
02/09/2025
Normalmente, quando se fala em descoberta científica de uma nova espécie, a notícia envolve um pequeno anfíbio marrom ou uma aranha pouco conhecida de uma floresta tropical distante. Agora, a novidade veio do mar, com a identificação de uma nova espécie de arraia-manta.
Esses animais fazem parte da subordem Elasmobranchii, grupo que reúne tubarões, raias e arraias. Até pouco tempo, acreditava-se que o gênero incluía apenas duas espécies: a manta-oceânica gigante (Mobula birostris) e a manta-de-recife (Mobula alfredi).
A especialista que liderou a descoberta desta terceira é a Dra. Andrea Marshall, reconhecida como a maior autoridade mundial em arraias-manta. Ela dedicou mais de doze anos a mergulhos e registros fotográficos dessa espécie. Em 2009, sua pesquisa revolucionou o campo ao separar pela primeira vez a manta-gigante da manta-de-recife, que antes eram consideradas uma só. Naquela ocasião, Marshall já levantava a hipótese da existência de uma outra variação.
Desde então, a cientista passou a desenhar manualmente as mantas com base em centenas de fotos, registrando minúcias que lhe permitiram distinguir as duas espécies conhecidas quase de olhos fechados. Por isso, quando mergulhava no México e se deparou com um exemplar que não se encaixava em nenhuma das categorias já descritas, entendeu de imediato que sua previsão se confirmava. Restava apenas comprovar.
“Levei 6 anos para diferenciar as duas primeiras espécies e eu as conhecia de cabo a rabo nessa fase: esta manta não se parecia com nenhuma delas”, afirmou Marshall em comunicado publicado no site da Marine Megafauna Foundation, organização sem fins lucrativos que ela fundou.
A nova espécie foi batizada de Mobula yarae e pode atingir entre 4 e 8 metros de comprimento, dimensão comparável à da manta-oceânica gigante. Até agora, no entanto, Marshall e sua equipe observaram apenas indivíduos jovens.
Entre 2010 e 2017, a pesquisadora analisou principalmente imagens, tentando identificar os detalhes que diferenciavam essa manta misteriosa das outras duas. A confirmação só veio quando um exemplar morto foi encontrado em uma praia, permitindo a realização de testes genéticos.
O estudo foi publicado na revista Environmental Biology of Fishes, com fotografias que evidenciam as marcas exclusivas da espécie: pontas de asas acinzentadas e um formato em “V” pronunciado nos ombros. As duas espécies conhecidas também apresentam manchas e padrões no abdômen, mas com intensidade e posicionamento distintos, o que ajudou na diferenciação.
Para a Dra. Marshall, o momento trouxe uma sensação de surpresa semelhante à de sua primeira grande descoberta. “Em 2009, foi uma das maiores descobertas de espécies dos últimos 50 anos. Foi algo enorme para mim, como cientista em início de carreira, e um privilégio enorme passar por todas as etapas do processo. Será que eu esperava fazer algo assim de novo? De jeito nenhum. Sem chance”, contou em seu Instagram. “Então, foi um dos choques da minha vida pular nas águas mornas de Yucatán, no México, cerca de um ano depois, e me deparar com o que eu imediatamente soube ser uma terceira espécie de arraia-manta.”
Além de expandir o conhecimento sobre a biodiversidade marinha, a Mobula yarae — também chamada de manta-do-atlântico — oferece aos cientistas uma rara oportunidade de observar a evolução em andamento. Como as mantas pertencem a uma linhagem recente entre tubarões e raias, seu estudo abre uma janela para compreender como ocorre a especiação.
“Provavelmente ainda estamos observando a especiação ocorrer!”, destacou Jessica Pate, coautora do trabalho. “Esta espécie evoluiu muito recentemente da manta gigante — é raro ver uma nova espécie como esta, e ainda mais raro observar o processo por trás dela.”
Esse processo de divergência recente torna a M. yarae essencial para entender como grandes espécies marinhas se adaptam ao longo do tempo. O animal é uma verdadeira evidência de evolução em curso, lançando luz sobre os mecanismos que sustentam a diversidade nos oceanos.
Marshall reforça a importância de manter a mente aberta diante da ciência. “As crianças costumam me perguntar se, hoje em dia, ainda há algo para descobrir”, escreveu no Instagram. “Eu sempre rio e acabo contando minha história, porque sou a prova viva de que há. A única barreira que enfrentamos é a mente fechada e presumir que sabemos tudo, quando, na verdade, mal arranhamos a superfície.”
Fonte: CicloVivo

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