
30/10/2025
O mundo precisará encontrar formas de preencher uma lacuna de ao menos US$ 284 bilhões anuais (cerca de R$ 1,5 trilhão) em financiamento para adaptação às mudanças climáticas nos países em desenvolvimento até 2035. O déficit pode alcançar US$ 339 bilhões (R$ 1,8 trilhão), se consideradas as necessidades econômicas para as nações atingirem suas metas junto ao Acordo de Paris.
As conclusões são de relatório do Pnuma, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, divulgado nesta quarta-feira (29), a menos de duas semanas do início da COP30, a conferência climática da ONU que acontecerá de 10 a 21 de novembro em Belém.
O financiamento aos países em desenvolvimento para adaptação foi estimado em apenas US$ 26 bilhões em 2023, uma queda em relação a 2022, quando os repasses somaram US$ 28 bilhões. Os valores de 2024 e 2025 ainda não estão disponíveis.
A ONU calcula que essa demanda será de US$ 310 bilhões a US$ 365 bilhões anuais em 2035. Assim, o fluxo de recursos precisará aumentar em pelo menos 12 vezes.
A projeção é baseada em valores de 2023 e não leva em conta a inflação. Se calculada com uma taxa de 3% ao ano, a demanda seria de US$ 440 bilhões a US$ 520 bilhões. Os números representam um salto em relação à lacuna de financiamento para 2030, estimada de US$ 194 bilhões a US$ 366 bilhões.
"É evidente que os recursos financeiros necessários para permitir ações de adaptação nos países em desenvolvimento na escala exigida para enfrentar os crescentes desafios dos riscos climáticos atuais e futuros são lamentavelmente inadequados", admite o Pnuma no documento.
O financiamento se tornou o principal entrave das cúpulas. Segundo a própria ONU, o acordo costurado na COP29 para mobilizar US$ 300 bilhões anuais será insuficiente para atender à necessidade de recursos para a adaptação —área que foca em preparar os territórios e torná-los mais resilientes aos eventos extremos.
"Os impactos climáticos estão se acelerando. No entanto, o financiamento para adaptação não está acompanhando o ritmo, deixando as pessoas mais vulneráveis do mundo expostas ao aumento do nível do mar, tempestades mortais e calor escaldante", afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Em 2024, os governos do mundo todo gastaram cerca de US$ 7,4 bilhões por dia em despesas militares, de acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo.
Isso significa que a lacuna de financiamento para adaptação climática em 2035 equivale a no máximo 45 dias de gastos militares globais (se considerado o teto de US$ 339 milhões).
A ONU aponta que os países desenvolvidos, maiores responsáveis pelo aquecimento global, caminham para descumprir a promessa de mobilizar aproximadamente US$ 40 bilhões anuais para adaptação climática das nações menos desenvolvidas até 2025. O compromisso havia sido firmado em 2021, durante a COP26.
O Pnuma afirma que o setor privado destina atualmente US$ 5 bilhões ao ano para financiamento de adaptação, uma contribuição que poderia chegar a US$ 50 bilhões, segundo os cálculos da instituição.
A ONU reconhece que a mobilização de recursos precisa envolver fontes diversas, mas diz que o setor privado não será capaz de fechar a lacuna por conta própria.
"A maior parte da necessidade financeira para a adaptação precisa ser coberta pelo setor público", disse Henry Neufeldt, editor científico do relatório lançado nesta quarta. "O setor privado pode entrar mesmo que os retornos não sejam tão bons, e o setor público, então, tira o risco dos investimentos para que eles possam se engajar na adaptação."
O relatório diz que 172 países possuem alguma estratégia nacional relacionada a esta área, mas aponta que 36 deles consideram instrumentos desatualizados. De acordo com o Pnuma, isso precisa ser corrigido para evitar a má adaptação, ou seja, a implantação de medidas que agravam os impactos de eventos climáticos em vez de proteger as pessoas.
A reportagem na íntegra pode ser lida na Folha de S. Paulo
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