29/07/2021
O trecho de 25 km da BR-101 que corta ilegalmente a Reserva Biológica de Sooretama, no norte do Espírito Santo, concentra a maior diversidade mundial de morcegos atropelados. A conclusão é de um estudo realizado por pesquisadores brasileiros e publicado na última quarta-feira (21) em uma edição especial da revista científica Diversity, dedicada aos Impactos da Infraestrutura de Transporte na Biodiversidade em Economias Emergentes.
"A quantidade de atropelamentos nesse trecho de 25 km é enorme, não se conhece nenhum estudo com número tão elevado em indivíduos atropelados, mas especialmente de espécies. Não por acaso estamos numa luta enorme pra que a duplicação não passe por ali, mas que seja direcionada para oeste da reserva", expõe a pesquisadora Helena Godoy Bergallo, do Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
A pesquisadora fluminense destaca que "a retirada da estrada dali é crucial", pois "o atropelamento é só um dos impactos", afirma, citando outras ameaças constantes, apesar de invisíveis aos transeuntes, como os poluentes que saem dos automóveis e os resíduos que se soltam da estrada e caem nos cursos de água, na floresta e no solo, além do favorecimento para entrada de espécies invasoras, que acabam competindo com as espécies nativas.
"Cães, gatos, bois, cavalos...animais domésticos em geral, predam espécies nativas e podem carrear doenças para dentro da mata e trazer da mata doenças para gente. Cães e gatos são relatados no mundo inteiro como um sério problema para áreas naturais", adiciona a pesquisadora ao rol de impactos.
Há ainda o "aumento da área de borda, facilitando entrada de caçadores", ou seja: a estrada cria um longo perímetro de fronteira com área de uso humano intenso, dificultando o controle a fiscalização.
Helena salienta que a Rebio Sooretama, administrada pelo governo federal, por meio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), compõe o maior remanescente de Mata Atlântica de Tabuleiro de todo o país, e uma das áreas mais ricas em biodiversidade do bioma, um patrimônio natural de relevância mundial.
"É uma das maiores riquezas de espécies da flora por hectare, uma riqueza de espécies de mamíferos que não existem em outros pontos da Mata Atlântica", salienta, citando a presença da onça-pintada, de duas espécies de porcos selvagens e duas de veado. "São espécies que não se encontra mais em muitos lugares. O Rio de janeiro, por exemplo, tem uma cobertura florestal maior que o Espírito Santo, mas não tem mais onça-pintada, nem anta. São animais que estão sendo reintroduzidas no Rio de Janeiro", relata, destacando ainda a harpia, ave "praticamente extinta na Mata Atlântica" e que tem Sooretama um dos seus últimos refúgios no país.
Esses e outros elementos da fauna "são ícones de conservação que mostram a importância dessa área para a conservação". Por isso, proteger a Rebio Sooretama e as demais áreas protegidas contíguas a ela, afirma, "é ´sine qua non´ para humanidade, para o futuro". A BR-101, recorda, "foi criada depois da Reserva Biológica – foi um equívoco, pois pela legislação da época, não poderia. E agora, duplicar a estrada é duplicar, quadriplicar o equívoco, ainda mais quando se tem uma solução, que é o desvio a oeste", argumenta.
Os dados do estudo foram coletados entre os anos de 2010 e 2015, período em que foram mortos 773 morcegos, de 47 espécies diferentes – número que representa 40% das espécies conhecidas de morcegos na Mata Atlântica e o maior conjunto de espécies de morcegos mortos em uma rodovia já encontrado em todo o mundo. Os insetívoros (25 espécies) formam a maioria dos atropelados (74%) e aqueles que voavam em áreas abertas foram os mais frequentemente atropelados (41,9%).
Experiente pesquisador da biodiversidade da região e outro autor do artigo, o professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Áureo Banhos ressalta que os morcegos insetívoros fazem um importante controle de pragas da agricultura. Já os nectarívoros realizam a polinização das lavouras e os frugívoros dispersam sementes. Todos eles desempenham um papel ecológico de grande relevância, colaborando especialmente com a manutenção da biodiversidade e com uma maior produtividade agrícola.
A matéria na íntegra pode ser lida no Século Diário
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