12/09/2024
Entre 1985 e 2023, o Cerrado sofreu a destruição de impressionantes 88 milhões de hectares devido a incêndios, o que corresponde a uma média anual de 9,5 milhões de hectares. Esse vasto território queimado representa 43% da totalidade do bioma e é superior à área de países como Chile e Turquia. Os índices de queimada no Cerrado superam os da Amazônia, que, no mesmo período, perdeu 7,1 milhões de hectares por ano.
Durante o mesmo intervalo, o Cerrado enfrentou o desmatamento de 38 milhões de hectares, resultando em uma redução de 27% de sua vegetação original. Atualmente, quase metade da área do bioma já foi modificada por atividades humanas. A agricultura ocupa agora 26 milhões de hectares do Cerrado, dos quais 75% são dedicados ao cultivo de soja. De acordo com dados da Coleção 9 divulgados pela Rede MapBiomas, coordenada pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), o Cerrado responde por quase metade da área total cultivada com soja no Brasil, somando 19 milhões de hectares.
Ainda restam 101 milhões de hectares de vegetação nativa no Cerrado, o que equivale a 8% da vegetação nativa do Brasil, consolidando o bioma como a savana mais biodiversa do planeta. Desse remanescente, 48% está localizado na região Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), que viu sua área agrícola crescer 24 vezes desde 1985. Esta região também concentra 41% do desmatamento registrado no Cerrado ao longo dos últimos 39 anos.
Atualmente, 55% da vegetação nativa restante no Cerrado encontra-se em áreas com Cadastro Ambiental Rural (CAR) autodeclarado. O Código Florestal Brasileiro estipula que propriedades rurais devem manter pelo menos 20% de sua área como Reserva Legal, uma exigência de preservação. No entanto, áreas que excedem essa proporção podem ser legalmente desmatadas, o que representa um risco significativo para a preservação e a estabilidade do bioma.
“Precisamos de políticas públicas e mecanismos financeiros que incentivem a conservação do Cerrado. Seguir com o desmatamento nesse ritmo trará consequências ainda mais graves para a regulação do clima e para os setores econômicos, principalmente o agronegócio, que depende do clima e dos recursos hídricos no Cerrado”, ressalta Dhemerson Conciani, pesquisador do IPAM.
Por outro lado, 14,7% estão em áreas protegidas e públicas de uso coletivo, como unidades de conservação, terras indígenas e territórios quilombolas, que mantêm mais de 93% da sua vegetação nativa preservada. Apesar da preservação, o desmatamento em terras indígenas no bioma, por exemplo, aumentou 188% em 2023, comportamento oposto ao observado no restante do país, que registrou uma redução de 27% da área desmatada.
Embora o Cerrado tenha desenvolvido vegetações adaptadas ao fogo, o regime natural das queimadas tem sido profundamente afetado por secas frequentes e temperaturas extremas. O uso indiscriminado do fogo também contribui para o aumento dos incêndios, ameaçando a biodiversidade local e a integridade dos ecossistemas.
“A crescente vulnerabilidade do Cerrado às mudanças climáticas e impactos humanos exige ações decisivas para sua reversão. É essencial implementar políticas públicas que promovam a conscientização, reforcem sistemas de monitoramento e apliquem leis rigorosamente contra queimadas ilegais. Além disso, o manejo integrado do fogo, que combina prevenção, controle e uso planejado do fogo, é fundamental para manter a saúde dos ecossistemas, além de minimizar riscos de incêndios e preservar benefícios ecológicos”, destaca Vera Arruda, pesquisadora do IPAM.
Dados recentes do Monitor do Fogo indicam que, entre janeiro e agosto de 2024, o bioma já foi impactado por 4 milhões de hectares de queimadas. Desses, 79% (ou 3,2 milhões de hectares) ocorreram em áreas de vegetação nativa. Este número representa um aumento de 85% em comparação com o mesmo período do ano anterior, quando 2,2 milhões de hectares foram consumidos pelas chamas. Em agosto de 2024, o Cerrado experimentou a maior área queimada desde 2019, com mais de 2,4 milhões de hectares afetados, superando os registros dos anos anteriores para o mesmo período.
Além disso, um levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) revelou que, entre 22 e 24 de agosto de 2024, dos 2,6 mil focos de calor registrados no estado de São Paulo, 81,29% se concentraram em áreas de uso agropecuário, como plantações de cana-de-açúcar e pastagens, e surgiram em um intervalo de apenas 90 minutos.
O abastecimento hídrico do Cerrado enfrenta sérios desafios devido às mudanças climáticas e à crescente imprevisibilidade dos padrões de chuva. Em 2023, a área de superfície de água natural no bioma caiu para 696 mil hectares, marcando uma redução de 53% em relação a 1985. Embora o Cerrado atualmente possua 1,6 milhões de hectares cobertos por água — o maior valor registrado nos últimos 39 anos — apenas 37% dessa água está em áreas naturais, enquanto 51% está em reservatórios de hidrelétricas.
Como nascente de nove das doze principais bacias hidrográficas brasileiras e lar de três grandes aquíferos — Guarani, Bambuí e Urucuia — o Cerrado desempenha um papel crucial tanto no abastecimento hídrico da população quanto no ciclo da água que sustenta a maioria das lavouras do Brasil, que dependem das chuvas para irrigação.
No entanto, as secas extremas e as mudanças climáticas têm afetado desproporcionalmente as áreas úmidas do Cerrado. Essas áreas, que ocupam 6 milhões de hectares — uma extensão maior que a do Estado da Paraíba — são essenciais para a biodiversidade e a manutenção dos recursos hídricos. Infelizmente, elas estão sendo substituídas por pastagens e áreas agrícolas, e carecem de uma legislação específica para sua preservação.
Dados do MapBiomas mostram que entre 1985 e 2023, o Cerrado perdeu 500 mil hectares de vegetação típica de áreas úmidas, uma redução de 7% no total das áreas úmidas do bioma, com a maior parte da perda ocorrendo em função da expansão de pastagens.
“Temos observado que as áreas úmidas no Cerrado estão secando. Ainda, a expansão da agricultura sobre essas áreas vêm ocorrendo em algumas regiões no bioma, o que pode afetar o abastecimento hídrico e resultar em escassez de água para a população e para a agricultura, além de aumentar a vulnerabilidade a desastres climáticos e a perda de biodiversidade”, alerta Joaquim Raposo, pesquisador do IPAM.
A terceira fase da campanha Defensores do Cerrado acaba de ser lançada para destacar a importância das brigadas voluntárias na prevenção e combate aos incêndios no bioma e para promover o Manejo Integrado do Fogo (MIF) como uma abordagem eficaz. A iniciativa, promovida pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, também visa engajar empresas e organizações no apoio às brigadas voluntárias.
A campanha utiliza vídeos com “personagens do Cerrado” para compartilhar a riqueza e a importância do bioma. Entre os entrevistados estão biólogos, líderes comunitários e especialistas em manejo do fogo, que discutem como o fogo, quando controlado, pode ser benéfico para o ecossistema. O MIF, baseado em conhecimento científico e tradicional, ajuda a reduzir o impacto dos incêndios e a conservar a biodiversidade.
Interessados em contribuir com o trabalho dos brigadistas voluntários podem acessar este site para conhecer mais sobre as brigadas e entrar em contato direto para colaborar.
Fonte: CicloVivo
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