27/08/2024
Sacos de areia contra o avanço do nível do mar. Essa é a base de um projeto-piloto que o governo estadual deve adotar, pela primeira vez, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Barra do Una, em Peruíbe, no litoral sul paulista. No local vivem 150 moradores em 49 residências, alguns sob risco de realocação no futuro por conta do problema da erosão.
O avanço do mar na área costeira chega a se aproximar da avenida Beira Mar, próxima ao vilarejo, segundo relato dos moradores. O local, antes protegido por vegetação, foi tomado por areia nas margens.
"O projeto consiste em encher sacos com areia da praia e, com isso, fazer uma linha de contenção", diz o diretor-executivo da Fundação Florestal, Rodrigo Levkovicz. O órgão é ligado à Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo.
Outras medidas que poderão ser adotadas são a implantação de braços de pedra, além de reforço na proteção da vegetação nativa. "De fato, não tem solução única ou mágica", afirma Levkovicz. "A erosão costeira no litoral sul tem sido um fenômeno natural potencializado pelas mudanças climáticas. Os efeitos são acentuados por grandes ressacas."
Ainda não há estimativa da altura ou da extensão do muro de sacos de areia ou de braços de pedra que serão adotados.
Moradores se preocupam com a situação. "Desde criança eu acompanho o aumento do nível do mar e a erosão na praia e, sim, isso vem piorando", conta o morador Bruno Belchior de Oliveira, 34. "Onde tem mais encontro do mar, perto das casas, havia cerca de 150 metros de restinga. Agora, não têm nem três. O mar vai tomando tudo. E tudo vira um areião e plantas mortas."
Comerciante, monitor ambiental e guia turístico, Oliveira é casado, tem duas filhas pequenas e faz parte de uma dessas famílias que há décadas habitam o local —onde a maioria vive do turismo sustentável e da pesca artesanal.
"Muita gente foi embora pela falta de oportunidades e outros podem sair por causa desse problema do avanço do mar", diz. "Dependemos especialmente desse turismo sustentável, mas as autoridades precisam agir mais. Estamos esquecidos no mapa."
Segundo Levkovicz, Barra do Una é uma reserva sustentável "das mais sensíveis" para o problema. "Junto com a comunidade, vamos mitigando. Por exemplo: isolando a área para a recomposição natural da vegetação, o que refreia ressacas. Afinal, vegetação é amortecedor natural."
"As mudanças climáticas chegaram e os efeitos estão aí. Temos atuado na prevenção. Inclusive para uma resposta imediata, se necessário, com órgãos de segurança", acrescenta Levkovicz.
Ele observa que, das 49 casas do vilarejo, três apresentam um "potencial maior de perigo" e podem, em algum momento, sofrer realocação. "A própria comunidade já indicou áreas caso seja preciso fazer isso. Tudo ainda está em fase de monitoramento."
O nome da localidade se deve ao fato de o rio Una do Prelado, que desemboca no mar, formar a barra que nomeia a praia. Ao longo do tempo, o curso do rio também vem sendo alterado, o que potencializa o risco de a água chegar até as residências.
O fenômeno já vem destruindo a restinga —vegetação típica da zona costeira. Com essa perda, também a erosão da praia aumenta.
Um aliado de prevenção das autoridades é o Saric (Sistema de Alerta de Ressacas e Inundações Costeiras). Implantada pelo governo do Estado em 2023, a plataforma integra informações de previsão de condições marítimas, altura de maré, ondas e monitoramento de situação de praias.
Agentes de Defesa Civil e gestores públicos estão sendo capacitados para que saibam emitir avisos dos eventos extremos.
O processo erosivo na Barra do Una começou há cerca de dez anos e vem se intensificando, segundo medições do governo estadual. Em 2022, o IPA (Instituto de Pesquisas Ambientais) também atualizou o chamado Mapa de Risco à Erosão Costeira da RDS Barra do Una para refletir dados atualizados dos indicadores de erosão.
O monitoramento considerou o processo sedimentar, a dinâmica da área e os prováveis efeitos da erosão. Com base nessa análise, foi recomendada na ocasião a recuperação e proteção das dunas frontais como uma das medidas de mitigação.
Drones também têm sido utilizados na região desde 2020 para a captura de imagens detalhadas que fornecem dados para compreender o processo e auxiliar no planejamento de ações e orientações.
"Nosso ponto é: como essas mudanças climáticas estão afetando a dinâmica do próprio ser humano? Nossos sistemas estão olhando as áreas mais sensíveis e onde a população está justamente para não atingir a vida das pessoas", diz Levkovicz.
Já a Prefeitura de Peruíbe informa que realiza o reforço da faixa de areia próxima à avenida Beira-Mar, bem perto das casas da reserva, com material removido periodicamente da própria via, para criar uma pequena duna artificial na expectativa de recuperação da vegetação.
O fechamento dos acessos à praia no trecho afetado, reforçando o cordão arenoso com material vegetal, também já foi adotado pela municipalidade para possibilitar a recondução da vegetação por meio da sua regeneração natural e a consequente proteção da área costeira.
Fonte: Folha de S. Paulo
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