29/08/2024
O cientista Alex Ruane apresentará nesta sexta-feira (30), na Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), a conferência "Mudanças Climáticas e Segurança Alimentar – dos Modelos às Avaliações e Soluções". Ruane é pesquisador no Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa, a agência espacial norte-americana, onde codirige o Grupo de Impactos Climáticos.
Também é cientista associado do Centro de Pesquisa de Sistemas Climáticos da Universidade Columbia, na cidade de Nova York. Integrou a equipe de redação do 6º Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC AR6), da Organização das Nações Unidas, e foi o autor principal do capítulo 12, que traz informações sobre riscos climáticos.
Parte da série Conferências Fapesp 2024, sua apresentação vai tratar de soluções sustentáveis para mitigação e adaptação às mudanças climáticas, apontando também os limites de tolerância para a reprodução de determinadas espécies. Como preparação para o evento, Ruane concedeu à Agência Fapesp esta entrevista exclusiva.
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Recentemente, houve um grande alvoroço na mídia causado pela falsa notícia de que o Brasil poderia se tornar inabitável nos próximos 50 anos. Essa desinformação, posteriormente desmentida por vários pesquisadores sérios, foi baseada em uma citação retirada de contexto da reportagem "Too Hot to Handle", publicada no site da Nasa. De todo esse imbróglio, fica uma pergunta: considerando os cenários atuais, é possível fazer afirmações realmente consistentes sobre regiões que se tornarão inabitáveis no futuro? Quais são essas regiões?
O mundo está cada vez mais transitando da pergunta ‘os seres humanos estão mesmo aquecendo a Terra?’ [sim, estamos] para questões relacionadas a como as mudanças climáticas afetam as coisas que valorizamos na natureza e na sociedade.
Para tanto, é preciso rastrear e projetar um grande número de condições climáticas [por exemplo, calor extremo, inundações, secas, aumento do nível do mar] e os limites de tolerância para os recursos hídricos, a agricultura, a pesca, a infraestrutura de produção de energia e transporte, a indústria, a saúde humana e os ecossistemas naturais etc. A discussão em torno de extremos de calor e saúde mostra como as projeções de impactos climáticos e o planejamento de adaptações podem ser complicados.
Primeiro, reconhecemos que os humanos não sofrem estresse térmico por causa da temperatura global, mas sim devido a mecanismos biofísicos relacionados à exposição prolongada a condições locais de calor que estão além de nossa capacidade de enfrentar. Usamos a transpiração como um mecanismo principal para regular a temperatura do nosso corpo, mas sua eficácia depende da temperatura e da umidade do ar.
Geralmente, condições mais quentes e úmidas são mais desafiadoras, e faz sentido dizer que existam limites biofísicos ao que um corpo humano pode suportar. Atualmente, há uma extensa pesquisa para determinar qual é esse limite de calor e umidade, incluindo discussões sobre qual índice é o melhor e se os limites relatados são representativos das diversas populações. Precisamos continuar essa pesquisa e também expandir a conversa para entender como diferentes comunidades se adaptaram a condições extremas no passado.
Isso nos dá uma ideia de quais tipos de adaptações podemos planejar para regiões onde essas condições extremas serão novas nas próximas décadas. Por exemplo, calor e umidade extremos podem ser muito perigosos para trabalhadores ao ar livre [por exemplo, na agricultura ou na construção civil], mas, em várias partes mais quentes do mundo, os trabalhadores evitam os horários mais quentes do dia e aproveitam as horas mais frescas da manhã e da noite. Isso pode levar a impactos secundários, se as tarefas agrícolas não puderem ser concluídas a tempo.
O ar-condicionado pode ajudar se os recursos permitirem, embora, é claro, isso possa intensificar o consumo de energia e agravar o problema das mudanças climáticas. Projetar condições "inabitáveis" é, portanto, bastante desafiador e muitas vezes podemos encontrar exemplos de comunidades que já suportam condições extremas. Por exemplo, alguns dos lugares mais quentes e úmidos do mundo incluem a Amazônia, o Sudeste Asiático e partes da Índia.
Muitas dessas regiões apresentam consequências para a saúde durante condições de calor extremo [particularmente para populações vulneráveis, como crianças, idosos e mães que amamentam], mas ainda são habitadas.
Ainda não somos capazes de projetar exatamente quando as condições se tornarão severas o suficiente para afastar populações de suas casas, mas podemos discutir os custos crescentes que podem motivar tal mudança. Isso pode incluir inundações costeiras frequentes à medida que os níveis do mar subam e tempestades costeiras inundem regularmente a infraestrutura costeira —em algumas partes do mundo, o custo do seguro residencial está levando a um novo cálculo de onde é viável viver.
Em outros casos, as mudanças climáticas podem provocar alterações substanciais nos ganhos líquidos dos agricultores —aqueles que não conseguirem lucrar provavelmente buscarão subsídios ou opções alternativas.
Por essa razão, os cientistas do clima costumam falar sobre pontos críticos de risco climático, incluindo comunidades costeiras de baixa altitude, terras agrícolas marginais, áreas próximas aos limites superiores de tolerância ao calor e à umidade, comunidades ao longo de rios ameaçadas por inundações mais extremas, áreas dependentes de recursos hídricos de rios sazonais alimentados por degelo e comunidades dependentes de permafrost e gelo marinho.
Termine de ler a entrevista clicando na Folha de S. Paulo
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