22/02/2024
Durante uma operação de monitoramento dos manguezais no estuário Santos-Cubatão, os biólogos Geraldo Eysink e Edmar Hatamura encontraram flores totalmente desconhecidas para as árvores da região.
Identificadas com ajuda da professora sênior do Instituto Oceanográfico (IO) da USP Yara Schaeffer-Novelli, a espécie exótica invasora Sonneratia apetala foi registrada pela primeira vez na América do Sul e tem preocupado especialistas por seus impactos negativos em ecossistemas nativos.
Originária da Índia e de Bangladesh, a planta que possui flores chamativas é usada na China para recuperação de manguezais devido ao seu rápido crescimento e capacidade de retenção de solo.
“A hipótese mais provável é que ela chegou aqui em Cubatão principalmente devido ao grande tráfego de embarcações advindos da China ”, conta Hatamura ao esclarecer que o transporte pode ter acontecido por meio da água utilizada pelos navios para estabilização.
De acordo com Geraldo Eysink, atualmente há 86 exemplares da planta na região e muitas delas foram encontradas nas margens dos rios Cubatão e Perequê.
"Em uma única árvore foram coletados 1.080 frutos, em cada fruto tem entre 60 e 80 sementes. Então imagine a capacidade de dispersão dessa espécie e é a primeira constatação na América do Sul. Na China, onde ela foi usada, as pessoas já estão com projetos de erradicação porque perceberam que o dano ecológico foi bastante significativo", comenta Geraldo.
A Sonneratia apetala, também conhecida como mangue maçã, é uma árvore de mangue da família Lythraceae nativa do Sudeste Asiático, com presença em países como Índia, Sri Lanka, Tailândia, Malásia, Indonésia e Filipinas.
A espécie de porte médio, que pode alcançar até 20 metros de altura, possui um sistema radicular do tipo pneumatóforo que se estende até o solo lodoso, folhas ovaladas de cor verde brilhante e flores grandes e vistosas de cor amarela que, de acordo com os especialistas, chamam bastante atenção.
De acordo com os pesquisadores, a presença da planta no Brasil representa uma ameaça direta à biodiversidade local, ao competir por espaço e recursos com os gêneros nativos de manguezal, considerado Área de Preservação Permanente (APP), conforme a legislação nacional.
"A cada dia que não se adota uma medida exemplar de erradicação dessas árvores, nós estamos perdendo na competição com elas pelos mangues brasileiros e por outras áreas também", afirma Yara em entrevista ao Terra da Gente.
Ao ocupar o lugar de plantas nativas dos manguezais, a Sonneratia apetala pode comprometer a estabilidade do bioma. "Os manguezais prestam diversos serviços ecossistêmicos, como fixação de carbono, berçário para espécies marinhas de interesse econômico e proteção contra erosão”, explica.
Além disso, muitas comunidades tradicionais e de pescadores dependem dos mangues para garantir seu alimento. Para Yara e os outros biólogos, a descoberta da invasora realça as preocupações com fragilidade do ecossistema e a importância de monitorar espécies exóticas invasoras no país.
Edmar Hatamura comenta sobre a existência de uma série de normas internacionais pra evitar contaminação de ambientes através da água de lastro dos navios, mas pouco se fala sobre o cumprimento dessas normativas entre os países.
"Colegas nossos dos Estados Unidos já estão ficando preocupados com a possibilidade de sistemas semelhantes, transportes semelhantes, levarem sementes ou propágulos da espécie também ao litoral estadunidense", diz a professora ao complementar que a preocupação não é exclusivamente para os manguezais da Baixada Santista.
Sob justificativa de restaurar áreas degradadas, Yara relata que espécies exóticas acabam sendo transportadas e introduzidas em todo mundo.
Leia a matéria na íntegra pelo g1
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