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Capacidade da Amazônia de remover gás carbono se reduziu em 30% desde 1990, alertam cientistas

14/09/2021

A preservação da Amazônia é importante para conter a emissão de gases do efeito estufa. Suas árvores não apenas guardam carbono (daí a importância em evitar desmatamento) como removem CO2 do ar. A capacidade de cumprir essa segunda função, porém, está perdendo força com o próprio aquecimento global, mostram estudos recentes. Por causa disso, os diplomatas que negociam o acordo do clima trabalham agora com um cenário otimista demais para a floresta, enquanto o IPCC (painel de cientitas da ONU) busca atualizar os dados.
É normal que o IPCC esteja um pouco defasado em relação à ciência de ponta sobre o assunto, porque é um fórum que avança pelo debate. É preciso tempo para discutir as pesquisas. Esse descompasso com as observações na Amazônia, que pode ser corrigido até o ano que vem, afeta uma ferramenta essencial do painel: as previsões dos modelos matemáticos do clima.
Com base no clima do passado, essas simulações tentam prever o que vai acontecer com o clima do futuro. No caso específico das florestas tropicais, como as árvores se alimentam essencialmente do carbono que está no ar, a maioria dos modelos indicava que a vegetação da Amazônia iria crescer mais rápido. A última década de observações, porém, indica ela está crescendo mais devagar.
Uma dupla de cientistas que analisou a literatura científica recente sobre o tema afirma que isso coloca uma grande incerteza sobre o papel futuro da floresta. Segundo os ecólogos David Lapola, da Unicamp, e Anja Rammig, da Universidade Técnica da Munique, a dimensão do problema não é pequena.
"As florestas tropicais intactas representam cerca de metade do sumidouro de carbono terrestre global, absorvendo cerca de 15%, das emissões antropogênicas de carbono anualmente", escrevem os cientistas, em artigo na revista Nature Climate Change. "Esse sumidouro de carbono, porém está perdendo sua força, tendo se reduzido em cerca de 30% desde 1990, como mostra o monitoramento de longo prazo da floresta."
Os dados que mostram essa desaceleração saem principalmente do projeto Rainfor, uma colaboração internacional com mais de 200 cientistas em equipes de campo que mapeiam o crescimento e morte de árvores no Brasil e em outros países amazônicos.
Lapola explica que que os mesmos modelos que falharam em prever as observações do Rainfor são aqueles que estão agora sendo usados para prever o futuro do clima global, o que é um problema. Cientistas já estão trabalhando para atualizá-los, mas ainda é necessário algum tempo.
— Os modelos sempre são uma representação simplificada da realidade do sistema climático, porque é impossível representar tudo ali. Sempre vai ter buracos, e os cientistas trabalham para cobri-los. Antes, não existia esse conhecimento sobre a observação do sumidouro, mas agora ele existe, e precisa ser coberto pelos modelos — diz Lapola.
Para o Brasil, a discussão de absorção de carbono na Amazônia não é apenas um exercício acadêmico. Ela pode interferir diretamente na maneira com que o país reporta suas emissões e no valor da floresta preservada como ativo negociável no acordo do clima.
O Inventário Brasileiro de Emissões de Gases do Efeito Estufa, documento oficial de governo, subtrai da conta do CO2 produzido pelo país a quantidade desse gás que é capturada pelas árvores em unidades de conservação e terras indígenas. Se essa mata preservada não está conseguindo absorver carbono na mesma velocidade, isso vai ter que se refletir nos cálculos de emissão em algum momento.
Jean Ometto, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), explica que o IPCC redige um guia orientando os governos sobre como devem produzir seus inventários. Esse documento é atualizado periodicamente.
— É natural que os países incorporem aos seus inventários novas metodologias conforme elas vão sendo desenvolvidas — afirma o cientista, que é integrante do grupo de trabalho 2 do IPCC, responsável por avaliar os impactos da mudança climática e as necessidades de adaptação.
— Todas as observações mais recentes sobre o equilíbrio no fluxo de carbono vão ser consideradas no novo relatório do Grupo de Trabalho 2, que está em fase final de elaboração e entrará em fase de revisão para ser lançado no início do ano que vem — diz Ometto.
O trabalho do IPCC é importante, entre outros motivos, porque é aquilo que pauta as negociações de redução de emissões entre os países. Como o transtorno causado pela pandemia atrasou a divulgação do relatório do grupo 2, porém, não sobrou tempo para esse problema entrar oficialmente na pauta da próxima conferência do clima, a COP-26, que ocorre em novembro na Escócia.
A ciência, contudo, converge para o fato de que a Amazônia preservada está absorvendo carbono mais devagar, e isso aumenta ainda mais a pressão para que o Brasil reduza as taxas de desmatamento, que superaram os 10 mil km² por ano sob o governo Bolsonaro.
Os programas de REDD (redução de emissões por desmatamento e degradação), em que países são compensados por preservar floresta, também ainda não levam em conta os novos dados de balanço de carbono na Amazônia. — Isso é assunto proibido para eles — diz Lapola, da Unicamp.
Um estudo recente liderado pela cientista Luciana Gatti, do Inpe, mostra que, aliado ao desmatamento, a redução de absorção de carbono pela floresta que sobrevive já faz com que uma parte da floresta se torne mais problema do que solução para o clima. Em artigo na revista Nature em maio, a cientista e seus coautores mostraram que isso já é verdade, ao menos no quadrante sudeste da Amazônia, onde há mais desmatamento. Nos outros três (sudoeste, noroeste e nordeste), a floresta ainda absorve mais carbono do que libera.
Se está claro que o comportamento do sumidouro de CO2 da floresta não está seguindo a previsão dos modelos, porém, ainda não há dados suficientes para aprimorar os modelos.
Ometto explica que levantamentos como o do Rainfor são importantes, mas possuem imprecisões e limitações inerentes às áreas de coleta. E os modelos atuais, mesmo com suas limitações, já dão alguma pista de o que pode estar acontecendo.
— Os modelos preveem alterações climáticas distintas entre a Amazônia e as florestas tropicais úmidas da África. Por essas previsões, a Amazônia terá um clima mais seco no futuro, impactando severamente a floresta, e nessa parte da África deve haver um aumento de precipitação — diz Ometto. — O fato do fluxo de carbono não estar bem representado, pode indicar que a Amazônia poderia sofrer ainda mais com as secas mais prolongadas.
Para prever o crescimento das árvores diante da mudança climática, alguns cientistas defendem de fazer experimentos de "fertilização de carbono", em que bombeiam CO2 em uma área de floresta para observar como as plantas reage ao longo do tempo. Esses experimentos, porém, ainda são muito limitados na Amazônia, feitos apenas com árvores pequenas.
Há dez anos, Lapola, lidera o projeto Amazon FACE, um experimento de grande escala proposto em num lote de floresta do Inpa (Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia), perto de Manaus. A crise de financiamento da ciência brasileira comprometeu o financiamento do projeto, porém, que ainda negocia patrocínio.
O experimento completo seria uma contribuição para ajustar modelos no futuro, diz o cientista. E dada a aceleração da mudança climática, o ideal seria que pudesse realizado o quanto antes, independentemente de a resposta a sair dali ser boa ou má notícia.

Fonte: O Globo

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