
16/09/2025
Todos os anos, entre janeiro e abril, uma massa de água fria sobe das profundezas do golfo do Panamá para a superfície, desempenhando um papel essencial na manutenção da vida marinha na região, mas este ano, isso não ocorreu.
"Foi uma surpresa", disse Ralf Schiebel, paleoceanógrafo do Instituto Max Planck de Química que estuda a região. "Nunca vimos algo assim antes."
Essa massa de água é até 10°C mais fria que a água da superfície. Ela também é rica em nutrientes provenientes da matéria em decomposição que cai no fundo do oceano, fornecendo alimento para a pesca e a vida selvagem locais.
Schiebel foi um dos cientistas que recentemente documentou essa mudança em um artigo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences e identificou um provável culpado: a falta de ventos alísios fortes (massa de ar quente), que normalmente sopram pelo Panamá e dão início à estação seca em janeiro.
Quando os ventos alísios atingem o golfo do Panamá, eles empurram a água quente da superfície para longe da costa, o que abre espaço para a água fria subir das profundezas.
Steven Paton, um dos coautores do artigo, dirige um amplo programa de monitoramento ambiental no Instituto de Pesquisa Tropical Smithsonian.
Os registros que ele ajuda a manter mostram que essa movimentação das águas oceânicas, chamada de ressurgência, ocorre anualmente há pelo menos 40 anos.
Com esses dados e outros registros de longo prazo, "podemos afirmar com muita clareza que algo muito incomum aconteceu e ao qual precisamos prestar atenção", disse ele.
Não está claro se o aquecimento global desempenhou algum papel no desaparecimento da massa de água fria, neste ano, mas os pesquisadores têm algumas teorias sobre o que afetou os ventos alísios.
Esses ventos, como os que impulsionam a ressurgência fria no golfo do Panamá, normalmente se formam quando o ar se move de sistemas de alta pressão para sistemas de baixa pressão, porém, neste ano, o Panamá viu apenas um quarto dos ventos alísios típicos da estação seca, e quando eles surgiram, foi apenas por um curto período de tempo.
A Alta das Bermudas-Açores é um sistema de alta pressão que se move ao redor do Oceano Atlântico, afetando os padrões climáticos sazonais na Europa, África e Américas.
Um sistema separado de baixa pressão, conhecido como Zona de Convergência Intertropical, circunda o Equador e se move para o sul do Panamá no inverno. Esse movimento para o sul, em combinação com a diferença de pressão desses dois sistemas, causa a força que impulsiona os ventos alísios da estação seca do Panamá.
La Niña, a fase fria de um ciclo oscilante de temperaturas da água no Oceano Pacífico, pode ter deslocado a posição do sistema de baixa pressão.
As altas temperaturas da superfície do oceano também podem ter afetado a força dos dois sistemas atmosféricos, mas o impacto desses fatores permanece incerto até que mais pesquisas sejam realizadas, disseram os pesquisadores.
Andrew Sellers, ecologista marinho do Instituto de Pesquisa Tropical Smithsonian e coautor do artigo, disse que o desaparecimento da ressurgência de água fria pode causar "grandes repercussões em toda a cadeia alimentar".
Águas ricas em nutrientes são importantes para a indústria pesqueira do Panamá, que se concentra no lado Pacífico do istmo, e não no Caribe, disse ele. A ressurgência também sustenta grandes espécies marinhas, como golfinhos, raias e baleias migratórias que passam pela região.
As temperaturas mais baixas também proporcionam um descanso aos recifes de corais, que são compostos de organismos vivos que podem ficar brancos e morrer quando ficam muito quentes.
Richard Aronson, professor de ciências marinhas no Instituto de Tecnologia da Flórida, estuda esta área específica do oceano na costa do Panamá há décadas. A mancha fria dá a esses corais uma chance maior de sobreviver às ondas de calor marinhas do que em outras áreas, disse ele.
O estresse térmico levou os recifes de corais do mundo a um branqueamento em massa contínuo, que começou em janeiro de 2023. Cerca de 85% das áreas de recifes de corais do mundo foram afetadas, de acordo com a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional.
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