
28/10/2025
Em 2012, o furacão Sandy atingiu a cidade de Nova York, deixou 43 mortos, inundou 132 km² (cerca de 18 mil campos de futebol) e causou um prejuízo estimado em US$ 19 bilhões (R$ 103 bi, na conversão atual). 98% das construções destruídas eram antigas, de antes de 1983.
A prefeitura, então comandada pelo bilionário Michael Bloomberg, encomendou um estudo para tentar descobrir como evitar que aquilo acontecesse novamente e descobriu que, com o aumento do nível do mar e os efeitos da mudança climática, caso a mesma tempestade passasse pela cidade no ano de 2050, o dano seria de quase US$ 90 bilhões (R$ 487 bi).
Isso ligou o alerta e deu início a um trabalho para adaptar Nova York, alterando as áreas que devem ser habitadas e a forma de se construir prédios e casas, para fazê-la mais resiliente.
O Grupo de Engenharia das Forças Armadas dos EUA ficou com a missão de descobrir como evitar que a cidade fosse engolida por enchentes, tanto na passagem de furacões, mas também pelas projeções de elevação no nível do mar.
Em 2023, como parte deste trabalho, o grupo anunciou um projeto de US$ 52 bilhões (R$ 281 bi) para criação de diques e a reconstrução da zona costeira de Nova York —e que agora está sob risco.
Duas pessoas que atuam com adaptação na cidade relataram à Folha, sob anonimato, o temor de que essa iniciativa seja suspensa pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Isso porque ele já fez isso, durante sua primeira passagem pela Casa Branca, entre 2017 e 2021, e há o temor que isso se repita —os estudos foram reiniciados durante a gestão de Joe Biden,
Desde que Trump voltou à presidência, em 2025, ele vem implementando uma agenda antiambiental ainda mais rígida do que durante o seu primeiro mandato, cancelando iniciativas de combate às mudanças climáticas e de transição energética.
No início de outubro, a Casa Branca suspendeu o financiamento de US$ 18 bilhões (R$ 97 bi) a um projeto de Nova York que pretende expandir o metrô e construir um túnel por baixo do rio Hudson, para conectar a cidade à Nova Jersey.
A justificativa oficial para a medida foi o apagão econômico do governo federal e não há notícias até agora de que o empreendimento dos militares tenha sido afetado, mas o temor das pessoas que atuam nesta área é de que, mais cedo ou mais tarde, isso aconteça.
O aumento do impacto e da frequência dos eventos climáticos extremos fez com que o tema de adaptação ganhasse espaço inédito tanto na Assembleia-Geral, quanto na conferência de clima da ONU (Organização das Nações Unidas), a COP30.
Dentre as diversas áreas de financiamento climático, é nessa em que existe a maior lacuna entre o investimento global real e o que seria necessário para lidar com o a atual realidade ambiental —de US$ 359 bilhões (R$ 2,03 trilhões).
Mesmo com este custo bilionário, o empreendimento costeiro daria conta de proteger apenas 50% da cidade contra enchentes.
A prefeitura calcula que, para cada dólar investido em adaptação, seis são economizados em custos futuros com os impactos da mudança climática.
O Grupo de Engenharia atualmente ainda está na fase preliminar para este projeto. Quando isso acabar (não há uma previsão), o início das obras dependerá da liberação dos US$ 52 bilhões, o que precisa passar pelo Congresso dos EUA.
"Apesar da incerteza política, o que é certo são os impactos que a mudança climática terá no nosso cotidiano se mantivermos o status quo. Já estamos vendo e sentindo isso", afirma Brendan Pillar, diretor de clima e sustentabilidade do Departamento de Planejamento da Prefeitura de Nova York.
Atualmente, 400 mil pessoas e 71 mil edifícios estão nas regiões consideradas de alto risco para alagamentos, o que abarca toda a costa de Nova York.
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