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Branqueamento de corais da costa brasileira é detectado por pesquisadores; veja antes e depois

16/04/2024

Após meses de calor extremo aquecendo os oceanos, pesquisadores detectaram danos aos corais da costa brasileira.
Na região dos litorais sul de Pernambuco e norte de Alagoas, foi constatado o branqueamento em massa, enquanto no sul da Bahia uma pequena parcela das colônias foi afetada até agora.
O fenômeno, que pode levar à morte dos corais, acontece quando os oceanos passam várias semanas com temperaturas acima da média. O branqueamento é uma das consequências das mudanças climáticas provocadas pelas atividades humanas, já que a maior parte do excedente de calor associado ao aquecimento global é armazenado no mar.
Na Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais (APACC), região entre os municípios de Tamandaré (PE) e Maceió (AL), diversas colônias foram afetadas, segundo Beatrice Ferreira, professora da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).
Ela explica que o branqueamento em massa é definido quando cerca de 50% das espécies ou colônias em uma área extensa são atingidas pelo estresse térmico.
"Os alertas começaram em março. Entrou em alerta 1 e realmente começou o branqueamento pelas espécies mais sensíveis", explica, se referindo à escala de alerta usada pela Noaa (agência atmosférica e oceânica americana) em seu monitoramento via satélite. A partir do nível 1, a agência considera provável que haja branqueamento significativo na região.
Em 2023, devido aos recordes de calor registrados nos mares ao redor do planeta, a Noaa atualizou sua escala, que até então tinha como máximo o alerta nível 2 (caracterizado por branqueamento severo e provável mortalidade significativa). Agora, a metodologia chega até o alerta nível 5, em que há risco de mortalidade quase completa dos recifes de corais.
"Não são absolutamente todas as espécies e não são absolutamente todas as colônias, mas o que já se registra por aqui [na Costa dos Corais] —e eu acho que em boa parte da costa nordeste, que já está em alerta 1 ou 2 há algum tempo— é um branqueamento em massa", afirma Ferreira.
A pesquisadora estuda a região há 30 anos por meio do Programa Ecológico de Longa Duração Tamandaré, financiado pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
A espécie mais atingida na Costa dos Corais, a princípio, foi o coral-de-fogo Millepora alcicornis.
"Deduzindo a partir do nosso e de outros relatos de trabalhos em curso na APACC, estamos chegando a possivelmente mais de 80% das colônias desta espécie afetadas nas áreas mais rasas", diz a cientista. "Agora, já vemos que a maioria das espécies e colônias em áreas rasas foram afetadas".
No dia 5 de março, a Noaa emitiu comunicado alertando que o planeta estava prestes a ter o quarto evento global de branqueamento em massa. Dias depois, o governo australiano anunciou que a Grande Barreira de Corais já está sendo atingida de forma massiva.
Segundo as autoridades do país, 75% da Grande Barreira já branqueou e a Sociedade Australiana de Conservação Marinha afirma que, na região sul, corais branqueados foram vistos a uma profundidade de até 18 metros.
O último evento global de branqueamento em massa aconteceu entre 2014 e 2017, quando a Grande Barreira perdeu quase um terço de seus corais. Resultados preliminares sugerem que cerca de 15% dos recifes do mundo tiveram taxas altas de mortalidade.
Eventos mundiais de branqueamento anteriores ocorreram em 2010 e 1998, anos que, assim como 2024, foram marcados pela ocorrência do El Niño.
O calor acima da média faz com que os corais fiquem brancos porque a cor deles vem de microalgas coloridas (também chamadas de zooxantelas) que vivem nos seus tecidos. Águas quentes demais por tempo demais fazem com que essas algas produzam uma substância tóxica ao coral, que as expulsa, deixando exposto o seu esqueleto calcário.
Um coral branqueado não está morto —mas está fraco e sujeito a doenças. Isso porque as zooxantelas, numa relação simbiótica, fornecem açúcares essenciais para alimentação do coral, produzidos através da fotossíntese.

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