
23/10/2025
No meu primeiro dia no cargo de presidente da Colômbia, há pouco mais de 15 anos, encontrei-me com os líderes de quatro povos indígenas da Sierra Nevada de Santa Marta —os kogui, arhuaco, wiwa e kankuamo.
Enquanto estávamos juntos, à sombra de uma magnífica cordilheira próxima ao mar do Caribe, a sabedoria que eles transmitiram transformou a maneira como eu via minhas responsabilidades como líder. Também mudou a maneira como eu via nosso dever coletivo como habitantes transitórios deste planeta cada vez mais ferido.
Recebi um bastão de madeira —um símbolo de poder— para me lembrar de lutar por dois objetivos: a paz entre nossos cidadãos após 50 anos de conflito e a paz com a natureza. Os líderes indígenas me alertaram que nossa relação com o mundo natural havia sido prejudicada, que a natureza estava irritada e que sofreríamos as consequências.
Duas semanas depois, La Niña atingiu a Colômbia com inundações devastadoras, e passei os dois primeiros anos do meu governo apoiando as pessoas afetadas e me preparando para o próximo desastre natural.
Agora vivemos num mundo ameaçado por tempestades devastadoras —tanto físicas quanto ideológicas. Recentemente, enchentes mataram pelo menos 1.006 pessoas no Paquistão, com 2,5 milhões de pessoas evacuadas de Punjab e Sindh, regiões que também foram atingidas por enchentes colossais em 2022.
Ataques perturbadores ao multilateralismo e aos fundamentos institucionais dos direitos humanos pós-Segunda Guerra Mundial estão piorando a situação. Parece que todo o nosso sistema de valores está sob cerco.
Porém, como afirmou recentemente o grupo The Elders (um grupo de ex-líderes que atualmente presido), fatalismo e cinismo nunca são opções, por mais implacáveis que sejam as crises que enfrentamos. O multilateralismo foi desenvolvido precisamente para momentos como este —para nos guiar através de desacordos e desastres, sem exceções.
Em novembro deste ano, serão realizadas duas importantes cúpulas com o objetivo de abordar problemas globais. Uma é a segunda Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Social. A primeira cúpula desse tipo, realizada há 30 anos, reuniu um número inédito de líderes mundiais, marcando um novo capítulo para o multilateralismo a serviço do desenvolvimento humano.
A outra cúpula do próximo mês, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém (Brasil), abordará a crise existencial do aquecimento global.
Como presidente da Colômbia, vi em primeira mão que, quando ocorre um desastre, os pobres são sempre os mais afetados. É por isso que criamos várias instituições para coordenar a assistência após as enchentes de 2010. Agora, é essencial que todos os países prestem atenção aos alertas climáticos e ampliem suas próprias políticas de resiliência e adaptação.
Um novo relatório oportuno de pesquisadores da Universidade de Oxford e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento destaca essa questão. Ele constata que quase 80% das pessoas em situação de pobreza multidimensional —cujas privações são medidas além da baixa renda— em 108 países em desenvolvimento, totalizando 887 milhões de indivíduos, vivem em regiões expostas a pelo menos um risco relacionado ao clima (como calor extremo, seca, inundações ou poluição do ar).
O relatório também confirma que as pessoas em países de renda média-baixa enfrentam mais riscos climáticos sobrepostos do que aquelas em países de baixa renda ou renda média-alta. E embora os países de renda média-alta tenham relativamente menos pessoas pobres, esse grupo ainda está exposto à poluição do ar e às inundações em particular. Tais descobertas ressaltam a necessidade de uma transição energética justa.
Para esse fim, a Colômbia introduziu o primeiro imposto sobre o carbono da América Latina em 2016. Agora, na véspera da COP30, os Elders estão pedindo aos países do G20 que usem suas vantagens financeiras para "impulsionar a implementação do Acordo Climático de Paris e da Estrutura Global de Biodiversidade".
Na COP29, no ano passado, lideranças mundiais se comprometeram a fornecer US$ 300 bilhões para financiar esses esforços, embora o total necessário seja mais próximo de US$ 1,3 trilhão. Dada a magnitude dessa lacuna, saudamos a recente decisão consultiva da Corte Internacional de Justiça que determina que os Estados são legalmente responsáveis pelos danos climáticos, particularmente aqueles causados pela indústria de combustíveis fósseis.
A matéria na íntegra pode ser lida na Folha de S. Paulo

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