tanta matemática lá no começo", porque cada projeto "necessariamente vai trazer a parte empírica, com a coleta de dados na floresta, associada ao desenvolvimento de um modelo matemático ou estatístico".
"Ter contato com físicos e matemáticos é incrível, porque eles enxergam o mundo de uma maneira completamente diferente", afirma Carlene Gomes, 24, bióloga pela Universidade Federal de Goiás.
As inscrições para a edição de 2025 do programa estão abertas até 12 de setembro (o edital está disponível no site do instituto). Podem concorrer às vagas estudantes de qualquer área do conhecimento que estejam na graduação, mestrado ou na etapa prévia do doutorado.
Fonte: Folha de S. Paulo
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