13/11/2018
Berçários para muitas espécies da fauna, que ali realizam a desova, os manguezais são responsáveis pelo sustento da maioria da força de trabalho dedicada à pesca ao redor do mundo. Sua presença em áreas costeiras tem papel importante na proteção contra a ação de ondas e marés. Apesar de sua importância econômica e ecológica, os manguezais são ambientes altamente ameaçados. Um dos principais riscos que essas áreas correm é o da contaminação por petróleo. No Laboratório de Genética e Biotecnologia Vegetal do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IB/UFRJ), o biólogo geneticista Marcio Alves-Ferreira vem se dedicando a estudos que podem, no futuro, gerar um kit diagnóstico para o monitoramento das áreas costeiras ameaçadas por derramamento de óleo.
Em alguns dos experimentos realizados no laboratório, o pesquisador constatou que quando a Laguncularia racemosa (mangue branco), uma das principais espécies de árvore que compõem os manguezais, é exposta ao petróleo, sofre um processo de impermeabilização, resultando na hipóxia, ou seja, incapacidade da planta de realizar as trocas gasosas, em receber oxigênio, o que decorre em grandes problemas metabólicos. Outro impacto decorrente da impermeabilização é causado pelo estresse ao calor, pois, como as trocas gasosas são reduzidas, a planta não consegue baixar sua temperatura, o que prejudica a produção de enzimas e proteínas, levando a espécie a expressar genes que respondem ao calor. “Ao observarmos essas respostas, concluímos que essas plantas não têm a capacidade evolutiva para lidar com o petróleo, já que esse evento não faz parte do histórico de estresse a que geralmente estão submetidas, como inundações, salinidade e alta luminosidade”, explica Alves-Ferreira. Outro resultado, secundário, da pesquisa foi a caracterização dos genes expressos em L. racemosa que podem ser utilizados no melhoramento genético de cultivos, como o arroz, para a resistência ao estresse salino. O estudo foi publicado no periódico Aquatic Toxicology, do grupo Elsevier, no mês de setembro.
Fruto de oito anos de investigação, o trabalho contou com incentivo e a parceria de pesquisadores do Instituto de Microbiologia da UFRJ, que já estudavam os impactos do óleo sobre os micro-organismos e também a biorremediação (recuperação com utilização de micro-organismos) das áreas de manguezais afetadas. Outra motivação para a sua realização foi o ineditismo do trabalho. “Achava que havia muito estudo sobre o tema, mas quando comecei a pesquisar constatei que não havia quase nada, apenas um único estudo, mesmo assim, que avaliava o impacto de apenas um dos componentes do petróleo”, conta Alves-Ferreira.
A escolha da espécie a ser estudada – Laguncularia racemosa – partiu da constatação de quão o mangue branco está presente nos manguezais do País. Na literatura pesquisada sobre a frequência dessa espécie constam apenas dois estudos no Brasil (no Espírito Santo e na Bahia), demonstrando que ela representa de 30% a 40% da área total de manguezal avaliada. Em outros países, como a Costa Rica, o mangue branco pode chegar a 80% do total de espécies que compõem o manguezal. Uma das motivações para a realização do trabalho, explica o pesquisador, é a extrema importância dos manguezais para a produção da vida marinha. “Eles servem de berçários para muitas espécies da fauna, que ali realizam a desova, especialmente peixes da região costeira e até de alto mar, como por exemplo, a anchova.” Outra função importante, segundo o biólogo, é a proteção que esta vegetação exerce sobre áreas costeiras, que sofrem impacto de ondas e marés, pois em locais onde o manguezal foi destruído, o mar altera sua capacidade, começa a invadir áreas adicionais, modifica o transporte de sedimentos.
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