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Incêndio que devastou 1.443 hectares de floresta no RJ pode ter sido causado por bebedeira e briga entre suspeito e dono de fazenda

19/09/2024

Um idoso de 61 anos foi preso, na última terça-feira, sob suspeitas de ter causado um incêndio que devastou 1.443 hectares na Serra da Beleza, uma área de preservação ambiental no município de Valença, no interior do Rio. Este seria o maior incêndio criminoso já provocado em uma área de preservação, segundo o Instituto Estadual do Ambiente (Inea). De acordo com as investigações iniciais da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA), o fogo teria sido provocado após Sebastião Cloves da Silva se desentender com o dono de uma fazenda e atear fogo na propriedade, que fica a poucos metros de um Parque Estadual de Preservação. O local abriga o Monumento da Serra da Beleza.
As autoridades ainda investigam se o incêndio na área de preservação foi intencional ou acidental, já que o idoso permaneceu em silêncio durante o depoimento à polícia. Testemunhas confirmaram aos agentes que Sebastião teria ingerido bebida alcoólica e ateado fogo na propriedade por vingança. Ele o dono da fazenda já tinham um histórico de desentendimentos.
O incêndio devastou uma área equivalente a 1.443 campos de futebol e teve um impacto significativo na vegetação e na fauna da região. O fogo causou a mortandade de plantas nativas da Mata Atlântica e animais silvestres, alguns já em extinção.
— Perdemos espécies endêmicas que são nativas daquele local e que não existe em nenhum outro lugar. Perdemos espécies ameaças e de fauna. Temos um levantamento superficial e estamos tentando fazer um balanço mais aprofundado do que foi perdido. Cinco animais silvestres que a gente conseguiu constatar faleceram nos incêndios, como uma preguiça, tamanduá, serpentes, gambá e aves — afirmou Cleber Ferreira, diretor de Biodiversidade, Áreas Protegidas e Ecossistemas do Inea, ao relatar o que foi encontrado no local:
— Encontramos animais deformados devido ao episódio e, por isso, estamos tentando identificar um por um. Em casos de incêndios de grandes proporções, os animais costumam fugir, mas nem todos conseguem escapar do fogo. A gente tem uma expectativa de que até o final da semana tenhamos um balanço definitivo do que foi perdido— afirmou o biólogo.
Além de conhecida por suas paisagens e biodiversidade, a Serra da Beleza também recebia o título de um dos lugares mais famosos do país para avistamento de óvnis. No céu, a curiosidade em desvendar o ministério dos objetos voadores e desconhecidos, vem atraindo turistas do mundo inteiro, curiosos, moradores e pesquisadores desde os anos de 1960 à região, agora devastada.
— Moro em Valença desde criança. Cresci ouvindo as histórias deslumbrantes e encantadoras deste lugar mágico e misterioso que serviu de abrigo para tantas espécies conhecidas e desconhecidas. Ver a Serra da Beleza queimar é um pesadelo que me causa muita tristeza. As próximas gerações jamais saberão o que era observar o céu ansioso pela passagem de óvni, contemplando uma vista tão maravilhosa. É muito triste o que aconteceu — lamentou o morador e estudante de história Lucas Castanho, de 25 anos.
Em Petrópolis, um adolescente foi conduzido à delegacia, juntamente com o pai. Ele admitiu ter ocasionado o incêndio criminoso que devastou 704 hectares de vegetação no distrito de Pedro do Rio. De acordo com os investigadores, o jovem ateou fogo no terreno após uma briga familiar.
Segundo o Inea, a região queimada abriga o Monumento Natural Estadual da Serra da Maria Comprida e foi uma das mais atingidas. Em cinco dias, ainda de acordo com o Instituto, foram mais de 200 focos de incêndios em 15 unidades de conservação em todo o estado.
De acordo com pesquisadores do Inea, a região de Petrópolis atingida pelas chamas perdeu campos de altitude que guardam espécies de fauna e flora mais raras no estado do Rio. São áreas pouco frequentadas pela população, sem construção civil e de clima mais estável.
— Nesse topo do morro, existe um delta de temperatura específico que ajuda na sobrevivência dessas espécies raras. São animais que vivem na área alta, eles não conseguem viver em área baixa, por isso, a preservação desses é essencial para manter o habitat dessas espécies. No entanto, elas estão cada vez mais encurraladas. A temperatura está aumentando, fazendo com que esses animais tenham que subir cada vez mais para o topo do morro, reduzindo o espaço de área para eles sobreviverem. Queimar essas áreas é algo muito grave que compromete o futuro dessas espécies. Temos trechos de 1 km que têm de 20 a 25 espécies endêmicas ameaças. Quando essas áreas são atingidas, elas não têm para onde ir. Esse levantamento do que foi perdido será feito pelos próximos anos e temos receio de que essas espécies sejam extintas — complementou Cleber Ferreira.

