
28/10/2025
Na barraca de peixe da vila de Aspra, perto da capital siciliana Palermo, a pesca do dia está coberta de uma espécie de guarnição verde. Longe de ser um ingrediente a ser preparado como acompanhamento, porém, trata-se do pior inimigo dos pescadores locais. Conhecida como Rugulopteryx okamurae, essa alga invasora tem sido responsável nos últimos dois anos por drenar a renda dos profissionais, que precisam de dias para retirá-las de suas redes.
O problema já era conhecido entre os pescadores espanhóis. "Temos algas aqui há 10 anos", diz Gregorio Linde, capitão de um pequeno barco de pesca em Tarifa, no Estreito de Gibraltar. "O fundo do mar é um tapete delas, e as redes não capturam nada."
Sua família vive dos frutos marinhos há gerações, mas agora, passam dias içando algas. Os prejuízos desta pesca artesanal na Espanha ultrapassam 3 milhões de euros (cerca de R$ 18,7 milhões) por ano.
A espécie invasora também está prejudicando o turismo costeiro na Espanha e na Itália, onde tapetes de algas agora ocupam praias que antes esbanjavam areia branca. Apesar dos esforços para transportá-las para aterros sanitários, novas marés voltam a encher as praias.
O maior estrago, contudo, está fora de vista. Debaixo da água, as algas estão sufocando pradarias marinhas vitais, prejudicando ouriços-do-mar e ocupando abrigos de peixes.
"Os impactos socioeconômicos podem ser compensados com dinheiro, mas este impacto ecológico sem precedentes não", alerta Maria Altamirano, pesquisadora da Universidade de Málaga, que identificou as algas pela primeira vez na Espanha. A "invasão", diz ela, "é como um incêndio florestal em um parque nacional: tudo é dizimado e apenas uma espécie permanece."
Embora cubra menos de 1% da área oceânica do mundo, o Mediterrâneo abriga quase um quarto do tráfego marítimo global. De acordo com a Agência Europeia do Meio Ambiente, isso faz com que embarcações sejam responsáveis pela introdução de metade das espécies não nativas à região desde 1970.
O Mediterrâneo também concentra grande parte das espécies invasoras encontradas nas águas europeias, lembra Luca Castriota, especialista em espécies invasoras do Instituto Nacional de Proteção Ambiental e Pesquisa de Palermo. Elas deslocam a vida marinha nativa e remodelam os ecossistemas.
A Rugulopteryx okamurae está entre as mais nocivas. Nativa do Pacífico, onde vive em equilíbrio com ecossistemas do Japão, China, Taiwan, Coreia e Filipinas, a espécie foi identificada pela primeira vez como invasora em 2015, em Ceuta, um enclave espanhol na costa norte da África, ao longo do Estreito de Gibraltar.
Impulsionado pelo avanço da pesca e da poluição, bem como pelo aquecimento das águas e pela ausência de predadores naturais, o avanço agressivo da Rugulopteryx okamurae não parou por aí. Desde então, a alga já se espalha para o Oceano Atlântico, chegando até arquipélagos como as Ilhas Canárias, os Açores e a Madeira. Em 2022, ela se tornou a primeira alga a entrar na lista de espécies exóticas invasoras sob vigilância da União Europeia.
A hipótese dos cientistas é que as algas chegaram ao Mediterrâneo por meio da água de lastro descarregada por navios cargueiros que viajam entre a Ásia e a Europa. Os navios bombeiam água para seus tanques internos para estabilizar a carga antes de deixar o porto de origem. Posteriormente, essa mesma água é então expelida no destino, levando também esporos, larvas ou ovos escondidos.
"Hoje, o mundo está interconectado. Compramos produtos da China, por exemplo, que são distribuídos por todo o planeta. Mas, além dos bens que queremos, transportamos espécies de um lugar para outro", explica Maria Garcia, do Conselho Superior de Pesquisas Científicas da Espanha (CSIC). Há 30 anos monitorando espécies invasoras nas águas costeiras do Mediterrâneo, ela afirma que o comércio está "alterando completamente" tanto fauna quanto flora do ecossistema local.
A matéria na íntegra pode ser lida no g1
VÍDEO: marinheiro registra grupo com 10 baleias-jubarte no mar de Arraial do Cabo: ´Minha melhor cena´
30/10/2025
Tecnologia baiana acelera compostagem e reduz emissões
30/10/2025
Cientistas registram mortandade de peixes no Xingu e cobram mudança de operação de Belo Monte
30/10/2025
Casa em Manaus une arquitetura sustentável e preservação florestal
30/10/2025
É possível fazer dinheiro sem destruir a natureza? Da borracha ao cosmético, a Amazônia mostra que é possível
30/10/2025
Petrobras será líder em transição energética e vai cumprir Acordo de Paris, diz Magda
30/10/2025
