12/05/2022
A geóloga Adriana Camejo Aviles, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ficou impressionada com a quantidade e variedade de vestígios vegetais acumulados a 14 metros de profundidade do solo da cratera de Colônia.
O local é uma área circular com 3,6 quilômetros de diâmetro formada entre 30 milhões e 5 milhões de anos atrás e atualmente ocupada por arbustos e gramíneas, casas, sítios de hortaliças, trilhas e cachoeiras no extremo sul da capital paulista, no bairro de Vargem Grande, no distrito de Parelheiros.
Seu trabalho —ao lado de outro, com a descoberta de organismos aquáticos— registrou sinais de vida nessa região e indica qual era a vegetação predominante em épocas mais recentes.
Em apenas 0,5 grama de solo, Aviles encontrou um conjunto de polens e esporos representando 115 espécies de plantas, com alguns grupos que crescem em ambientes frios, típicos de floresta de Araucária. Detalhado em um artigo publicado na revista Grana em julho de 2021, o levantamento reúne 1 alga, 10 espécies de samambaia, 45 de plantas com flores e 2 pinheiros.
A idade das amostras de polens, entre 180 mil e 135 mil anos, corresponde à penúltima glaciação, quando um manto de gelo cobria uma vasta extensão do planeta. Sua descoberta indica que uma vasta floresta de araucária (Araucaria angustifolia) deve ter coberto o território que hoje corresponde à cidade de São Paulo e provavelmente grandes extensões do estado.
Seria uma paisagem similar à encontrada hoje no interior do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul e nas regiões mais altas e frias dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
"Dezoito espécies de plantas que viviam na cratera naquela época desapareceram da região. As duas de pinheiros persistem apenas nas matas de araucárias das regiões Sul e Sudeste", conta Aviles.
Um pólen classificado no gênero Acaena ou Polylepis, da família Rosaceae, a mesma das roseiras, das macieiras e de arbustos dos Andes, representa uma espécie bastante ameaçada com a elevação da temperatura das últimas décadas. Segundo ela, a extinção local e permanência das plantas em outras regiões refletem mudanças do clima nos últimos 180 mil anos.
"A vegetação começou a mudar há cerca de 135 mil anos, quando terminou o período glacial e aumentou a influência dos ventos de monções do verão, que entram na América do Sul pelo norte e ainda hoje trazem a umidade da Amazônia para a região Sudeste", explica a bióloga colombiana Paula Rodríguez-Zorro, da Universidade Nacional da Colômbia, autora de artigo publicado na revista Scientific Reports em abril de 2020 sobre as transformações do clima na região.
Até a chegada das monções, ventos frios vindos do sul passavam pelo atual estado de São Paulo durante o ano todo e favoreciam o crescimento de plantas como as araucárias. Com o aumento da temperatura e da umidade, a vegetação se adensou e formou a floresta tropical hoje conhecida como Mata Atlântica.
Na última glaciação, entre 70 mil e 14 mil anos atrás, com o clima mais frio e seco, incêndios naturais — como indica o carvão detectado nas amostras— abriam clareiras que formavam grandes campos de altitude.
Por causa dessas mudanças, as populações de araucárias sofreram reduções contínuas até desaparecerem por completo da região há cerca de 45 mil anos, quando as monções já haviam tornado o
clima mais quente e úmido, favorável à mata tropical.
"É emocionante pensar que esses seres microscópicos viveram há 1,5 milhão de anos", diz a botânica Gisele Carolina Marquardt, da Universidade Univeritas (UNG), na Grande São Paulo, ao mostrar os fósseis de diatomáceas, organismos aquáticos coletados na cratera, como resultado de um estágio de pós-doutorado no Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA).
A matéria na íntegra pode ser lida na Folha de S. Paulo
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