Unidades de Conservação Estaduais atingidas: Parque Estadual da Serra da Concórdia, Monumento Natural da Serra da Beleza, Monumento Natural da Serra da Maria Comprida, Parque Estadual da Pedra Branca, Parque Estadual dos Três Picos, Parque Estadual do Cunhambebe, Parque Estadual do Desengano, Parque Estadual da Serra da Tiririca, Área de Proteção Ambiental do Rio Guandu, Área de Proteção Ambiental Alto Iguaçu, Refúgio da Vida Silvestre do Médio Parnaíba, Área de Proteção Ambiental de Massambaba, Área de Proteção Ambiental da Serra dos Mascates, Área de Proteção Ambiental da Bacia do Rio Macacu e Parque Estadual da Pedra Selada.

O combate às chamas mobilizou equipes de bombeiros e brigadistas, que trabalharam intensamente para controlar os incêndios em diferentes regiões do estado. Até às 12h de quarta-feira havia seis focos ativos, em combate, no estado do Rio. Os bombeiros, no entanto, extinguiu mais de 1456 incêndios florestais, em todo o território fluminense desde a criação do Gabinete de Gestão de Crise, na última quinta-feira, dia 12 de setembro.
Carolina Esteves, superintendente substituta do Ibama RJ, atribuiu os incêndios a uma ação coordenada devido à quantidade de queimadas registradas nos últimos dias pelos órgãos ambientais. Mas, a prisão do idoso, além das 20 pessoas identificadas pela Polícia Civil como possíveis envolvimentos com os incêndios, segundo as autoridades policias, inicialmente ocorreram por motivações diferentes.
— A gente atuou na contenção dos incêndios para preservar os locais para polícia colher indícios na perícia para chegar até os responsáveis. O que a gente percebe é que essas ações não nos leva a acreditar que os incêndios foram por causa natural — afirmou a superintendente.
Carolina explica que existe um comportamento por parte dos moradores de regiões de florestas que podem ocasionar focos de queimadas.
— As pessoas colocam fogo por motivos aleatórios. Seja por folhas nas ruas, falta de coleta de lixo, os motivos são diversos. Isso é um desastre. As perdas que a gente está tendo com esses incêndios é enorme, e a recuperação não vai ser vista por essa geração. Vai demorar para acontecer. São animais que estão sem habitat. O ar está pior e a qualidade da água piora também.
Ela lamenta que ações impensadas causem prejuízos ambientais:
— É uma grande perda em todos os sentidos de uma ação simples como colocar fogo em lixo ou folhas que não foram varridas. São ações impensadas. O mundo exige que a gente tenha novos hábitos e colocar fogo em coisas não pode ser um hábito tolerável. Em estrada é comum caminhoneiros atearem fogo na mata. O fogo se alastra. São hábitos que podem parecer comuns e inofensivos, mas que são criminosos — afirmou a superintendente.

Fonte: O Globo

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