
16/09/2025
Em 15 de agosto, México, Guatemala e Belize firmaram um pacto regional inédito: a criação do Grande Corredor Biocultural da Selva Maia, uma reserva que ultrapassa fronteiras para resguardar uma das florestas tropicais mais importantes do planeta.
A área, com mais de 5,6 milhões de hectares no sul do México e no norte da América Central, será a segunda maior das Américas, atrás apenas da Amazônia. A ambição é frear o desmatamento, impedir a expansão de gangues criminosas e proteger terras indígenas da pressão de fazendeiros, mineradores e madeireiros. Autoridades, contudo, reconhecem que o sucesso dependerá do equilíbrio entre metas ambientais e a complexa realidade local.
“Esta não é primariamente uma batalha ambiental”, afirmou a ministra do Meio Ambiente da Guatemala, Patricia Orantes. “Estamos falando da necessidade do Estado guatemalteco de retomar o controle de seu território.” Segundo ela, a presença de forças de segurança é crucial, já que vastas áreas foram tomadas pelo crime organizado.
Grupos ambientalistas denunciam os riscos da região há anos: pistas clandestinas usadas por traficantes de cocaína, contrabando de migrantes rumo ao norte e exploração ilegal de madeira. Para a secretária mexicana do Meio Ambiente, Alicia Bárcena, a repressão deve estar integrada à conservação: “Não vamos proteger a floresta sozinhos — a Secretária de Segurança tem que ajudar, o Exército.”
Mas ministros admitem que a presença militar, por si só, não basta. A experiência mexicana já mostrou que o crime se infiltra em comunidades marcadas pela vulnerabilidade econômica. Sem alternativas reais para a população, as redes ilícitas seguirão firmes.
“A chave”, explicou o advogado e ativista ambiental guatemalteco Rafael Maldonado, “é converter comunidades que se acredita participarem do tráfico de drogas em aliadas do parque”. Para isso, é necessário oferecer opções viáveis de sustento. Uma das propostas é expandir o programa mexicano “Semeando Vida”, que remunera proprietários por plantar árvores frutíferas ou madeireiras. O programa, com orçamento de US$ 2 bilhões, já foi criticado por estimular desmatamento em Campeche. Bárcena afirmou, no entanto, que reformas estão em andamento para adequá-lo às metas de conservação.
O especialista em sustentabilidade Juan Carlos Franco ressaltou que a atuação conjunta entre governo e sociedade civil é vital. “Comunidades voltadas para a gestão biocultural do território podem superar a criminalidade — essa é a mensagem mais reveladora.”
Outro desafio é conter iniciativas que prometem desenvolvimento, mas ameaçam a floresta. Na Guatemala, o presidente Bernardo Arévalo se recusou a renovar o contrato de uma petroleira que atuava havia 40 anos na Reserva da Biosfera Maia. Orantes reforçou a posição: “Quando o acesso é aberto na floresta, fica difícil controlar tudo o que se segue.”
Já no México, a polêmica linha do Trem Maia, com 1.530 quilômetros em torno da Península de Yucatán desde 2023, não corta a nova reserva, segundo Bárcena. Mesmo assim, ativistas seguem desconfiados. Para líderes como Pedro Uc, em Yucatán, o compromisso governista é questionável, pois o mesmo partido no poder apoiou o trem. Outros, como Franco, defendem manter pressão constante sobre os três governos.
Para garantir controle, o corredor terá um conselho de autoridades ambientais e um conselho consultivo indígena. Qualquer projeto só poderá avançar após aprovação desses órgãos.
A Guatemala contribuirá com a maior parte do território, incorporando 27 áreas já protegidas ao corredor. Belize também se comprometeu, embora demonstre interesse em prolongar o Trem Maia — uma proposta rejeitada por Arévalo em solo guatemalteco.
No fim de agosto, os três países instituíram um comitê conjunto para elaborar o roteiro da iniciativa. O plano, a ser concluído neste mês de setembro, definirá instituições envolvidas, responsabilidades e formas de financiamento. Bárcena estimou que seria possível mobilizar, inicialmente, cerca de US$ 6 milhões para dar início à implementação do corredor.
Fonte: CicloVivo

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